É discutimos muitas coisas no plano teórico. Mas olhemos para todos nós: estamos aqui sentados, escutando uma pessoa falando o que de certa forma é colocado como o certo, ao qual devemos escutar e no final alguns poderão se der tempo opinar sobre o que foi dito. Essa é a nossa práxis, um fala e os outros escutam, talvez advindo ainda da catequese. Sinceramente me respondam, como querem que estes que vos escutam empreendam uma prática realmente diferente disso? Jogo isso para que pensemos de fato.
Lembro-me de uma oficina da qual participei nos dias 18 e 19 deste mês (Novembro) como o grupo de teatro carioca Moitará, no SESC Seridó. Venício Fonseca, o diretor do grupo, nos falava de como foi o processo de constituição do grupo, suas influencias e, principalmente, a necessidade de uma postura generosa e de escuta interna para a construção de um novo teatro, de um teatro essencial.
E, além de muitas outras questões, somei esta discussão ao que venho pensando atualmente sobre a atividade de educar. Não tem outro meio de realização desta atividade de forma satisfatória: o segredo é cair pra dentro. Como pano de fundo das leis e teorias da física, por exemplo, existe uma conotação existencial e temos inevitavelmente que nos abrirmos para isso se quisermos uma prática pedagógica que realmente seja portadora de sentido para seus participantes, educadores e educandos.
A agressividade presente nas salas de aula de todo o Brasil e talvez do mundo é reflexo da total falta de sentido em que se tornou a atividade docente desde que decidimos (historicamente, não foi uma decisão instantânea) aprender, basicamente, a produzir coisas ao invés de discutirmos as questões que realmente importam.
O risco existe, mas como diria o rapper-sambista carioca Marcelo D2, a maior malandragem do mundo é viver. A vida é uma aventura ou pelo menos deveria sê-lo. E uma aventura congrega riscos, incertezas e salto. E, na minha opinião só faz sentido por isso. Talvez o problema seja o fato de que atualmente vivemos em um mundo cada vez mais previsível, nos tornamos seres previsíveis, como sabiamente coloca o saudoso geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos no seu Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
E mais uma vez me reporto à uma colocação feita por Venício Fonseca. Lembrando das colocações feitas pelo semiólogo francês Roland Barthes, aquele ator nos chamou a atenção para a necessidade de aprendermos a técnica, de nos relacionarmos com certa prisão em que se configura o saber e a linguagem, mas não para ficar preso em suas teias, mas para transcender esse estágio inicial de aprendizado, para desconstrução e reconstrução deste aparato, tendo em vista a liberdade. Como um músico que no inicio tem que aprender as posições por esforço e memorização e que depois está tocando pelo sentir, como se possuísse um sensor em cada dedo, sem perceber a técnica, apenas atento a escuta do grande arcano, da grande obra.
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