sexta-feira, 30 de julho de 2021

Jerimum Na Quenga


 

O ENFRENTAMENTO DO NIILISMO E/OU O SEU DUPLO


Muitos insistem em dizer que Nietzsche era niilista, fomentador ou defensor do niilismo etc. Não sei se de fato acham isso ou se criaram e criam essa imagem do pensador por conveniência etc. Carl Jaspers, por exemplo, é conhecido e seguido por sua tese de que no pensamento de Nietzsche não há espaço para a transcendência, algo que definitivamente não se sustenta. 


Não se sustenta porque toda a desfilosofia de Nietzsche é busca por transcendência. Acontece que o poeta da Gaia Ciência considera, em alguma medida como o fez Aristóteles - embora de maneira mais plástica, artística e performática do que aquele grego - que buscar a transcendência sem considerar o terreno, o humano, é algo descabido, ao beber em ambientes aquáticos floridos e outros lugares e monumentos antigos. 


Esse desvirtuamento é que é, para ele, o niilismo, contra o qual - inclusive citando esse termo - se opõe. O principal erro de Nietzsche, por assim dizer, foi querer vencer Platão, já que o próprio Platão deixou as pistas que mostram que seu sistema é falho (no sentido de ser algo que se sustente sem se relacionar com nada). Platão é muito mais risonho do que geralmente se o considera. Assim, se Nietzsche não fosse tão atormentado, e com tantos fantasmas a enfrentar, é possível que tivesse percebido - talvez ele o tenha feito, mas optado por criar uma imagem como oponente para atacar (afinal, como se pode ver, isso é mais comum do que se percebe ou se considera) - que o Platão "real", e não aquele que fora criado por comentadores, pensa algo semelhante ao que ele pensa, ou melhor dizendo, sorri para algo que ele defende em meio à tormenta. 


Os que atacam Nietzsche por meio daquela pecha niilista, com base naquele entendimento, aproveitam o trampolim para atacar o que se convencionou chamar de pós-modernidade. Acontece que a pós-modernidade, a meu ver (e exponho algo nesse sentido no mestrado e no doutorado), é - ou pelo menos uma parte substancial do pensamento pós-moderno -, uma busca por mostrar que a revivescencia do pensamento grego antigo não alcançou aquilo que ele tinha de mais importante, mas ficou apenas na sua sistemática, ou seja, nas suas camadas mais externas, por assim dizer, que encena que a racionalidade tinha uma base racional, algo que os acadêmicos e frequentadores de templos e cultos gregos sabiam que não se sustentava.

terça-feira, 27 de julho de 2021


 

Que nós só precisamos de investimento, todos já sabem. Ontem foi prata com a maranhense Rayssa Leal, hoje ouro com o potiguar Ítalo Ferreira. Dois esportes parecidos, irmãos. Assim como o futebol (onde a maioria dos maiores destaques do país ainda vêm de morros, favelas e rincões) são esportes que para iniciar não é preciso tantos equipamentos e investimentos pesados. Isso mais uma vez mostra a força do nordeste, do Brasil real.

Cebola de apartamento


 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

CIÊNCIA, VOLTA ÀS AULAS E INSTITUIÇÕES

Veja como as situações envolvendo ciências, instituições e pessoas (instâncias que estão intimamente relacionadas já que as ciências, instituições e desdobramentos que com elas têm relação são atividades realizadas por pessoas) são complexas, e nunca uma questão apenas de se considerar ciência-como-uma-entidade-em-separado-isolada-e-verdadeira-e-acima-de-críticas:

A ciência epidemiológica diz que as pessoas estarão imunizadas quando transcorridos 14 dias após a 2 dose de vacina (destaque-se que praticamente todas as vacinas por aqui são de duas doses).
Os professores de ciências, e toda a escola, funcionam com base em pressupostos científicos (isso porque até a arte hoje estão querendo que seja científica, mas isso é outro assunto), inclusive ensinam diariamente concepções científicas de mundo.
Mas, para voltar às aulas com professores e funcionários tendo tomado APENAS 1 DOSE, a instituição educacional, que, repito, diz se pautar pela ciência, está sendo contra a ciência, e, no entanto, por si dizer científica (por ter a placa de instituição científica) é como se estivesse fazendo isso em nome da ciência. Que ciência? A ciência dela mesma, instituição! Entende?
Mecanismos como esses acontecem a todo momento dentro da ciência e não podemos dizer que não são a ciência - ou a boa ciência como alguns piedosamente costumam se referir a uma ciência hipotética que na verdade não existe - já que, embora, não sejam condizentes com os pressupostos científicos (pressupostos esses considerados, a priori, como sendo isentos de paixão e ou outros "contaminantes"), são parte forte da ciência e decidem e operam a todo momento para o andamento (ou "desandamento") das coisas.
Quando se diz que esse tipo de mecanismo não é ciência se está impedindo que o se perceba e a sua relação intrínseca, indissociável com a ciência (que, portanto, não se configura em uma entidade em separado).
Pelo visto transformar instinto em instituição não foi um processo que aconteceu com total sucesso, o que já era de se esperar, e alguma reminiscência estará sempre à mostra para quem queira ou, por ventura, possa perceber.
Adaécio Lopes - 12/07/2021