quarta-feira, 30 de novembro de 2011

É A ISSO QUE CHAMO CURA

Pensar que a vida é morte
pensar que a vida é loucura
logo, logo percebemos
tal ideia é uma tortura:
encontramos no caminho
uma fonte de água pura


A tortura não tem fundo
é vulcão de desatino
nos joga a sós num trilho
no alto de um monte fino
revira e nos traz os medos
lá do tempo de menino


Mas há uma solução
para vencer o pavor
canalizar a loucura
para o túnel do amor
mergulhar no sentimento
viver a sublime cor



Viver não é dar vazão
a um pavilhão de loucura
mas sim estar vigilante
tratá-la de forma dura
observá-la de longe...
é a isso que chamo cura.


Adaécio Lopes

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O medo e as invasões bárbaras

Pessoas, pedaços de medo a trafegar pela rua.

Tripulantes, navegadores de invasões bárbaras.

Com o óculos do bem vemos tudo cor-de-rosa.

Disso entendem os ocultos.

Controlando a força, 


O sábio segue leve, como um samurai.

Adaécio Lopes

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O MEDO

O medo é como uma onda
que nos invade.
Transfigurando os rostos,
redirecionando a cena 

atravez de pinceladas 
macabras de maldade.

Adaécio Lopes

terça-feira, 22 de novembro de 2011

HOMEM ... PEDAÇO DE TEMPO

O tempo que escraviza
Que nem sempre foi assim
Esse peso desmedido
Do mundo em cima de mim


Homem ... pedaço de tempo
Com medo sempre do fim
Se ocupando com coisas
Que nem sempre tá afim


Todos, todos, operários
Na construção desse troço
Sinceramente, te digo
Eu já não sei mais se posso


Adaécio Lopes

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ponto de passagem

Tem um lugar que às vezes
Parece algo encantado
Com seus paredões de pedra
Olhando-se lada a lado


Aquele fio de carros
Sob o risco de pedra por onde os viventes passam
O trafegar desses seres...
O que será que eles caçam?



Dias Lopes
15:56

Viajando nos mundos da paisagem

Raios resequidos
Em busca do céu
Fractal secreto
Que serve ao instante


Broto selvagem
Do ceio da Terra
Cursos sinuosos
Riscos avante


Ao longo da estrada
Mágicas árvores
Tótens arbóreos
Túnel guiante



Dias Lopes
15:52

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Encontro com Augusto dos Anjos em uma praça em João Pessoa

Tu Augusto, nessa praça
A contemplar o imundo
Escutando essas notícias
Do que ocorre no mundo


Tu, Augusto de pedra
De fronte a pedras com gente
Medita na água turva
Que há no mundo doente


Enclausurado em penumbra
Percebe os ecos de dor
Vendo a nudez da noite
Desperdiçar seu sabor


Está condenado a ver
Todo dia o movimento
Circulante e automático
Dos operários do tempo


Para o Anjo visionário
Todo esse sofrimento
Demonstra ser este mundo
Uma canção de lamento


Sofrer irremediável
Apodrecer aos segundos
Instantes de agonia
Que logo separam mundos
Num paralelo sombrio
De longos vales profundos


Adaécio Lopes

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

UM DOS CAPÍTULOS DO VELHO EMBATE DA REPRESSÃO CONTRA AS LIBERDADES INDIVIDUAIS: A CRIMINALIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS COMO FORMA DE DESQUALIFICAÇÃO DE PRÁTICAS E GRUPOS SOCIAIS

Mais uma vez se utiliza a questão do uso da maconha como forma de desqualificar a discussão de um importante tema. Inclusive, historicamente, esse foi o mecanismo que levou à criminalização desta erva (como buscaremos colocar no próximo texto): a segregação das minorias. Até porque a humanidade sempre usou e usará substâncias para alterar a consciência. Inclusive hoje o número de pessoas que usam psicotrópicos é alarmante, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a diferença é que estas pessoas os compram na farmácia.

