domingo, 30 de agosto de 2020

Falando com Papai há pouco, vai verso e vem verso, ele me sai com um desse (o velho ainda ta tinindo no repente): 


O xexéu faz o seu ninho

De embira e de capim

Fura-barreira num buraco

Periquito num cupim

A coruja não faz ninho

A natureza é assim!


Álvaro Lopes

 Depois que um foguete sobe

Para aumentar a "passada"

Desprende sua carcaça

E por uma lei encantada 

Ganha mais velocidade

Em rede é também verdade

Quer ver dê uma balançada!


Sacuda o corpo pra trás 

Veja as pernas em avoada

Inverta sim o movimento 

Deixando a coisa animada

Jogue pra então receber 

Que como medo de perder

A gente não ganha nada!


A toda hora tem vivente

Que pensa na caminhada

Em como será o remar 

A saída e a chegada

Mas não deve esquecer

Que com medo de perder

A gente não ganha nada!


Nessa batalha diária 

Tem que dar uma respirada

O melhor é não está indo

Por missão aperreada

E se desligar do sofrer

Que com medo de perder

A gente não ganha nada!


Desapegar de uma parte

É sempre boa sacada

Entender que há lugar

Que pois chega sem estrada

E viver pra percorrer

Que com medo de perder

A gente não ganha nada!


Versos: Adaécio Lopes

Mote: Barboà Igor

 A internet e suas redes, dentre muitas coisas que possibilitam, é uma espécie de novo circo de horrores, que tantos descrevem em seus escritos, inclusive Kafka, em "O artista da fome", por exemplo. Abusos de vários tipos envolvendo miséria, fome, ferimentos, uso de pessoas para autopromoção e outros tipos de atrocidades (ou microatrocidades) passando na tela repetidas vezes e em curto intervalo de tempo, o que contribui para uma naturalização daquilo. Em feiras eu tive de ver muita coisa ligada ao horror cênico, por assim dizer, como pessoas que enfiavam vários pregos grandes nas narinas, colocavam dez ou mais tampas de latas de dois quilos na boca, fumavam uma carteira de cigarro ou mais de uma só vez, comiam cacos de vidro (essa foi a coisa mais intrigante que vi, que tenha lembrança, ainda hoje não sei como ele fazia aquilo e não morria, se é que não morreu), tudo em troca de atenção e alguns trocados. Como também pessoas com feridas ou mutilações expostas pedindo esmolas, outras se expondo de diversas maneiras, ou vendendo seus corpos e serviços. Tinha muita coisa boa também, ações belíssimas, como uma vez eu vi um cara sem braços fazer um carrinho de brinquedo perfeito utilizando pregos, latas de flandes e madeira, em pouco tempo, cortando tudo, pregando e pintando utilizando os pés para operar com as ferramentas. A feira agora é virtual e também tem muita coisa boa, diga-se de passagem. A diferença é que na grande maioria das vezes não tem aviso ou informação prévia - cabendo a você, se quiser, ir lá e ver aquele tipo de coisa ou não - aparece instantaneamente, e, o que é bem complicado, por vezes algumas das pessoas envolvidas [diferentemente dos casos exemplificados acima, situações nas quais em alguma medida elas tomavam a decisão de fazer as ações] as vezes nem sabem que aquilo está sendo feito ou se sabem não estão atentas às relações e condicionantes envolvidas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Computadores a pedir numeração 

No firmamento há sempre abreviação

No relógio não há tempo 

Para tanta imensidão 

Um bando de saguis 

Em farra cheios de alegria 

Sobre redes de alta tensão

A cuspir literatura 

Por caminhos da cidade


Adaécio Lopes

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

 Se a gente sim não muda

Nada então pois vai mudar
Porque viver é uma rede
Que vive a se balançar
O que se balança decide
A quem só fere e agride:
O que vai tende a voltar.

É dificil contornar
Quase sempre um revida
E diz, não saber porquê
A vida se fez tão ferida
E por diversas situações
São grandes as aflições
Que quase não vê saída.

Dentro da trama doída
É preciso pois separar
A leveza nos permite
Ser e também não estar
Agir quando é preciso
Sendo firme tendo o riso
Como um amigo exemplar.

Riso não para agravar
Mas como uma certeza
Que nada vem pra ficar
E que há uma destreza
E uma carta sobre a mesa
E que entrançando a peleja
A gente a pode pegar.

