sábado, 31 de março de 2012

Gratidão!


O que seria de mim:

Se Canindé Medeiros não tivesse me apresentado Belchior e Elis Regina;

Se Elói de Sousa não tivesse discutido a viagem da luz com a gente;

Se Jalmaras Sales não tivesse tratado da ciência da vida;

Se Fátima Barros não tivesse me apresentado ao Feudalismo e seus desdobramentos;

Se Natividade e Manoel Cristino não me tivessem iniciado no universo matemático;

Se Gilberto Pinto não me tivesse mostrado que somos piolhos espalhados sobre a Terra;

Se Margarida não me tivesse apresentado “O bicho” de Manoel Bandeira (nunca esquecerei aquele dia):


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.

 
Se Djanilson Ramalho não tivesse me dito de que são feitas as palavras;

Se Chico de Alfredo (Francisco Paula?) – me lembro dele quando vejo Tim Maia, dois malucos belezas. Será que Chico já foi algum show de Tim lá em cima? - não tivesse me dito um dia na sua forma característica de se expressar, que a história é contada por alguns e não por todos, e que não é verdadeira, absoluta;

Se Severino Rufino não me tivesse mostrado aquele música de Lennon:

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today...

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace...

Se Francisca de Souza não tivesse me mostrado que a arte liberta o homem?

Desculpe se alguém não foi citado, mas é que a memória é um relâmpago que dá na gente.

Possivelmente estarão presentes em outro relâmpago de qualquer instante da caminhada.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Como?

Como poderá haver
experimento de poesia,
se for sempre o mesmo dia?

Como mudar o texto,
se não dinâmica e fluido,
se estou preso num concreto contexto?

Como mandar cartas, para onde?
se a realidade parece me mandar
sempre impressões inatas?

Se estou preso na cadeira da sala,
no momento mais do mesmo,
ao invés de me aventurar nos infinitos ocultos do instante?

Adaécio Lopes

quinta-feira, 22 de março de 2012

morada nova


morada nova

e um desabor,

como quem perde

um amor no meio

dessa mudança. 


adaécio lopes 

sábado, 17 de março de 2012

De que viverá um poeta?


de que viverá um poeta

senão de ilusões...

distorções espaço-temporais,

amores astrais, jardins,

flores, cheiros e olhares.



universo dilatado,

trem descarrilado,

portão escancarado,

vendo a flor linda

na mesa ao lado.  


adaécio lopes

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma linda borboleta voa do ato de amor


a mulher se transfigura

gerando então outra flor,

uma linda borboleta

voa do ato de amor. 

adaécio lopes

quinta-feira, 15 de março de 2012

O amor é o que resta


Colhi esses dias, flores em volta do Rio Seridó, para um vasinho abandonado que encontrei.

Ontem vi que todas tinham murchado.

Hoje, uma grata surpresa: uma nova flor começa a surgir de um dos botões do buquê.

Nutre-se do restinho de água, fonte de vida. Reúne os restos de força e se abre majestosa e bela.

Dá o salto para a vida.

Nesse ato tudo é eterno.

SCRIVIMI

Scrivimi, quando il vento avrà spogliato gli alberi
Gli altri sono andati al cinema, ma tu vuoi restare sola
Poca voglia di parlare allora scrivimi

Servirà a sentirti meno fragile, quando nella gente troverai
Solamente indifferenza, tu non ti dimenticare mai di me

E se non avrai da dire niente di particolare
Non ti devi preoccupare, io saprò capire
A me basta di sapere che mi pensi anche un minuto
Perché io so accontentarmi anche di un semplice saluto
Ci vuole poco per sentirsi più vicini

Scrivimi, quando il cielo sembrerà più limpido
Le giornate ormai si allungano
Ma tu non aspettar la sera, se hai voglia di cantare
Scrivimi, anche quando penserai, che ti sei innamorata...

E se non avrai da dire niente di particolare
Non ti devi preoccupare, io saprò capire
A me basta di sapere che mi pensi anche un minuto
Perché io so accontentarmi anche di un semplice saluto
Ci vuole poco per sentirsi più vicini
Scrivimi, anche quando penserai, che ti sei innamorata...
Tu scrivimi.

terça-feira, 13 de março de 2012

UM COMETA COM CÉREBRO


            Se fosse vivo, hoje, 13 de Março, Francisco de Assis França estaria completando 46 anos de idade. Para quem não conhece, está meio esquecido ou talvez como eu precise dar uma nova escutada (pois essa é uma daquelas obras que não se esgotam em uma geração da vida de um vivente), Chico Science foi um certo cometa que passou por aqui, que se foi no ano de 1997, deixando impressões significativas no pensamento e na  musicalidade. 

