domingo, 30 de agosto de 2020

 A internet e suas redes, dentre muitas coisas que possibilitam, é uma espécie de novo circo de horrores, que tantos descrevem em seus escritos, inclusive Kafka, em "O artista da fome", por exemplo. Abusos de vários tipos envolvendo miséria, fome, ferimentos, uso de pessoas para autopromoção e outros tipos de atrocidades (ou microatrocidades) passando na tela repetidas vezes e em curto intervalo de tempo, o que contribui para uma naturalização daquilo. Em feiras eu tive de ver muita coisa ligada ao horror cênico, por assim dizer, como pessoas que enfiavam vários pregos grandes nas narinas, colocavam dez ou mais tampas de latas de dois quilos na boca, fumavam uma carteira de cigarro ou mais de uma só vez, comiam cacos de vidro (essa foi a coisa mais intrigante que vi, que tenha lembrança, ainda hoje não sei como ele fazia aquilo e não morria, se é que não morreu), tudo em troca de atenção e alguns trocados. Como também pessoas com feridas ou mutilações expostas pedindo esmolas, outras se expondo de diversas maneiras, ou vendendo seus corpos e serviços. Tinha muita coisa boa também, ações belíssimas, como uma vez eu vi um cara sem braços fazer um carrinho de brinquedo perfeito utilizando pregos, latas de flandes e madeira, em pouco tempo, cortando tudo, pregando e pintando utilizando os pés para operar com as ferramentas. A feira agora é virtual e também tem muita coisa boa, diga-se de passagem. A diferença é que na grande maioria das vezes não tem aviso ou informação prévia - cabendo a você, se quiser, ir lá e ver aquele tipo de coisa ou não - aparece instantaneamente, e, o que é bem complicado, por vezes algumas das pessoas envolvidas [diferentemente dos casos exemplificados acima, situações nas quais em alguma medida elas tomavam a decisão de fazer as ações] as vezes nem sabem que aquilo está sendo feito ou se sabem não estão atentas às relações e condicionantes envolvidas.

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