Adaécio Lopes

 Questão de escolha e opinião dizem respeito a escolher uma roupa pra vestir ou um sapato pra calçar etc. Questões políticas dizem respeito à coletividade. Se a pessoa defende um presidente genocida, que deixa morrer e que ainda escarnece da situação, que nega e usurpa direitos e garantias, você também é parte disso. É muito triste que uma "pulsão" da população do país seja ligada a isso.

 Considerar que uma criança de 6 anos deve ser responsável pelos seus atos (ou, o que é muito pior, pelo que acontece com ela de uma forma geral) é algo tão inadmissível que gera perplexidade e revolta em se ter que comentar sobre isso. E em se tratando do ocorrido ao qual essa declaração faz referência, a sensação é de repugnância. Que declarações abomináveis desse perroto.

 São muitas nuances no que concerne ao episódio envolvendo o anão. Evidente mesmo é o populismo tacanho. Quando alguém gritou que era um adulto anão e não uma criança este quase era arremessado ao chão, ou por ele ter percebido o equívoco ou por ter visto que alguém tinha percebido o seu "show". Digo isso porque é intrigante ele não ter percebido que era um adulto e não uma criança, já que aquele estava vestido com roupas formais de adulto. É bem possível que seja mais uma cena construída para desviar a atenção ou por outro motivo, como várias outras já criadas por pessoas do governo. Caso realmente tenha sido um engano, isso mostra que a concepção de criança para quem o ergueu é ainda aquela de séculos passados, quando a criança era considerada algo como um adulto em miniatura. É absurdamente possível, inclusive, que tenha(m) esse entendimento.

 E essas frutas e verduras de plástico que estão vendendo nos mercados como se fossem de verdade. Hoje comprei uma couve folha que tinha quase meio metro a folha. Uma maçã com meio quilo, cenoura parecendo uma garrafa de cerveja. Se não morre de covid morre de veneno, oh Brasil véi ingrato com sua gente. E segura as tanga porque a carestia tá grande.

 Que doença triste e difícil é o alzheimer. Mas, como somos do riso, por vezes ou quase sempre as conversas acabam em muita risada. Minha mãe sempre foi uma pessoa do riso, quem a conhece sabe, e meu pai também, acho que isso foi decisivo para continuarem juntos. Hoje em dia, acometida da doença, o riso foi uma das únicas coisas que não se foi. É muito imprevisto o mecanismo dessa doença. Agora há pouco, após eu ter conversado com meu pai, este falou pra ela, "Chegue Fransquinha, falar com nosso filho. Nisso mamãe numa crise de stress da doença - a coisa dela agora é querer ir embora encontrar a mãe e o pai (que há tempos ja não estão mais aqui) - mandou de lá: "Agora mesmo não, hoje mesmo não vou falar com ninguém não!". Ora, minha mãe que a vida inteira fez tudo que pode por mim, não querer mais nem sequer falar comigo, algo que eu nunca poderia imaginar. Oh doença horrível! Papai continuou, "converse alguma com ele, pra ele ouvir sua voz". Mamãe pegou do telefone: "Diga!". Eu me segurei pra não ri. "Oi mãe, como a senhora está?" "Eu tô aqui dum jeito que não sei o que!" Nisso tanto eu como papai e ela caímos na risada rsrs. Ela ainda ri como sempre, isso é uma alegria. Aí parece que passado os primeiros momentos, a conversa ativa alguma lembrança nela, porque logo em seguida, como de costume, ela muda repentinamente e passa a me chamar de filho normalmente e tenta conversar algo, pergunta como eu estou, por exemplo. O mais são frases desconexas, embora as vezes esboce emoção e algum interesse, por assim dizer. Sempre até o fim da conversa nós rimos mais algumas vezes, eu, ela e meu pai. Isso nos mantém unidos de alguma forma. As vezes ela ri do nada, talvez sendo a maneira de sinalizar algo como uma despedida da mente, que não consegue mais alcançar e vocalizar o que quer dizer.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 O governo anunciou que haverá um corte de 4,2 bilhões de reais nos recursos da educação para o ano vindouro, o que acarretará menos 18% no orçamento da educação para 2021. Alega para isso os gastos com o combate ao covid 19. Mas como, se este gastou apenas, como fora informado pelo TCU, apenas 29% do valor de 38,9 bilhões destinado a combater a pandemia?

