quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Tudo é maravilhoso 

Mas, nem tudo é maravilha

Pois por vezes o apego

Faz daquilo uma ilha

O que seria transformação

Passa sim a ser só pilha. 


Adaécio Lopes

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O humano modifica

Alterando em tamanho 

Como se com esse feito 

Por um balbucio estranho 

Reescrevesse o universo

Negasse o grande emaranho. 


Adaécio Lopes

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Jerimum Na Quenga


 

O ENFRENTAMENTO DO NIILISMO E/OU O SEU DUPLO


Muitos insistem em dizer que Nietzsche era niilista, fomentador ou defensor do niilismo etc. Não sei se de fato acham isso ou se criaram e criam essa imagem do pensador por conveniência etc. Carl Jaspers, por exemplo, é conhecido e seguido por sua tese de que no pensamento de Nietzsche não há espaço para a transcendência, algo que definitivamente não se sustenta. 


Não se sustenta porque toda a desfilosofia de Nietzsche é busca por transcendência. Acontece que o poeta da Gaia Ciência considera, em alguma medida como o fez Aristóteles - embora de maneira mais plástica, artística e performática do que aquele grego - que buscar a transcendência sem considerar o terreno, o humano, é algo descabido, ao beber em ambientes aquáticos floridos e outros lugares e monumentos antigos. 


Esse desvirtuamento é que é, para ele, o niilismo, contra o qual - inclusive citando esse termo - se opõe. O principal erro de Nietzsche, por assim dizer, foi querer vencer Platão, já que o próprio Platão deixou as pistas que mostram que seu sistema é falho (no sentido de ser algo que se sustente sem se relacionar com nada). Platão é muito mais risonho do que geralmente se o considera. Assim, se Nietzsche não fosse tão atormentado, e com tantos fantasmas a enfrentar, é possível que tivesse percebido - talvez ele o tenha feito, mas optado por criar uma imagem como oponente para atacar (afinal, como se pode ver, isso é mais comum do que se percebe ou se considera) - que o Platão "real", e não aquele que fora criado por comentadores, pensa algo semelhante ao que ele pensa, ou melhor dizendo, sorri para algo que ele defende em meio à tormenta. 


Os que atacam Nietzsche por meio daquela pecha niilista, com base naquele entendimento, aproveitam o trampolim para atacar o que se convencionou chamar de pós-modernidade. Acontece que a pós-modernidade, a meu ver (e exponho algo nesse sentido no mestrado e no doutorado), é - ou pelo menos uma parte substancial do pensamento pós-moderno -, uma busca por mostrar que a revivescencia do pensamento grego antigo não alcançou aquilo que ele tinha de mais importante, mas ficou apenas na sua sistemática, ou seja, nas suas camadas mais externas, por assim dizer, que encena que a racionalidade tinha uma base racional, algo que os acadêmicos e frequentadores de templos e cultos gregos sabiam que não se sustentava.

terça-feira, 27 de julho de 2021


 

Que nós só precisamos de investimento, todos já sabem. Ontem foi prata com a maranhense Rayssa Leal, hoje ouro com o potiguar Ítalo Ferreira. Dois esportes parecidos, irmãos. Assim como o futebol (onde a maioria dos maiores destaques do país ainda vêm de morros, favelas e rincões) são esportes que para iniciar não é preciso tantos equipamentos e investimentos pesados. Isso mais uma vez mostra a força do nordeste, do Brasil real.

Cebola de apartamento


 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

CIÊNCIA, VOLTA ÀS AULAS E INSTITUIÇÕES

Veja como as situações envolvendo ciências, instituições e pessoas (instâncias que estão intimamente relacionadas já que as ciências, instituições e desdobramentos que com elas têm relação são atividades realizadas por pessoas) são complexas, e nunca uma questão apenas de se considerar ciência-como-uma-entidade-em-separado-isolada-e-verdadeira-e-acima-de-críticas:

A ciência epidemiológica diz que as pessoas estarão imunizadas quando transcorridos 14 dias após a 2 dose de vacina (destaque-se que praticamente todas as vacinas por aqui são de duas doses).
Os professores de ciências, e toda a escola, funcionam com base em pressupostos científicos (isso porque até a arte hoje estão querendo que seja científica, mas isso é outro assunto), inclusive ensinam diariamente concepções científicas de mundo.
Mas, para voltar às aulas com professores e funcionários tendo tomado APENAS 1 DOSE, a instituição educacional, que, repito, diz se pautar pela ciência, está sendo contra a ciência, e, no entanto, por si dizer científica (por ter a placa de instituição científica) é como se estivesse fazendo isso em nome da ciência. Que ciência? A ciência dela mesma, instituição! Entende?
Mecanismos como esses acontecem a todo momento dentro da ciência e não podemos dizer que não são a ciência - ou a boa ciência como alguns piedosamente costumam se referir a uma ciência hipotética que na verdade não existe - já que, embora, não sejam condizentes com os pressupostos científicos (pressupostos esses considerados, a priori, como sendo isentos de paixão e ou outros "contaminantes"), são parte forte da ciência e decidem e operam a todo momento para o andamento (ou "desandamento") das coisas.
Quando se diz que esse tipo de mecanismo não é ciência se está impedindo que o se perceba e a sua relação intrínseca, indissociável com a ciência (que, portanto, não se configura em uma entidade em separado).
Pelo visto transformar instinto em instituição não foi um processo que aconteceu com total sucesso, o que já era de se esperar, e alguma reminiscência estará sempre à mostra para quem queira ou, por ventura, possa perceber.
Adaécio Lopes - 12/07/2021

sexta-feira, 4 de junho de 2021

 A DISTORÇÃO DA CIÊNCIA E O ENFRENTAMENTO DA ANTICIÊNCIA: ALGUMAS REFLEXÕES


Gostei muito da fala de Luana Araújo na CPI da Covid. Foi bom ver ela contrapor Girão, Marcos Rogério e Heinze, por exemplo. Algumas coisas que a gente que fica assistindo aquilo tem tanta vontade de dizer ela disse algumas vezes. Mas, essa ciência da qual ela falou, também, em alguma medida, não existe.


Antes de tratar disso vou dizer algo. Estou escrevendo essas linhas confiante que as pessoas tenham discernimento e boa fé com relação ao que será exposto, e peço que, se possível, leiam esse texto por completo. É um exercício de pensamento e não um comentário inconsequente, estou falando com base em uma quantidade considerável de estudos feitos por mim e debates formais e informais dos quais participei. Tampouco é algo para ser usado por quem defende qualquer coisa apenas porque lhe interessa naquele momento, por exemplo. E ainda, vou dizer o óbvio: não  sou anticiência, não sou antivacina (esses dias mesmo tomei a vacina contra a Influenza e espero o mais rápido possível tomar a vacina contra o Sars Covid 19) e não acredito na eficácia de remédios que a cada dia está mais comprovado que não funcionam, embora tenha noção do que o capitalismo aliado à tecnocracia (inclusive científica) são capazes de fazer. Sou professor de física há vinte anos, diga-se ainda, de passagem. 


A noção de que a ciência não tem lado (no sentido de ser algo totalmente apolítica, livre de conotações simbólicas etc.), de que é apenas uma questão de método, de que é uma atividade segundo a qual se busca encontrar algo que não se está procurando (e que essa seria a "boa ciência", como foi dito por Luana) é um entendimento que não se sustenta quando é analisado de forma mais detida. Acreditar nessas premissas é também estar em uma bolha que não corresponde à realidade. Agora, veja, isso que acabo de falar não deve e não pode ser utilizado como argumento para um discurso anticientífico, ou qualquer discurso estapafúrdio nesse sentido! Não é porque a ciência não corresponde a uma noção ideal que se tem dela que se deve acreditar em qualquer coisa e que isso é a mesma coisa que fazer ciência. Tampouco o fato de que alguém inadivertidamente ou por qualquer motivo espúrio possa usar o que eu estou dizendo de forma diferente do que foi dito deve ser motivo para que eu evite falar. Não podemos nos calar e devemos buscar mais do que nunca o discernimento, desfazer incompreensões e buscar a clareza, em especial, por esses tempos.


O que estou pontuando é que não há essa atividade monolítica chamada ciência, que as pessoas muitas vezes acreditam e até defendem com unhas e dentes como se existisse só porque querem que assim o seja - muitos estudiosos evidenciam isso que estou dizendo agora. Assim, a ciência, ou seja, a atividade científica, seus métodos e os acontecimentos que a envolvem são bem mais complexos do que esse "ABC e América" que a gente está vivenciando agora ajuda a impedir que se perceba. 