            Alguém que volta e meia olha esse blog pode dizer: “como assim, todo mundo conhece Chico Science”. Pois eu digo que não. Hoje resolvi colocar o CD Da lama ao Caos para tocar - trabalhava algumas coisas relacionadas à Física com os alunos, além de comentar com eles acerca do fato de que o conhecimento nunca foi de fato, e nunca será, algo separado como de certa forma lhes é apresentado – e não sem espanto, verifiquei mais uma vez que o legado de Chico ainda é muito pouco conhecido.

            Poderíamos dizer que a marca do pensamento de Chico foi a busca por liberdade. Liberdade nas relações sejam elas políticas afetivas ou de qualquer outra natureza. E de forma mais essencial, liberdade para dentro da cabeça, como diz a letra de uma banda de reggae brasileira. 

            A metáfora da antena na cabeça ou fincada no mangue a receber vibrações de todo o cosmos, do mangue como fonte de vida, o “mantra” “um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”: marcas do pensamento de Chico. Tratou da questão da cidade, relembrou a Revolução Praieira, o Cangaço, falou poeticamente da arquitetura da cidade estuário que é Recife, falou de amor de forma peculiar, chamou atenção para o problema do transito, da migração para a cidade, e principalmente, entendeu muito bem as questões essenciais que podem aparecer a um vivente da Matrix. 

            Acredito que viria uma fase menos agressiva, mas com bastante substancia se Chico não tivesse nos deixado tão prematuramente, mas os cometas são assim, rápidos e marcantes. Um pouco antes de partir, o líder da Nação Zumbi conheceu ou se aproximou mais do Iê Iê Iê, introduzindo a música Todos estão surdos de Roberto Carlos e Mr. Motto de The Pops nos shows. Infelizmente não tivemos a oportunidade de vivenciar essa fase mais mística de Chico, embora deixemos claro que essa agressividade que brota da lama, que é característica do manguebeat, tem muito de místico:

“A imensidão aérea, é ter o espaço do firmamento no pensamento. E acreditar em voar algum dia”.

“O medo dá origem ao mal”.

“É só uma cabeça equilibrada em cima do corpo, procurando antenar boas vibrações”.

“Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar”.

“Eu só quero andar... sem ser incomodado... andando pelo mundo sem ter sociedade”.

“O problema é que são problemas demais se não correr atrás da maneira certa de solucionar”.

“Lembro quase tudo que sei e organizando as ideias lembro que me esqueci de tudo, mais eu escuto samba”.

"Esse corpo de lama que tu vê é apenas a imagem que sou. Esse corpo de lama que tu vê é apenas a imagem é tu".

Salve, Salve, Chico Science! Salve, salve Nação Zumbi! Salve, salve Manguebeat! 

domingo, 11 de março de 2012

UM INÍCIO DE DOMINGO EM DEVANEIOS


Salve, salve Iemanjá
linda rainha do mar
senhora das turbulências
que bem sabe acalentar.


O mar que tanto nos fala
este ser que nunca cala,
mostrando que a mudança
é o néctar que a vida exala. 


Iemanjá, todos os anjos
venham agora me encontrar
defronte as forças do mal
não podemos fraquejar.


Preciso canalizar
toda essa vibração
entender que a vida é
um túnel que não tem mão.


Tenhamos sempre em mente
que cada instante quer norte
que “o que importa é a certeza,
[e todo] o resto é sorte”. 


UM MOTE



“Uma gota de pranto molha o riso
quando o preso recebe a liberdade.”

Salve, salve a verdadeira cultura popular, que brota das entranhas sofridas do povo. 

Estes verdadeiros representantes da cultura constroem conhecimentos significativos para aqueles momentos em que você está só consigo, instantes em que surgem os anjos e se forma o guerreiro.

QUANDO SE ROMPE


Quando se rompe, 

muita coisa vai embora.

Algo que fica é a necessidade

de sobreviver nessa terra devastada.

Adaécio Lopes

quarta-feira, 7 de março de 2012

ORAÇÃO À POESIA


Poesia me livre do desejo
Do tempo da grande dor
Faça-me entender os males
Das armadilhas do amor


Amor é prisão sem tempo
Que nos remete à origem
Quando menos esperamos
Invade-nos a vertigem


Devaneio necessário
Que causa um rebuliço
Sou um cargo de desejo
Não há como fugir disso


Experiência de morte
Lance matreiro de sorte
Ebulição muito forte
É navegar sem ter norte


Será que há paradeiro?
Se eu largar essa mão?
Será que há uma porta
Nesta casa: solidão?


Quando a morte chegou
Estava eu escrevendo
Não havia pensamento
Mas só pedaço vivendo.


Adaécio Lopes