Para posicionar-se contra o desmatamento do planeta obrigatoriamente se tem que ser uma árvore? Muitos dos estudantes envolvidos nas manifestações da USP não são usuários de maconha. A questão levantada pelos estudantes vai muito além do que defender que se possa fumar maconha no campus daquela universidade. Pensar desta forma só mostra o quão reacionária, tacanha e medíocre é a mídia brasileira, assim como o pensamento de grande parcela da dita intelectualidade deste país.

O que é mais importante, viver ou estar vivo? Esta é a principal temática que está sendo puxada pelos estudantes na USP nas entrelinhas deste embate que empreenderam, questionando dentre outras coisas, a sociedade do controle.


Os estudantes defendem, sim, que a universidade continue como um mínimo espaço de liberdade, criatividade e práticas genuínas, que embora sejam cada vez mais raras, ainda estão presentes nos espaços acadêmicos. Ou seja, são contra a permanência da polícia militar no campus por entenderem, assim como este que vos escreve, que polícia não combina com o ambiente educacional. Um ambiente que ainda possui as características elencadas acima não tem como conviver com uma instituição que entende a resolução de situações recorrendo ao uso da força. Isso é claro, ou pelo menos o deveria ser. Historicamente a polícia enquanto instituição é preconceituosa, caricaturizante, doutrinadora e reacionária. Alguns profissionais da polícia podem destoar um pouco deste comportamento, mas não conseguem se desvencilhar por completo disso, justamente porque tal acepção é da natureza do aparato policial, uma linha de conduta que permeia a prática.

A polícia como Aparelho de Estado está a serviço do controle, vendo em tudo que é mobilização que representa a diversidade sinais de subversão, inclusive em manifestações culturais e artísticas. Talvez por este motivo estudantes, jovens e artistas em geral não se relacionam muito bem com este seguimento.

A polícia, por mais que se fale da mudança que ocorreu durante os últimos anos, ainda trabalha com aquela velha concepção que permeava a ciência penal em tempos idos, lançada por Lombroso, segundo a qual, por exemplo, a aparência física e a anatomia eram indícios seguros acerca do comportamento dos indivíduos. Acho que todos nós conhecemos histórias ou temos conhecidos que foram espancadas, humilhados ou até mortos por policiais por se vestirem ou andarem de forma diferente, possuir uma determinada cor de pele ou manifestar uma atitude tida como suspeita.

Então como combater a violência, falando especificamente, por exemplo, do caso da USP e demais universidades espelhadas pelo país? É, realmente algo precisa ser feito, mas não no sentido do que se está dando como solução. E nesse sentido, diria que essa violência gratuita é reflexo desta sociedade que construímos para viver. Mas não sejamos também ingênuos e utópicos demais, a violência sempre existiu e existirá, ela faz parte do humano que nos constitui. Afinal não aprendemos desde cedo que um certo Caim matou seu próprio irmão Abel?

Uma questão crucial a ser colocada é que, inclusive do ponto de vista lógico, a violência não será exterminada do mundo – supondo que tivéssemos como fazê-lo – a golpes de violência. Praticamente todos os dias policiais e forças armadas matam pessoas no Brasil e no mundo em defesa de uma suposta segurança. É a velha história da guerra pela paz, que convenhamos não se sustenta mais.

E voltando à temática das substâncias, a questão não é defender o seu uso indiscriminado, mas colocar a coisa em pratos limpos.

O argumento de que a descriminalização da maconha causaria um colapso social pelo uso indiscriminado não se sustenta, como estudos recentes realizados em países que adotaram uma postura descriminalizante podem comprovar. Inclusive tais estudos mostram que a legalização da maconha em muitos casos reduziu o uso de substancias mais nocivas.


É fácil perceber – inclusive será colocado num texto posterior – que a problemática acerca da maconha está relacionada a questões econômicas e principalmente ideológicas, sociais e étnicas. A maconha foi sempre, historicamente, uma droga de minorias, o que contribuiu para sua criminalização. Diferentemente do álcool, do tabaco e outras drogas que sempre circularam nos ambientes da alta burguesia.

