Vendo a transmissão do show de Olodumbaiana no Festival de Verão de Salvador é possível perceber que aquela atmosfera do manguebeat se mantém viva em alguma medida nas ações da banda BaianaSystem, ou pelo menos que algum reverberar está ali presente. Embora as bases que formam a sonoridade da banda e daquela movimentação pernambucana sejam diferentes (mesmo que não completamente) muitos são os pontos em comum, como, por exemplo, a coisa de movimento, de proposta para atingir, agregar e engajar pessoas - no cenário atual, óbvio, algo bem menor do que naquele outro contexto. Esse projeto Olodumbaiana inclusive faz lembrar que o início do que depois ganhou nome de Axé Music era algo muito semelhante em linhas gerais com o batida do mangue sobre os overdrives. Ambos se caracterizavam como ajuntamentos de gente em volta da música e de projetos correlatos, mobilizando a juventude periférica pela dança e a expressão artística. O audiovisual, as performances fantasiados brincantes no palco também e algo que liga BS e MB. Russo Passapusso com seu sobretudo, sua toca e uma infinidade de broches, lembra essas figuras enigmáticas perambulantes pelas cidades do mundo, falando coisas meio desconexas, algo meio em transe, um viajante da palavra, um brincante ao modo dos pastoris ou algo do tipo ou tudo isso junto. Me lembrou logo a figura de Zé da Macuca, agitador e brincante pernambucano que nos deixou recentemente. Conheci Zé em um inesquecível cortejo anárquico do Boi da Macuca no Festival de Inverno de Garanhuns, que segui juntamente com a monga, a bruxa, papangus e muitos outros personagens. A ultima vez que o vi foi em uma festa que aconteceu no estacionamento da UFRN, em que tocaram Dusouto, Potiguara Bardo e acho que Skarimbó. Quando vi tava a figura da Macuca ali ao meu lado, ao pé de uma castanhola iluminada de luzes neon. Nos falamos, e ele me encorajou logo a ir lá na fazendo, onde era realizado um festival, que naquele ano receberia Arnaldo Antunes e Chico César, dentre outras atrações. Zé, Russo e Chico são exemplares dessas figuras aglutinantes que impulsionam movimentações e muita diversão levada a sério, como dizia Science, que há exaustos 26 anos nos deixava.
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