Um inicio de tarde quente. Um marasmo,
um mormaço. A primeira tarefa árdua do dia, almoçar. Restaurante
Universitário... este continua sempre o mesmo, abarrotado de gente, com aquele
cheiro de comida-ração, afinal é difícil quando se fazer comida para milhares
de pessoas.
Mas em meio aquele calor, o barulho de
sempre e o cheiro de lombo acebolado, algo me chama a atenção. Caricias e
poesia sempre são bem vindos neste mundo. Viam-se as alianças nos dedos
singelos a reluzir, bastante sorriso nos lábios e muita alegria a se envolver. Nesse
instante fui lembrando muita coisa – porque é quase sempre assim que começa um
devaneio poético-filosófico existencial...
A relação entre Cosmos e Caos sempre me
interessou. Haja vista que meu trabalho de conclusão de curso foi O Nous e a Física de Anaxágoras de Clazômenas.
Este pensador pré-socrático entendia que o Nous,
certa inteligência suprema que constituía o mundo, continha tanto a natureza imutável
como aquilo que possibilitava a multiplicidade da existência. Ou seja, eu diria, tanto o Cosmos como o Caos,
a organização e a mudança, o movimento e o repouso. Pensava sobre algumas dessas coisas outro dia quando assistia uma palestra sobre Cosmos e Caos proferida por Pablo Capistrano no IFRN Natal Central.
A mudança sempre resiste, o novo
persiste, flerta com o instante, ri da ortodoxia e é assim que tem que ser, não
existe Cosmos sem Caos, não existe a Paz sem a Guerra! Para citar outro
pré-socrático, Heráclito de Éfeso dizia que “a guerra é mãe e rainha de todas as coisas”, que tudo é uma
constante mudança, daí o elemento primordial, para esse filósofo, ser o fogo!
Não por acaso Heidegger, talvez o maior
filósofo do século XX, retoma Heráclito no fim de sua obra, lançando Heráclito, em 1970. Para o filosofo
alemão, assim como para o francês Sartre, a existência precede a essência, não
podemos fechar nossos olhos para o mundo, e nos refugiar no território
carcomido dos conceitos, temos que buscar o todo, mas pelo real, imergindo no
fluxo temporal, prevalecendo nesse intento o caráter de abertura constante ao
que virá.
E, retomando, em meio àquelas
demonstrações genuínas de afeto poder-se-ia ver o mal-estar dos que estavam ali
mais próximos, um certo desconforto, certa agressividade velada, contida, mal disfarçada.
Mas não existia afronta, apenas naturalmente exerciam o direito de se beijar em
espaço público, com graça, sutiliza e amor (que palavra gasta essa...). Sim, elas se beijaram, na boca (respondo ao amigo
anônimo do lado)!
E aquela parte do RU parou. Não sei se
por medo, respeito, perplexidade ou por compreensão, aceitação do belo! Talvez
uma mistura de tudo isso...