terça-feira, 4 de outubro de 2011

O MASSACRE DO PROFESSOR NO JORNAL NACIONAL

Chego à moradia. Ligo a televisão e vejo notícias sobre o movimento grevista dos professores do estado do Ceará, no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. Entendi que os professores protestam contra uma lei que visa fixar o piso salarial em aproximadamente 1100 reais para Nível Médio, desconsiderando o escalonamento pecuniário àqueles que concluem especialização, mestrado ou doutorado. O que independente que qualquer coisa é um absurdo. Aqui no RN nem se fala. É como diz um amigo meu, quando me perguntarem qual a maior instância da Justiça do país, eu responderei: O Tribunal de Justiça do RN!
Mas vamos à matéria sobre o incidente com os professores do Ceará. Várias foram as questões que me despertaram a atenção quando daquela matéria.
Primeiro. Os professores queriam adentram no prédio da Assembléia Legislativa do Ceará. Afinal, esse pessoal de gravata e de terno não vive dizendo que lá é a casa do povo?! Pois bem, eles não estavam invadindo o prédio como diz o título da matéria do referido jornal, mas querendo assistir, acompanhar a votação da situação que, como bem frisou um dos manifestantes, iria decidir a vida dos que ali estavam e de outros milhares de professores. O argumento de que os educadores poderiam intervir de forma negativa nos trabalhos dos deputados devido ao estado emotivo em que se encontravam não se sustenta. Impedir o povo de entrar na sua casa por estarem em estado emotivo? Um contra senso. Quantas vezes os deputados foram impedidos de freqüentar estas casas por discutir, partir para a agressão e até se esbofetear? E por votarem contra os interesses do povo? Nenhuma! Essa desculpa não cola senhores. Para impedir a passagem dos educadores, o poder usou a força, como de costume. Educadores agredidos fisicamente por reivindicar um direito. A cara do Brasil...
Outro absurdo foi o fato de o presidente da assembléia declarar que foi obrigado a agir daquela forma contra os educadores. Obrigado por quem?! Isso é jogo de retórica, quem decidiu “correr o ramo” nos professores foi você! Represália! Arbitrariedade! Uso abusivo da força! Esses são as reais formas de caracterizar esta ação. Não distorça a situação, culpando quem na verdade é vítima.
E o maior de todos os absurdos. O apresentador Willian Bonner ao final da reportagem, completa: “os professores querem um valor acima do que foi votado pela assembléia legislativa”. Nós sabemos que os jornalistas possuem um poder de distorção descomunal, e fazem isso de forma consciente e intencional. Bonner, não é que os professores querem um valor acima daquele, é um direito deles! Há entre uma coisa e outra uma diferença intransponível. Não nos enganemos, não foi uma displicência do âncora global. A palavra “querem” foi pensada cuidadosamente para este texto. Isso porque “querer” remete ao entendimento de que os educadores, com esta postura, estão sendo “mais uma vez intransigentes, folgados, abusivos” como alguns desinformados dizem por aí. Ou seja, este termo lança a falsa ideia de que os professores estão querendo mais do que de fato têm direito. O que na verdade, é justamente o contrário. Essa expressão penaliza quem a décadas já é penalizado.
A palavra “querem” fomenta tal sentimento e pensamento a quem está assistindo ao jornal. Ela induz e distorce o entendimento, vicia a informação e alicia a compreensão. Uma total incongruência. Inclusive porque ele sabe que tal direito ao piso aliado à carreira é constitucional desde 2008, justamente porque informações relacionadas a isso são noticiadas por este apresentador desde então - mas a constituição deste país e o rascunho de um bêbado (com todo respeito ao bêbado) parece não guardar grande diferença. Mesmo que o apresentador não soubesse ou não saiba destas questões – devido a um estranho lapso de memória – isso não lhe dá o direito de ser leviano.
Uma das mais perigosas artimanhas do discurso é agir de uma forma e fazer ou tentar fazer transparecer que age de outra. Nesse sentido, diria que a revolução consiste em vermos essas incongruências diárias, essas raspas de poder que estão embutidas no discurso instantâneo de cada dia.

Estejamos vigilantes.
Abraços.
Adaécio Lopes

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