O cientificismo não deve necessariamente ser critério para se avaliar as produções humanas, até porque muitas vezes tal postura - veja, há muitos tipos diferentes de ciência, para começo de conversa, mas, como ela é entendida hoje diz respeito a pressupostos que são recentes na história humana e têm uma forma característica de ver as coisas (logo, também é algo construído e não absoluto) - tem ajudando a destruir diversas formas de vida que não são inscritas pelo seu ideário. Quem chamou de maneira contundente a atenção para isso foi Paul Feyerabend. Heidegger e Sartre anteriormente já sinalizavam de maneira mais ampla para algo nesse sentido - digo isso para dar o crédito não para angariar poder, como muitas vezes é feito, por exemplo, quando se diz que algo é científico, como se ser científico fosse obrigatoriamente sinônimo de benesse ou melhoria. "Quando eu digo que uma coisa é eu não estou dizendo o que é significa". Assim, "é preciso estar atento e forte", como foi dito na canção. O cientificismo é problemático. No entanto, algo com o qual se deve estar preocupado e que é muito mais problemático, absurdamente mais danoso, melhor dizendo, é o fato de achismos e concepções que nada têm de científicas se apoderarem desse discurso supremacista que a ciência ajudou a fomentar para afirmar suas teses estapafúrdias. Alguém que lê isso agora pode achar que eu estou sendo inverídico no que estou dizendo, no que concerne à ciência. Pois bem, vamos a exemplos históricos. Personagens como Francis Bacon e muitos outros estudiosos do período moderno achavam (a palavra é essa mesmo, já que não tinham nenhuma maneira de comprovar o que estavam dizendo) que a ciência tinha de fato descortinado a realidade e agora apenas teriam que ser aplicados aqueles procedimentos e tudo seria finalmente conhecido. Isso levou o Conde Rumford, com seus estudos sobre o calor, a dizer logo depois que a física, por exemplo, enfrentava apenas um ou dois probleminhas, mas, logo tudo estaria resolvido. A entropia mostrou justamente um novo mundo de imponderabilidade e dúvida, algo bem diferente do que fora sentenciado por Rumford. Mais recentemente a "teoria de tudo" é um desses capítulos da história da tentativa de "cérebro" na sua busca por dominar o mundo - sendo, diga-se de passagem, a teoria quântica aquela que mostra que a "casca de nós" insiste em manter-se como algo em aberto. Assim, perceba que há uma aura supremacista na ciência moderna desde sua eclosão. E que ficar defendendo a ciência ou sua faceta propagandística, o cientificismo, não ataca esse ponto, mas, em alguma medida até reforça essa noção distorcida e temperada de uma suposta hegemonia e autoritarismo que vemos atualmente, que repito, pouco tem de científico, a não ser algo da parte mais nebulosa da ciência, ou seja, das pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário