sexta-feira, 21 de agosto de 2020

 Que doença triste e difícil é o alzheimer. Mas, como somos do riso, por vezes ou quase sempre as conversas acabam em muita risada. Minha mãe sempre foi uma pessoa do riso, quem a conhece sabe, e meu pai também, acho que isso foi decisivo para continuarem juntos. Hoje em dia, acometida da doença, o riso foi uma das únicas coisas que não se foi. É muito imprevisto o mecanismo dessa doença. Agora há pouco, após eu ter conversado com meu pai, este falou pra ela, "Chegue Fransquinha, falar com nosso filho. Nisso mamãe numa crise de stress da doença - a coisa dela agora é querer ir embora encontrar a mãe e o pai (que há tempos ja não estão mais aqui) - mandou de lá: "Agora mesmo não, hoje mesmo não vou falar com ninguém não!". Ora, minha mãe que a vida inteira fez tudo que pode por mim, não querer mais nem sequer falar comigo, algo que eu nunca poderia imaginar. Oh doença horrível! Papai continuou, "converse alguma com ele, pra ele ouvir sua voz". Mamãe pegou do telefone: "Diga!". Eu me segurei pra não ri. "Oi mãe, como a senhora está?" "Eu tô aqui dum jeito que não sei o que!" Nisso tanto eu como papai e ela caímos na risada rsrs. Ela ainda ri como sempre, isso é uma alegria. Aí parece que passado os primeiros momentos, a conversa ativa alguma lembrança nela, porque logo em seguida, como de costume, ela muda repentinamente e passa a me chamar de filho normalmente e tenta conversar algo, pergunta como eu estou, por exemplo. O mais são frases desconexas, embora as vezes esboce emoção e algum interesse, por assim dizer. Sempre até o fim da conversa nós rimos mais algumas vezes, eu, ela e meu pai. Isso nos mantém unidos de alguma forma. As vezes ela ri do nada, talvez sendo a maneira de sinalizar algo como uma despedida da mente, que não consegue mais alcançar e vocalizar o que quer dizer.

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