"E então, como combater o discurso anticiência sem recair em algo assim, que você está falando?", poderia perguntar alguém. Com educação científica crítica! Mostrando a ciência como a atividade humana que ela é. Inclusive, nos espaços educacionais, também discutindo ciência ao invés de apenas transmitir informações sobre leis, conceitos e teorias. Uns dos problemas é que queremos resolver as coisas por decreto, como diria o poeta, e a ciência é justamente o lugar onde isso não pode ou não deveria existir - e o fato de tal entendimento ser parte da ciência é uma evidência da relação desta com outros conhecimentos e impulsos humanos. Ciência deve ser o "território" por excelência da dialogicidade.  "E como dialogar com quem não está disposto ao diálogo?" Pois é, o paradoxo sempre dá o ar da sua graça, não tem jeito. E sobre isso direi o seguinte: quem muito busca o fake em algum momento se mostrará por completo como sendo um fake. Embora, apenas esperar que isso aconteça nem sempre é o mais correto a ser feito, pelo estrago que ações com base naqueles pressupostos podem causar. Devemos continuar  no caminho do esclarecimento, não tem muito outra coisa a ser feita. 


Seguindo no que vinha dizendo. Sempre existiram e, muito provavelmente, no mínimo, irão existir ainda por um bom tempo, teorias estranhas, com métodos e práticas controversas e cientistas com atitudes duvidosas na ciência, como o há na vida. A ciência não é feita em um meio de cultura fora desse mundo, mesmo que pessoas, manuais e alguns livros por vezes insistam nisso. Não devemos negar a existência de tais estranhezas, por assim dizer, devemos ao contrário ir ao encontro delas (ou seja, já que existem não devemos fingir que não existem, é isso que estou dizendo) para com elas dialogar e buscar combate-las, como, inclusive, Luana fez muito bem em suas colocações - exceto quando se deteve no ponto sobre o qual se está comentando neste escrito. 


Será que é algo frutífero e interessante criar uma noção ideal e distorcida da ciência para enfrentar partidários da anticiência? Deixo essa questão para que a prescrutemos. Venho tentando evidenciar em exposições que tenho feito nos últimos anos que isso pode ajudar do ponto de vista prático, mas, que não é algo tão relevante e interessante em um contexto mais amplo, por ser algo problemático pela evidente distorção que enseja, por assim dizer. Algo ainda mais problemático, e que não deixarei obviamente de chamar a atenção para isso aqui, é quando o movimento anticiência distorce a ciência para benificio próprio. Em resumo: há um embate do qual não podemos nos furtar ou procurar maneiras abreviadas e distorcidas visando resolvê-lo em definitivo!


Sempre que ignoramos algo isso é um tipo de descuido que nos leva a ter problemas, porque nada garante que aquilo acabará apenas por ignorarmos, na verdade, muitas vezes ou quase sempre aquilo tende a ganhar corpo, com doses desmedidas de pulsões nada auspiciosas. Quase sempre estamos em busca de um lugar seguro onde nada nos perturbe e tudo esteja resolvido. É uma característica humana, mas, perceber que sempre nos deparamos com contrariedades pode ser uma dica para que comecemos a nos deligar dessa noção e necessidade, ou pelo menos ir arejando as coisas. Luana, embora indiscutivelmente apresente muita competência, firmeza e capacidades, ainda busca algo nesse sentido, ou seja, algo para se apegar. Isso fica muito claro ao visualizar sua exposição - vale lembrar, inclusive, que ela foi uma ferverosa defensora de movimentos políticos que foram desmascarados recentemente no país. 


Educação científica, ou educação em ciência, não é defender a ciência a ponto de distorce-la, pintando dela uma imagem que não corresponde à realidade, é discutir ciência, estando preparado para a mancha que pode cair na roupa a qualquer momento, como disse Bandeira naquele conhecido poema, sem desanimar, sem deixar que as contrariedades nos arrastem consigo, ou que o abismo nos invada, como diria outro poeta e pensador, e também sem fingir que a diferença não existe - porque a gente acha bonitinho falar de diferença quando é uma diferença que a gente já conhece né, que nem diferença é mais, mas, quando é uma diferença realmente diferente, a gente, as vezes ou quase sempre, não sabe muito como proceder e acaba criando subterfugios ou agindo de maneira bem diferente do que tínhamos em mente etc. Como diria o sábio de Eféso e muitos que o antecederam e que viveram por aquele tempo e lugar, como também em outros lugares e em tempos mais recentes: tudo vibra, tudo muda, há sempre movimento em tudo. 


* Francisco Adaécio Dias Lopes é mestre em ensino de ciências naturais e matemática e doutor em educação.