Como indício de que esta história da criminalização das drogas é guiada por um componente econômico, basta lembrar que, historicamente, as drogas, no Ocidente, oscilaram entre períodos de legalização e proibição devido a manobras mercantilistas e capitalistas. E nesse exato momento estamos vivendo algo semelhante aqui no Brasil. A FIFA, órgão que está à frente da organização da Copa do Mundo de Futebol, que em 2014 será no Brasil, quer mandar para as cucuias o fato de o álcool ser uma droga proibida em partidas de futebol no nosso país, em troca dos sacos de dinheiro que ganhará com os patrocínios das multinacionais do mundo do álcool. Está vendo como o bem, a saúde humana e a suposta violência ligada ao uso de substâncias rapidamente sai de cena quando entram os interesses econômicos, mostrando como na verdade estes nunca foram realmente importantes?

A criminalização da maconha mesmo se tendo muitos estudos científicos reveladores acerca dos danos e reais efeitos desta droga mostra que muitas vezes as verdades científicas só são pontos decisivos em um embate quando são favoráveis aqueles que estão com as rédeas da contenda. E isso vale para todos os temas e embates intelectuais e ideológicos de que se tem notícia – inclusive isso foi aprofundado pelo autor que assina este texto em um trabalho acadêmico recente. Quando as evidencias científicas não favorecem ao que se quer defender, elas muitas vezes são cuidadosamente esquecidas e jogadas para debaixo do tapete.

Encerro com parte de uma música que figurou na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano, composta por um pensador imortalizado, principalmente, pelas minorias de todo o mundo, chamado Robert Nesta Marley:

Until the philosophy / Até que a filosofia

which holds one race superior / que considera uma raça inferior

And another inferior / E outra inferior

Is finally and permanently / Esteja finalmente e permanentemente

discredited and abandoned / desacreditada e abandonada

Everywhere is war [...] / Por toda parte haverá guerra [...]


Adaécio Lopes

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

EM FRENTE AO ESPELHO

Em frente ao espelho
Olha para o mundo
Vendo que perdeu
A imagem de si

Qual pião no vácuo
Procura o rosto
Pro lado e pro outro
E dentro também

Como uma lanterna
Corre atrás da luz
De uma palavra
Que – talvez – reluz

Vê os movimentos
Medita na dor
Fica retraído
Contempla o pavor

Não quer adentrar
Ao rol dos conceitos
Onde cada casa
Tem número certo

Pensa como pode
Pensar sobre si
Quem entortou o verbo
Para ir e vir?

Se isto quem fala
Não é esse aqui,
Pra onde vai
Quando se extinguir?

Um diz: são palavras
Se unindo a sós.
Mas qual palavra
Começou os nós?

Pensa agora ali
Um pensar profundo
Sobre a costura
De si com o mundo

Como eu consigo
Me enganar sozinho,
Achando que crio
Esse meu caminho?

- Isso não sou eu
- Esqueça-se disto
Joga no baú
O “penso, logo existo”


Adaécio Lopes

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Canção contra a morte

Quando a gente é pequeno
Não vive tanto o morrer
Embora que algumas vezes
Estale para o sofrer
Quase sempre sente apenas
“Algo” desaparecer.

Mas quando a gente é grande
Aí a coisa piora,
Porque não somos só um
Somos todos toda hora,
E quando morre um de nós
Parte nossa vai embora.

A sociabilidade
Nos torna agora uma rede
Trocamos informações
Sempre que sentimos sede
E guardamos os segredos
Nos buracos da parede.

Tal parede é a memória
Que possui todo vivente
Lugar que o pombo correio
Pára sempre em voo urgente
Nos trazendo informações
De algum irmão da gente

Quem morre leva consigo
Toda essa informação
Desaparece no tempo
Mas nos deixa a sensação
Que a gente nunca morre
Pois a vida foi canção

Canção que penetra a alma
E traz vida a todo instante
Basta que alguém relembre
As proezas do cantante
Nessa hora a cavidade
Se torna tubo vibrante

Dias Lopes