sexta-feira, 18 de setembro de 2020

 TRANSFORMAR TOTALIDADE EM TOTALITARISMO É UM VÍRUS MODERNO, NÃO PÓS-MODERNO!

Os estudos pós-modernos buscam justamente chamar a atenção para uma crítica nesse sentido - há uma pós-modernidade chamada de celebrativa ou acrítica mas não é esse o ponto aqui, até porque são dissidências e ramificações que não dão conta nem podem ser representativos da pós-modernidade no tocante o seu surgimento e o que representa em linhas mais gerais (diga-se de passagem que por vezes críticos da pós-modernidade, por não entender ou por desconsiderar seus pressupostos, contribuem para o entendimento desta como isso, como niilismo ou algum nada como nada). A razão e a ciência tidos apenas, ou em grande medida, como instrumentos, aliado a uma concepção apenas materialista de mundo criou essa devastação que ora se aprofunda. A negação do poético, do simbólico e da plasticidade (por assim dizer) da existência está presente inclusive em nichos que criticam a parafernália capitalista - a ternura por vezes é ainda muito pouca nesses ambientes. Isso porque as suas análises e práticas estão circunscritas aos mesmos pressupostos modernos: materialismo, mecanicismo e lógica excludente (lógica do terceiro excluído). A pós-modernidade sinaliza para algo que já estava em alguma medida presente em obras e tratados pré-modernos e que continuou, embora com menor expressividade, na modernidade. Aliado àquele empreendido por Erasmo, pelo autor de Gargantua e Pantagruel, por Voltaire e David Hume, o pensamento de Nietzsche ao final do século dezenove - dentre outros, como o de Walter Benjamin, em alguma medida - traz avidamente à tona caracterizações e complicações da modernidade. Paralelamente a isso, do fim daquele século para o século vinte acontece o desenvolvimento da física moderna [que eu tenho chamado na verdade de pós-moderna], com seus postulados quânticos de dualidade onda-partícula e da simultaneidade espaço-tempo da nova relatividade. Para as pessoas que acham estranho o uso de palavreados e pressupostos quânticos - as vezes por meio de transposições não tão fidedignas às teorias - para questões da vida e das relações sociais vale lembrar que algo semelhante e até bem mais contundente foi feito com o mecanicismo newtoniano por quase três séculos. Ou seja, as teorias científicas sempre serviram como referencial para entendimentos os mais diversos. No contexto em que estamos isso não deve ser desconsiderado com relação à nova física, percebe-se, ao contrário, ser algo até salutar no sentido de diminuir a rigidez com que se considera a realidade. Ou as teorias sociais e buscas políticas diversas enfrentam e modificam seu apego exacerbado ao materialismo (o que em alguma medida vem sendo feito, mas não colou ou decolou como seria interessante) - o que não foi feito contundentemente por meio da virada linguística nem pela junção do marxismo com a psicanálise - ou continuarão andando nos mesmos círculos de mãos dadas com as forças destrutivas do planeta, mesmo que não o percebam ou se neguem a perceber. O mundo mudou muito rapidamente nós últimos vinte e cinco anos! É preciso uma teoria social que traga liberdade não materialista e que também contemple o ambiente e a materialidade da vida, considerando, portanto, uma nova lógica (ou não tão nova assim, mas meio desconhecida de nossa época). Talvez lembrar da imagem e do entendimento grego da palavra teoria, onde ela foi dita primeiro, ajude nesse sentido.


Adaécio Lopes tem formação em física, educador e artista.
Natal, 18/09/2020.

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