quarta-feira, 6 de março de 2013

O belo, o beijo e o tempo



Um inicio de tarde quente. Um marasmo, um mormaço. A primeira tarefa árdua do dia, almoçar. Restaurante Universitário... este continua sempre o mesmo, abarrotado de gente, com aquele cheiro de comida-ração, afinal é difícil quando se fazer comida para milhares de pessoas.

Mas em meio aquele calor, o barulho de sempre e o cheiro de lombo acebolado, algo me chama a atenção. Caricias e poesia sempre são bem vindos neste mundo. Viam-se as alianças nos dedos singelos a reluzir, bastante sorriso nos lábios e muita alegria a se envolver. Nesse instante fui lembrando muita coisa – porque é quase sempre assim que começa um devaneio poético-filosófico existencial...

A relação entre Cosmos e Caos sempre me interessou. Haja vista que meu trabalho de conclusão de curso foi O Nous e a Física de Anaxágoras de Clazômenas. Este pensador pré-socrático entendia que o Nous, certa inteligência suprema que constituía o mundo, continha tanto a natureza imutável como aquilo que possibilitava a multiplicidade da existência.  Ou seja, eu diria, tanto o Cosmos como o Caos, a organização e a mudança, o movimento e o repouso. Pensava sobre algumas dessas coisas outro dia quando assistia uma palestra sobre Cosmos e Caos proferida por Pablo Capistrano no IFRN Natal Central. 

A mudança sempre resiste, o novo persiste, flerta com o instante, ri da ortodoxia e é assim que tem que ser, não existe Cosmos sem Caos, não existe a Paz sem a Guerra! Para citar outro pré-socrático, Heráclito de Éfeso dizia que “a guerra é mãe e rainha de todas as coisas”, que tudo é uma constante mudança, daí o elemento primordial, para esse filósofo, ser o fogo!

Não por acaso Heidegger, talvez o maior filósofo do século XX, retoma Heráclito no fim de sua obra, lançando Heráclito, em 1970. Para o filosofo alemão, assim como para o francês Sartre, a existência precede a essência, não podemos fechar nossos olhos para o mundo, e nos refugiar no território carcomido dos conceitos, temos que buscar o todo, mas pelo real, imergindo no fluxo temporal, prevalecendo nesse intento o caráter de abertura constante ao que virá.

E, retomando, em meio àquelas demonstrações genuínas de afeto poder-se-ia ver o mal-estar dos que estavam ali mais próximos, um certo desconforto, certa agressividade velada, contida, mal disfarçada. Mas não existia afronta, apenas naturalmente exerciam o direito de se beijar em espaço público, com graça, sutiliza e amor (que palavra gasta essa...). Sim, elas se beijaram, na boca (respondo ao amigo anônimo do lado)!

E aquela parte do RU parou. Não sei se por medo, respeito, perplexidade ou por compreensão, aceitação do belo! Talvez uma mistura de tudo isso...