Terreno espinhoso este da blogosfera. Os blogs, que poderiam ser usados para a reflexão, problematização e questionamentos, são cada vez mais utilizados no sentido do culto à personalidade. Coisas da humanidade e desses tempos, marcados pela imagem, pelo efêmero.
Diria que, desde que o mundo é mundo, o homem tenta se libertar de si mesmo. Essa é uma tarefa árdua, mas talvez a questão essencial para todos nós, mesmo para aqueles que não param para pensar nisso. A nossa ação parece ser conduzida por isso. Até mesmo aqueles que se arvoram superiores pela ascensão social que conseguiram, também estão nessa, manifestam este comportamento pelo mesmo impulso, embora este seja um mecanismo ineficaz, tanto para eles mesmos como para os demais integrantes do convívio social, pois o máximo que conseguem com isso é incitar a competição e a idiotice.
Lembro do biólogo Humberto Maturana: a natureza não é competitiva, os animais apenas agem para suas necessidades, mesmo quando matam. Os homens, competidores, não. Estes querem possuir para que os outros não possam possuir. É algo extremamente diferente do mundo dos bichos. A autoprojeção, para aqueles que são afeitos a ela, não é um deleite pessoal, mas social. Lembro do antropólogo Roberto da Mata: para a maioria dos homens, se as conquistas fossem atividades acontecidas na solidão, nada significariam. Ou seja, para esse referencial, o ato de reconhecimento passa a ser mais relevante do que a coisa em si. A casca externa ao invés do conteúdo. Nesse sentido, aquilo que repetem para si mesmos como grandes conquistas não passam de castelos de areia quando bate a dor, pois não possui relevância no íntimo do ser. É algo vazio. E isso não será atenuado através do materialismo, não importa o tamanho do castelo. Embora essa seja a ética destes tempos sombrios.
Quando não entramos, guerreamos com os de fora. E tal guerra não tem fim, logo não terá vencedores!
Discutia isso e mais outras coisas com os estudantes outro dia. E queria deixar claro desde já: essas questões interessam sim e muito àquelas jovens criaturas, que, diga-se de passagem, estão na crista da onda, no olho do furacão. Ou vocês acham que estes viventes não têm preocupações? Nunca se exigiu tanto desta parcela da juventude, em termos de resultados e metas a cumprir. Os seus olhos brilham quando lhes damos oportunidade de falar as suas angustias. Esse é um dos motivos que me fazem acreditar que a forma como está sendo conduzida a discussão sobre as questões (e sobre quais são as questões que devem estar presentes) no meio escolar está totalmente por fora.
Colocava para eles, que, quando nos aprofundamos um pouco que seja na história do mundo, percebemos que as questões que motivaram os grandes pensadores de todos os tempos não foram de ordem econômica ou personalista (no sentido da autoprojeção), mas sim a busca de respostas para as questões essências, como Inicio e Fim, por exemplo.
Qual o sentido de caminhar por essa vereda?
O que sou eu em relação ao todo?
Sou alguma coisa em relação ao todo?
Querendo ou não essas questões estarão conosco sempre. Quanto mais corremos do essencial, mais ele parece aproximar-se da gente de forma arrebatadora, mesmo que não percebamos. E isso nos vem muitas vezes como avalanche. Quanto mais nos distanciamos de nós mesmos, maior será o impacto que teremos que suportar. Não importa quantas fotos bonitas postemos na internet. Não importa quantas informações sejam postadas para florear uma personalidade com a qual nos acostumamos e acreditamos ser o todo que nos constitui. Jamais conseguirão com isso atingir a paz. Apenas a verdade nos libertará. E ela não é dada, é sentida, entendida e escutada por cada um de nós (na verdade nem todos acordarão da Matrix), e a cada instante: é um processo dinâmico. As questões não serão resolvidas pelo discurso, nem pela imagem social e econômica construída, e pelo poder que isso enseja.
Quando não entramos, guerreamos com os de fora!
Lembro-me agora de algo que li estes dias, a carta de recusa feita pelo filósofo Espinosa (1632 - 1677) ao convite para que lecionasse na Universidade de Heidelberg. Naquele documento o pensador expõe os motivos da recusa: dúvida acerca dos limites da liberdade que lhe dariam para estudar os enigmas da existência; e o fato de ter que se ocupar com coisas com as quais não estaria interessado, o que lhe tiraria parte da tranqüilidade da alma.
É preciso entender.
Marcar terreno.
Começar a travessia.
Fugir dos moinhos de vento.
Regressar à montanha.
Sair da caverna.
Mas, parafraseando um buscador que nos deixou em 1994: Eu já falei demais.
Namastê.
Este blog foi criado para postar textos, poesias e outras produções - ou informações acerca destas - realizadas por Adaécio Lopes, e, por ventura por outras pessoas.
domingo, 25 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
O Grande Cajueiro
Que monumental entidade.
Que tranqüilidade imponente,
Companheiro de uma saudosa morada cujo dono não mais existe.