 

 bolacha com formiga 

em quarentena 

isso é besteira 

é até prenda 

do jeito que 

a coisa está 

tudo é oferenda 


fadol

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

 Estive há pouco em uma reunião virtual sobre ensino remoto. Quando terminou eu fui na janela pegar um ar. Eis que passou um carro de som dizendo "venha terminar seus estudos, não precisa assistir aula não, você faz só um provão, venha garantir a sua aprovação".

terça-feira, 11 de agosto de 2020

 Por vezes quando eu me deparo com situações e questões importantes com relação à educação eu lembro das divertidas batalhas de sinuca que enfrentei com um amigo lá em Olho d'Água, e, em especial, de uma frase que ele sempre falava - acho que o velho amigo se aposentou da sinuca já, não sei - quando estava jogando, sendo talvez o seu jargão mais conhecido: "Tem que estudar, menino, tem que estudar!". Sempre muito risonho e espirituoso, e a apresentar uma elegância ímpar. O fato é que quando o amigo dizia "tem que estudar" estavam ali implícitas importantes nuances à compreensão, não importando a atividade na qual se esteja envolvido.

Por exemplo, ao se jogar sinuca o mais importante é ter uma visão geral do jogo, e, se, possível vislumbrar como e onde vai ficar a caramba após cada jogada, tanto sua quanto do oponente. Isso para alguém que não está jogando apenas por jogar. E essa pandemia jogou na nossa cara que muitos, muitos mesmo, estão apenas jogando por jogar. E o que é pior, muitos que deveriam estar jogando pra valer com vistas à coletividade na verdade estão apenas a jogar com seus interesses.

Quem tem o entendimento e a percepção de que o processo educacional vai muito além do que transmitir informações e apenas desenvolver a melhor forma e os melhores meios para isso - embora uma coisa não esteja necessariamente separada da outra -, está sempre buscando estar antenado com relação aos diversos movimentos do jogo. Estudar é perceber os movimentos do jogo, os arredores das tarefas, expressões, fenômenos, questões, formas e currículos, não importando a posição que a pessoa ocupe no mundo e nos estudos. Nesse sentido, estar atento à intencionalidade é o mais importante.

As aulas remotas/virtuais/não-presenciais estão aí - trazendo consigo um balaio de situações, variáveis, sensações e sentimentos a ser considerado(a)s -, sendo uma problemática que exige estudo, decisão e ação, considerando que ao se concentrar em demasia em apenas uma ou em algumas das perspectivas envolvidas se pode comprometer uma visão mais ampla deste acontecimento.

 Em luta com a apartação

Vagueia por entre feras
Riscando a pele com vida
Os garranchos, as feridas
São como uma celebração.

Montado em alazão
As rezes e esse conjunto
São partes da mesma lida
A procurar a calda em fúria
Encabeçada de chão.

Vivendo na solidão
Vestido em sua armadura
Procurando solução
Nos labirintos do tempo
Em sangue, suor e ação.


Adaécio Lopes

 Se foi em cavalo de ferro

Reinaldo de Geraldão
Futebolista e vaqueiro
Que tinha por profissão
Brincalhão, o vejo sorrindo
Os grandes braços aluindo
Me chamando "macarrão"
O Brejo e em parte odb
Lembram hoje de você
E sentem a ida do irmão.


Adaécio Lopes

domingo, 9 de agosto de 2020

 Uma flor alegre e calma 

Por vento sereno suave 

Em um baixio de sol 


Adaécio Lopes

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

 No ano de 1942 

O amor materializou-se 

Na terra em lágrimas 

Ossos, alegria e êxtase

E nasceram também 

Gil & Cae

A mesma clavícula 

Acres leões, aquele em reno 

Iguais na musculatura da face 

O "passo mago" e a

Meia voz poesia 


Adaécio Lopes

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Miró hoje faz Sessenta 

Pela fresta ainda na rua
Entre planta e microfone 
Muribeca molha a fronte 
E olha pois sobre montes 
No espelho do Bardallos
O silêncio do momento 
Em meio a tanto barulho
De pessoas, de garrafas 
De talheres e de passos 
Depois risos e abraços 
A bata e os seus colares 
Unhas nuas e olhos fartos 
Fluíram pela Gonçalves
Naquele Quatorze de Março

