quinta-feira, 28 de maio de 2020

CIÊNCIA, CLOROQUINA, CIENTIFICISMO E CRENDICES

Uma pessoa mostra uma matéria em que um paciente ficou curado com o uso de cloroquina. Cara, se alguém fizer uma pesquisa com um grupo de pessoas administrando a elas fezes, por exemplo, - não se espante com a possibilidade disso, tem gente que foi chamado de bosta e ainda defende quem o assim chamou (!) e mais, tem gente se autointitulando como hemorroidas (! ao quadrado) - e fizer a correlação disso com uma doença qualquer, verá que algumas dessas pessoas podem provavelmente apresentar alguma melhora em sintomas e quiçá até se demonstrar curadas da enfermidade que as acomete. Isso porque os meandros da cura por vezes são insondáveis, e mais, a correlação entre as variáveis utilizadas em uma analise de dados nem sempre são evidentes, bem feitas, bem tratadas ou dadas (desculpe o trocadilho, rs) nem são a totalidade de vaiáveis possíveis. É por isso que alguma crítica à ciência é sempre válida e salutar.

A cloroquina é um medicamento com alto poder de ação, obviamente pode curar alguém, mas esse número nem é tão alto e, em especial, é uma droga muito pesada para ser administrada em pacientes que estão longe de estar em estado terminal. Esse caso da cloroquina é inclusive muito bom para se entender um pouco - para aqueles que desconhecem por motivos quaisquer as discussões da história da ciência, da filosofia da ciência e da sociologia da ciência ou alguma nesse sentido - como se dá a relação entre politica e ciência, ideologia e ciência, crendice e ciência, charlatanismo e ciência, tudo isso junto e etc. não esqueçamos que esse é um medicamento produzido pela tecnociência farmacológica moderna!

O que dá notória credibilidade à ciência numa questão como essa e em muitas outras é que ela trabalha com probabilidade, espaço amostral, está circunscrita a uma gama de variáveis relevantes e a um contexto mais geral e não a casos particulares. Isso não quer dizer que a ciência lide com ou tenha acesso à verdade última sobre as coisas (seja lá o que ela seja, por assim dizer) - quem defende tal cientificismo está incorrendo no mínimo em exagero, ou por não ter consciência disso ou por estar carregando nas tintas por motivações que podem ser as mais diversas (e isso inclusive engrossa o caldo dos descontentes que insistem em chafurdantemente misturar as coisas) - mas que no mundo que vivemos ela é uma ferramenta apropriada para entender e possibilitar a ação em muitas situações. Vale lembrar que nem todos que não conseguem ou não querem olhar para o espelho são iguais!

Adaécio Lopes

Nenhum comentário:

Postar um comentário