Parece não ter tido início, ser eterno.
Grande celeiro de vidas: aves, insetos e outras plantas.
Resiste à urbanização com uma magia que lhe é própria,
Como se fosse um prolongamento da Terra, mantêm-se frondoso.
Parece que a cada ciclo vital se torna mais senhor da vida e mais sábio,
Mais conhecimentos absorve do passar dos tempos e da vida.
Informações presentes nas rachaduras por toda sua extensão
Demonstram uma transmutação, uma catarse, uma metamorfose.
O conhecimento como produto da vida e na vida, um registro.
E assim está o grande cajueiro.
De longe uma árvore, uma planta, um ponto na paisagem:
De perto uma vida, Um ser, um microcosmos,
Uma impressão do tempo, da Mãe Terra.
Um ente cultural magnífico.
Como é bom deitar em seus galhos,
Participando deste Universo paralelo que lhe é tão próprio ...
Adaécio Lopes
domingo, 18 de dezembro de 2011
A REVISTA NA CABEÇA
Reunião de dizeres
aglomerando saberes.
Registro de albaneses,
Portugueses,
Ingleses,
Holandeses,
Javaneses.
Parece uma cabeça com bastante informação.
Cabeças geram revistas. Revistas formam cabeça.
O mundo é restringido em cabeças e revistas.
Cabeças serão revistas por outro ponto de vista.
Essa revista mecânica que talvez me obedeça.
Mas só quero que não esqueça
que foi assim que surgiu
e que ninguém nunca viu.
Aquele som que saiu
foi pra uma parede espessa.
Começaram desse jeito os miolos da cabeça.
Adáécio Lopes
aglomerando saberes.
Registro de albaneses,
Portugueses,
Ingleses,
Holandeses,
Javaneses.
Parece uma cabeça com bastante informação.
Cabeças geram revistas. Revistas formam cabeça.
O mundo é restringido em cabeças e revistas.
Cabeças serão revistas por outro ponto de vista.
Essa revista mecânica que talvez me obedeça.
Mas só quero que não esqueça
que foi assim que surgiu
e que ninguém nunca viu.
Aquele som que saiu
foi pra uma parede espessa.
Começaram desse jeito os miolos da cabeça.
Adáécio Lopes
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
TEXTO BASEADO EM ANOTAÇÕES E FALA FEITA DURANTE O 1º SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO DO SÉRIDO (NO GOVERNO ROSALBA) - Realizado entre 21 e 22 de Novembro de 2011.
É discutimos muitas coisas no plano teórico. Mas olhemos para todos nós: estamos aqui sentados, escutando uma pessoa falando o que de certa forma é colocado como o certo, ao qual devemos escutar e no final alguns poderão se der tempo opinar sobre o que foi dito. Essa é a nossa práxis, um fala e os outros escutam, talvez advindo ainda da catequese. Sinceramente me respondam, como querem que estes que vos escutam empreendam uma prática realmente diferente disso? Jogo isso para que pensemos de fato.
Lembro-me de uma oficina da qual participei nos dias 18 e 19 deste mês (Novembro) como o grupo de teatro carioca Moitará, no SESC Seridó. Venício Fonseca, o diretor do grupo, nos falava de como foi o processo de constituição do grupo, suas influencias e, principalmente, a necessidade de uma postura generosa e de escuta interna para a construção de um novo teatro, de um teatro essencial.
E, além de muitas outras questões, somei esta discussão ao que venho pensando atualmente sobre a atividade de educar. Não tem outro meio de realização desta atividade de forma satisfatória: o segredo é cair pra dentro. Como pano de fundo das leis e teorias da física, por exemplo, existe uma conotação existencial e temos inevitavelmente que nos abrirmos para isso se quisermos uma prática pedagógica que realmente seja portadora de sentido para seus participantes, educadores e educandos.
A agressividade presente nas salas de aula de todo o Brasil e talvez do mundo é reflexo da total falta de sentido em que se tornou a atividade docente desde que decidimos (historicamente, não foi uma decisão instantânea) aprender, basicamente, a produzir coisas ao invés de discutirmos as questões que realmente importam.
O risco existe, mas como diria o rapper-sambista carioca Marcelo D2, a maior malandragem do mundo é viver. A vida é uma aventura ou pelo menos deveria sê-lo. E uma aventura congrega riscos, incertezas e salto. E, na minha opinião só faz sentido por isso. Talvez o problema seja o fato de que atualmente vivemos em um mundo cada vez mais previsível, nos tornamos seres previsíveis, como sabiamente coloca o saudoso geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos no seu Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
E mais uma vez me reporto à uma colocação feita por Venício Fonseca. Lembrando das colocações feitas pelo semiólogo francês Roland Barthes, aquele ator nos chamou a atenção para a necessidade de aprendermos a técnica, de nos relacionarmos com certa prisão em que se configura o saber e a linguagem, mas não para ficar preso em suas teias, mas para transcender esse estágio inicial de aprendizado, para desconstrução e reconstrução deste aparato, tendo em vista a liberdade. Como um músico que no inicio tem que aprender as posições por esforço e memorização e que depois está tocando pelo sentir, como se possuísse um sensor em cada dedo, sem perceber a técnica, apenas atento a escuta do grande arcano, da grande obra.