Adaécio Lopes

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Quase sempre o que as pessoas querem é satisfazer sua insegurança e disfarçar ou se distrair com relação às questões importantes e complexas, aquelas as quais uma pessoa que busca um discernimento mais acurado se ocupa - não há imposição aqui, apenas uma reflexão, que se perceba isso antes de tudo, cada um faz aquilo a que é chamado, afinal o forçar dificilmente gerará verdadeiro discernimento. Poderia falar sobre várias temáticas as quais essa problemática se aplica. O que se vê mais atualmente - contra a grotesca situação na qual nos encontramos - é pessoas se apegando com todas as forças àquele velho jargão utilizado para vender shampoo e tinta de parede, inclusive: "não é provado cientificamente". Óbvio que em situações de natureza prática não estar provado cientificamente aí é que não nos dá segurança de nada, a questão não é essa, sejamos minimamente sensatos! Volto ao ponto principal: quando apenas escolhemos um lado entre essas coisas (científico ou não científico, por exemplo) nos distanciamos do que é mais importante, a problemática em sua apresentação factual, por assim dizer. Ao ler um pouco sobre a história da ciência, se vê que este sistema de conhecimento está bem longe de ser uma oposição, com linha de demarcação bem definida, com relação àquilo que se convencionou chamar de pseudociências, por exemplo (há outras terminologias que tentam caracterizar ou muitas vezes desqualificar pura e simplesmente o complexo e vivo manancial composto pelos diversos conhecimentos surgidos na caminhada humana). Quando Nietzsche bradou, a seu modo característico, que não há fatos e sim interpretações, ele estava dando uma forte martelada nessa crença injustificada de que podemos dizer com segurança o que é o conhecimento e as maneiras como ele se apresenta! Na esteira deste entendimento, Michel Foucault coloca que não é porque definimos e caracterizados coisas, áreas, situações e procedimentos, que resolvemos ou evidenciamos os procedimentos e práticas discursivas envolvidas na existência e manifestação destas. Bulir com isso não é algo simples, porque aí está a base da edificação da noção de sujeito, por exemplo - embora muita gente que se aventurou a pensar sobre essas coisas tenha nos advertido no século passado e em muitas outras épocas, que o que salva é a aproximação. A questão é que ainda ou quase sempre pensamos, em muitas das questões as quais enfrentamos, em termos da lógica aristotélica do terceiro excluído, segundo a qual, uma coisa inevitavelmente é OU não é. Mas acontece que tem muitas situações em que esse modelo não dá conta. Ocorrem situações e fenômenos em que o modelo que melhor se aplica é aquele que sinaliza para o ser E não ser - a física pós-moderna (como eu venho chamando em alguns escritos mais recentes a física dos últimos 140 anos -- pois se a física dos séculos XV a XVII é conhecida como moderna, então tenho usado aquele termo para esta outra [muito embora o termo não dê conta da sua complexidade, assim como não dá conta, a meu ver, quando utilizado para designar temáticas da arte, da filosofia e da sociologia, mas não me deterei sobre isso aqui]) -- tem posto isso muito em evidência. Acerca disso tudo uma questão possível e muito provável de surgir é: então não se tem como escolher, já que tanto faz ser como não ser, não há como ter distinção, isso é um puro niilismo. Ao pensar acerca de uma saída para isso, lembro sempre de uma frase de um caboclo de andada por entre pontes, rios e overdrives e de um quadro pintado na renascença italiana que mostra uma academia antiga. Em um primeiro momento, ser e não ser nos remete a confusão, mas se voltamos a aplicar o mesmo princípio à situação a coisa muda de figura. Ou seja, é ser e não ser porque é ser e não ser (não entenda como imposição, leia com tranquilidade e paciência, quase como um mantra), e então um vasto caminho de possibilidades se abre. Com relação a isso entendiam muito bem pessoas que viveram entre os séculos 13 e 16, depois esse entendimento ficou meio adormecido, mas voltou no século vinte. Para encerrar esse parágrafo, acerca dessa relação entre ciência e outras temáticas, indico a leitura do livro "Gênese e desenvolvimento de um fato científico", escrito pelo médico (mas a obra trata de sociologia da ciência) Ludwik Fleck, em 1935, como também os livros de Paul Feyeravend, escritos algumas décadas a frente. Como problematizações, por assim dizer, Fleck expõe que não é negando informações e procedimentos que avançamos; para Feyerabend, o relativismo é um passo na direção de tradições vivas e cada cultura é potencialmente todas as culturas.

Adaécio Lopes - 04/08/2020