quarta-feira, 29 de julho de 2020

O discurso e o diálogo, surgiram como algo semelhante a um palco, uma apresentação de algo, um ritual. Não traziam a verdade neles mesmos enquanto eram enunciados. Visavam uma transformação tanto dos envolvidos quanto de quem os escutava. Se somos levados apenas pela emoção ou pela necessidade egóica de que alguém concorde com o que estamos dizendo já estamos muito longe desse complexo processo. Isso é em grande medida o que acontece na internet hoje em dia. Todos tem certeza de tudo. Todos tem a verdade sobre qualquer coisa e ai de quem discordar. O segundo momento, até mais importante do que a enunciação do discurso, não tem quase espaço no cenário dessa Ágora cibernética. É tudo muito rápido, não é dado o tempo necessário para aquela ação. Todos lacram, cancelam e pronto, daqui há dois minutos outro tema - muitas vezes bem semelhante ao anterior, mas que não será contemplado com a devida importância e tempo que exigem - para passar pelo mesmo procedimento. O que importa muitas vezes é escrever textos em mídias digitais para ser lidos periodicamente. E ao invés de gerar esclarecimento se está na verdade contribuindo para a confusa engrenagem que se acha está heroicamente demolindo. Seria interessante que em um desses momentos a pessoa estivesse a escutar o cd de Potiguara Bardo - uma das artistas mais fortes de nossa terra potiguar - em especial, quando ela faz menção ao fato de que nós nem sequer existimos, pelo menos não como achamos que existimos, diga-se. Os temas atualmente não são mais apresentados visando uma transformação das mentes, mas para alcançar trend topics, para serem comentados, mas não geram uma transformação efetiva, porque nem da tempo pra isso. Tem que se comentar sim, tem que se expor sim as coisas, mas o processo não termina nisso, a parte mais substancial é parte de um outro processo, que requer mais visão e comprometimento do que este estágio anterior quase sempre demonstra.

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