Lembro-me de uma oficina da qual participei nos dias 18 e 19 deste mês (Novembro) como o grupo de teatro carioca Moitará, no SESC Seridó. Venício Fonseca, o diretor do grupo, nos falava de como foi o processo de constituição do grupo, suas influencias e, principalmente, a necessidade de uma postura generosa e de escuta interna para a construção de um novo teatro, de um teatro essencial.
E, além de muitas outras questões, somei esta discussão ao que venho pensando atualmente sobre a atividade de educar. Não tem outro meio de realização desta atividade de forma satisfatória: o segredo é cair pra dentro. Como pano de fundo das leis e teorias da física, por exemplo, existe uma conotação existencial e temos inevitavelmente que nos abrirmos para isso se quisermos uma prática pedagógica que realmente seja portadora de sentido para seus participantes, educadores e educandos.
A agressividade presente nas salas de aula de todo o Brasil e talvez do mundo é reflexo da total falta de sentido em que se tornou a atividade docente desde que decidimos (historicamente, não foi uma decisão instantânea) aprender, basicamente, a produzir coisas ao invés de discutirmos as questões que realmente importam.
O risco existe, mas como diria o rapper-sambista carioca Marcelo D2, a maior malandragem do mundo é viver. A vida é uma aventura ou pelo menos deveria sê-lo. E uma aventura congrega riscos, incertezas e salto. E, na minha opinião só faz sentido por isso. Talvez o problema seja o fato de que atualmente vivemos em um mundo cada vez mais previsível, nos tornamos seres previsíveis, como sabiamente coloca o saudoso geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos no seu Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
E mais uma vez me reporto à uma colocação feita por Venício Fonseca. Lembrando das colocações feitas pelo semiólogo francês Roland Barthes, aquele ator nos chamou a atenção para a necessidade de aprendermos a técnica, de nos relacionarmos com certa prisão em que se configura o saber e a linguagem, mas não para ficar preso em suas teias, mas para transcender esse estágio inicial de aprendizado, para desconstrução e reconstrução deste aparato, tendo em vista a liberdade. Como um músico que no inicio tem que aprender as posições por esforço e memorização e que depois está tocando pelo sentir, como se possuísse um sensor em cada dedo, sem perceber a técnica, apenas atento a escuta do grande arcano, da grande obra.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
ENFIM SE LIBERTA DE TODO QUERER
Caminhante vai pelo reino das sombras
Guiado por entre as trevas de sempre.
No último sopro de agonia fulcral,
onde a resistência já não é mais sofrer
Eis que se ergue em Pássaro d’Árvore.
E enfim se liberta de todo querer.
Adaécio Lopes
Guiado por entre as trevas de sempre.
No último sopro de agonia fulcral,
onde a resistência já não é mais sofrer
Eis que se ergue em Pássaro d’Árvore.
E enfim se liberta de todo querer.
Adaécio Lopes
Saída
Toda a tarde sai e vê a cidade ao longe.
Sente como se saísse de si.
Percebe a convivência de outro foco.
De onde está, pode com nitidez observar
a matrix de que somos parte.
A Igreja, os coqueiros, as antenas,
a estrada, os carros, as bicicletas,
as pessoas, os insetos, as borboletas,
as nuvens, as serras, as cores,
os pássaros, o som, o sonho,
a vida, a morte, o vento, o tempo, parado.
Adaécio Lopes
Sente como se saísse de si.
Percebe a convivência de outro foco.
De onde está, pode com nitidez observar
a matrix de que somos parte.
A Igreja, os coqueiros, as antenas,
a estrada, os carros, as bicicletas,
as pessoas, os insetos, as borboletas,
as nuvens, as serras, as cores,
os pássaros, o som, o sonho,
a vida, a morte, o vento, o tempo, parado.
Adaécio Lopes
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
OLHO D'ÁGUA DO BORGES
O olho é de onde tudo surge para nós.
No olho nasce a vida.
Nasce a representação do mundo.
E o que representa mais a vida do que a água?
Lembro de Nietzsche:
“Assim Tales contemplou a unidade de tudo que é: e quando quis comunicar-se, falou de água!”
Lembro de Câmara Cascudo:
“Quem nasce no interior e de lá está ausente, é como se possuísse duas vidas”.
Adaécio Lopes
No olho nasce a vida.
Nasce a representação do mundo.
E o que representa mais a vida do que a água?
Lembro de Nietzsche:
“Assim Tales contemplou a unidade de tudo que é: e quando quis comunicar-se, falou de água!”
Lembro de Câmara Cascudo:
“Quem nasce no interior e de lá está ausente, é como se possuísse duas vidas”.
Adaécio Lopes
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