Terreno espinhoso este da blogosfera. Os blogs, que poderiam ser usados para a reflexão, problematização e questionamentos, são cada vez mais utilizados no sentido do culto à personalidade. Coisas da humanidade e desses tempos, marcados pela imagem, pelo efêmero.
Diria que, desde que o mundo é mundo, o homem tenta se libertar de si mesmo. Essa é uma tarefa árdua, mas talvez a questão essencial para todos nós, mesmo para aqueles que não param para pensar nisso. A nossa ação parece ser conduzida por isso. Até mesmo aqueles que se arvoram superiores pela ascensão social que conseguiram, também estão nessa, manifestam este comportamento pelo mesmo impulso, embora este seja um mecanismo ineficaz, tanto para eles mesmos como para os demais integrantes do convívio social, pois o máximo que conseguem com isso é incitar a competição e a idiotice.
Lembro do biólogo Humberto Maturana: a natureza não é competitiva, os animais apenas agem para suas necessidades, mesmo quando matam. Os homens, competidores, não. Estes querem possuir para que os outros não possam possuir. É algo extremamente diferente do mundo dos bichos. A autoprojeção, para aqueles que são afeitos a ela, não é um deleite pessoal, mas social. Lembro do antropólogo Roberto da Mata: para a maioria dos homens, se as conquistas fossem atividades acontecidas na solidão, nada significariam. Ou seja, para esse referencial, o ato de reconhecimento passa a ser mais relevante do que a coisa em si. A casca externa ao invés do conteúdo. Nesse sentido, aquilo que repetem para si mesmos como grandes conquistas não passam de castelos de areia quando bate a dor, pois não possui relevância no íntimo do ser. É algo vazio. E isso não será atenuado através do materialismo, não importa o tamanho do castelo. Embora essa seja a ética destes tempos sombrios.
Quando não entramos, guerreamos com os de fora. E tal guerra não tem fim, logo não terá vencedores!
Discutia isso e mais outras coisas com os estudantes outro dia. E queria deixar claro desde já: essas questões interessam sim e muito àquelas jovens criaturas, que, diga-se de passagem, estão na crista da onda, no olho do furacão. Ou vocês acham que estes viventes não têm preocupações? Nunca se exigiu tanto desta parcela da juventude, em termos de resultados e metas a cumprir. Os seus olhos brilham quando lhes damos oportunidade de falar as suas angustias. Esse é um dos motivos que me fazem acreditar que a forma como está sendo conduzida a discussão sobre as questões (e sobre quais são as questões que devem estar presentes) no meio escolar está totalmente por fora.
Colocava para eles, que, quando nos aprofundamos um pouco que seja na história do mundo, percebemos que as questões que motivaram os grandes pensadores de todos os tempos não foram de ordem econômica ou personalista (no sentido da autoprojeção), mas sim a busca de respostas para as questões essências, como Inicio e Fim, por exemplo.
Qual o sentido de caminhar por essa vereda?
O que sou eu em relação ao todo?
Sou alguma coisa em relação ao todo?
Querendo ou não essas questões estarão conosco sempre. Quanto mais corremos do essencial, mais ele parece aproximar-se da gente de forma arrebatadora, mesmo que não percebamos. E isso nos vem muitas vezes como avalanche. Quanto mais nos distanciamos de nós mesmos, maior será o impacto que teremos que suportar. Não importa quantas fotos bonitas postemos na internet. Não importa quantas informações sejam postadas para florear uma personalidade com a qual nos acostumamos e acreditamos ser o todo que nos constitui. Jamais conseguirão com isso atingir a paz. Apenas a verdade nos libertará. E ela não é dada, é sentida, entendida e escutada por cada um de nós (na verdade nem todos acordarão da Matrix), e a cada instante: é um processo dinâmico. As questões não serão resolvidas pelo discurso, nem pela imagem social e econômica construída, e pelo poder que isso enseja.
Quando não entramos, guerreamos com os de fora!
Lembro-me agora de algo que li estes dias, a carta de recusa feita pelo filósofo Espinosa (1632 - 1677) ao convite para que lecionasse na Universidade de Heidelberg. Naquele documento o pensador expõe os motivos da recusa: dúvida acerca dos limites da liberdade que lhe dariam para estudar os enigmas da existência; e o fato de ter que se ocupar com coisas com as quais não estaria interessado, o que lhe tiraria parte da tranqüilidade da alma.
É preciso entender.
Marcar terreno.
Começar a travessia.
Fugir dos moinhos de vento.
Regressar à montanha.
Sair da caverna.
Mas, parafraseando um buscador que nos deixou em 1994: Eu já falei demais.
Namastê.
Este blog foi criado para postar textos, poesias e outras produções - ou informações acerca destas - realizadas por Adaécio Lopes, e, por ventura por outras pessoas.
domingo, 25 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
O Grande Cajueiro
Que monumental entidade.
Que tranqüilidade imponente,
Companheiro de uma saudosa morada cujo dono não mais existe.
Parece não ter tido início, ser eterno.
Grande celeiro de vidas: aves, insetos e outras plantas.
Resiste à urbanização com uma magia que lhe é própria,
Como se fosse um prolongamento da Terra, mantêm-se frondoso.
Parece que a cada ciclo vital se torna mais senhor da vida e mais sábio,
Mais conhecimentos absorve do passar dos tempos e da vida.
Informações presentes nas rachaduras por toda sua extensão
Demonstram uma transmutação, uma catarse, uma metamorfose.
O conhecimento como produto da vida e na vida, um registro.
E assim está o grande cajueiro.
De longe uma árvore, uma planta, um ponto na paisagem:
De perto uma vida, Um ser, um microcosmos,
Uma impressão do tempo, da Mãe Terra.
Um ente cultural magnífico.
Como é bom deitar em seus galhos,
Participando deste Universo paralelo que lhe é tão próprio ...
Adaécio Lopes
domingo, 18 de dezembro de 2011
A REVISTA NA CABEÇA
Reunião de dizeres
aglomerando saberes.
Registro de albaneses,
Portugueses,
Ingleses,
Holandeses,
Javaneses.
Parece uma cabeça com bastante informação.
Cabeças geram revistas. Revistas formam cabeça.
O mundo é restringido em cabeças e revistas.
Cabeças serão revistas por outro ponto de vista.
Essa revista mecânica que talvez me obedeça.
Mas só quero que não esqueça
que foi assim que surgiu
e que ninguém nunca viu.
Aquele som que saiu
foi pra uma parede espessa.
Começaram desse jeito os miolos da cabeça.
Adáécio Lopes
aglomerando saberes.
Registro de albaneses,
Portugueses,
Ingleses,
Holandeses,
Javaneses.
Parece uma cabeça com bastante informação.
Cabeças geram revistas. Revistas formam cabeça.
O mundo é restringido em cabeças e revistas.
Cabeças serão revistas por outro ponto de vista.
Essa revista mecânica que talvez me obedeça.
Mas só quero que não esqueça
que foi assim que surgiu
e que ninguém nunca viu.
Aquele som que saiu
foi pra uma parede espessa.
Começaram desse jeito os miolos da cabeça.
Adáécio Lopes
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
TEXTO BASEADO EM ANOTAÇÕES E FALA FEITA DURANTE O 1º SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO DO SÉRIDO (NO GOVERNO ROSALBA) - Realizado entre 21 e 22 de Novembro de 2011.
É discutimos muitas coisas no plano teórico. Mas olhemos para todos nós: estamos aqui sentados, escutando uma pessoa falando o que de certa forma é colocado como o certo, ao qual devemos escutar e no final alguns poderão se der tempo opinar sobre o que foi dito. Essa é a nossa práxis, um fala e os outros escutam, talvez advindo ainda da catequese. Sinceramente me respondam, como querem que estes que vos escutam empreendam uma prática realmente diferente disso? Jogo isso para que pensemos de fato.
Lembro-me de uma oficina da qual participei nos dias 18 e 19 deste mês (Novembro) como o grupo de teatro carioca Moitará, no SESC Seridó. Venício Fonseca, o diretor do grupo, nos falava de como foi o processo de constituição do grupo, suas influencias e, principalmente, a necessidade de uma postura generosa e de escuta interna para a construção de um novo teatro, de um teatro essencial.
E, além de muitas outras questões, somei esta discussão ao que venho pensando atualmente sobre a atividade de educar. Não tem outro meio de realização desta atividade de forma satisfatória: o segredo é cair pra dentro. Como pano de fundo das leis e teorias da física, por exemplo, existe uma conotação existencial e temos inevitavelmente que nos abrirmos para isso se quisermos uma prática pedagógica que realmente seja portadora de sentido para seus participantes, educadores e educandos.
A agressividade presente nas salas de aula de todo o Brasil e talvez do mundo é reflexo da total falta de sentido em que se tornou a atividade docente desde que decidimos (historicamente, não foi uma decisão instantânea) aprender, basicamente, a produzir coisas ao invés de discutirmos as questões que realmente importam.
O risco existe, mas como diria o rapper-sambista carioca Marcelo D2, a maior malandragem do mundo é viver. A vida é uma aventura ou pelo menos deveria sê-lo. E uma aventura congrega riscos, incertezas e salto. E, na minha opinião só faz sentido por isso. Talvez o problema seja o fato de que atualmente vivemos em um mundo cada vez mais previsível, nos tornamos seres previsíveis, como sabiamente coloca o saudoso geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos no seu Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
E mais uma vez me reporto à uma colocação feita por Venício Fonseca. Lembrando das colocações feitas pelo semiólogo francês Roland Barthes, aquele ator nos chamou a atenção para a necessidade de aprendermos a técnica, de nos relacionarmos com certa prisão em que se configura o saber e a linguagem, mas não para ficar preso em suas teias, mas para transcender esse estágio inicial de aprendizado, para desconstrução e reconstrução deste aparato, tendo em vista a liberdade. Como um músico que no inicio tem que aprender as posições por esforço e memorização e que depois está tocando pelo sentir, como se possuísse um sensor em cada dedo, sem perceber a técnica, apenas atento a escuta do grande arcano, da grande obra.
Lembro-me de uma oficina da qual participei nos dias 18 e 19 deste mês (Novembro) como o grupo de teatro carioca Moitará, no SESC Seridó. Venício Fonseca, o diretor do grupo, nos falava de como foi o processo de constituição do grupo, suas influencias e, principalmente, a necessidade de uma postura generosa e de escuta interna para a construção de um novo teatro, de um teatro essencial.
E, além de muitas outras questões, somei esta discussão ao que venho pensando atualmente sobre a atividade de educar. Não tem outro meio de realização desta atividade de forma satisfatória: o segredo é cair pra dentro. Como pano de fundo das leis e teorias da física, por exemplo, existe uma conotação existencial e temos inevitavelmente que nos abrirmos para isso se quisermos uma prática pedagógica que realmente seja portadora de sentido para seus participantes, educadores e educandos.
A agressividade presente nas salas de aula de todo o Brasil e talvez do mundo é reflexo da total falta de sentido em que se tornou a atividade docente desde que decidimos (historicamente, não foi uma decisão instantânea) aprender, basicamente, a produzir coisas ao invés de discutirmos as questões que realmente importam.
O risco existe, mas como diria o rapper-sambista carioca Marcelo D2, a maior malandragem do mundo é viver. A vida é uma aventura ou pelo menos deveria sê-lo. E uma aventura congrega riscos, incertezas e salto. E, na minha opinião só faz sentido por isso. Talvez o problema seja o fato de que atualmente vivemos em um mundo cada vez mais previsível, nos tornamos seres previsíveis, como sabiamente coloca o saudoso geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos no seu Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
E mais uma vez me reporto à uma colocação feita por Venício Fonseca. Lembrando das colocações feitas pelo semiólogo francês Roland Barthes, aquele ator nos chamou a atenção para a necessidade de aprendermos a técnica, de nos relacionarmos com certa prisão em que se configura o saber e a linguagem, mas não para ficar preso em suas teias, mas para transcender esse estágio inicial de aprendizado, para desconstrução e reconstrução deste aparato, tendo em vista a liberdade. Como um músico que no inicio tem que aprender as posições por esforço e memorização e que depois está tocando pelo sentir, como se possuísse um sensor em cada dedo, sem perceber a técnica, apenas atento a escuta do grande arcano, da grande obra.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
ENFIM SE LIBERTA DE TODO QUERER
Caminhante vai pelo reino das sombras
Guiado por entre as trevas de sempre.
No último sopro de agonia fulcral,
onde a resistência já não é mais sofrer
Eis que se ergue em Pássaro d’Árvore.
E enfim se liberta de todo querer.
Adaécio Lopes
Guiado por entre as trevas de sempre.
No último sopro de agonia fulcral,
onde a resistência já não é mais sofrer
Eis que se ergue em Pássaro d’Árvore.
E enfim se liberta de todo querer.
Adaécio Lopes
Saída
Toda a tarde sai e vê a cidade ao longe.
Sente como se saísse de si.
Percebe a convivência de outro foco.
De onde está, pode com nitidez observar
a matrix de que somos parte.
A Igreja, os coqueiros, as antenas,
a estrada, os carros, as bicicletas,
as pessoas, os insetos, as borboletas,
as nuvens, as serras, as cores,
os pássaros, o som, o sonho,
a vida, a morte, o vento, o tempo, parado.
Adaécio Lopes
Sente como se saísse de si.
Percebe a convivência de outro foco.
De onde está, pode com nitidez observar
a matrix de que somos parte.
A Igreja, os coqueiros, as antenas,
a estrada, os carros, as bicicletas,
as pessoas, os insetos, as borboletas,
as nuvens, as serras, as cores,
os pássaros, o som, o sonho,
a vida, a morte, o vento, o tempo, parado.
Adaécio Lopes
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
OLHO D'ÁGUA DO BORGES
O olho é de onde tudo surge para nós.
No olho nasce a vida.
Nasce a representação do mundo.
E o que representa mais a vida do que a água?
Lembro de Nietzsche:
“Assim Tales contemplou a unidade de tudo que é: e quando quis comunicar-se, falou de água!”
Lembro de Câmara Cascudo:
“Quem nasce no interior e de lá está ausente, é como se possuísse duas vidas”.
Adaécio Lopes
No olho nasce a vida.
Nasce a representação do mundo.
E o que representa mais a vida do que a água?
Lembro de Nietzsche:
“Assim Tales contemplou a unidade de tudo que é: e quando quis comunicar-se, falou de água!”
Lembro de Câmara Cascudo:
“Quem nasce no interior e de lá está ausente, é como se possuísse duas vidas”.
Adaécio Lopes
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
É A ISSO QUE CHAMO CURA
Pensar que a vida é morte
pensar que a vida é loucura
logo, logo percebemos
tal ideia é uma tortura:
encontramos no caminho
uma fonte de água pura
A tortura não tem fundo
é vulcão de desatino
nos joga a sós num trilho
no alto de um monte fino
revira e nos traz os medos
lá do tempo de menino
Mas há uma solução
para vencer o pavor
canalizar a loucura
para o túnel do amor
mergulhar no sentimento
viver a sublime cor
Viver não é dar vazão
a um pavilhão de loucura
mas sim estar vigilante
tratá-la de forma dura
observá-la de longe...
é a isso que chamo cura.
Adaécio Lopes
pensar que a vida é loucura
logo, logo percebemos
tal ideia é uma tortura:
encontramos no caminho
uma fonte de água pura
A tortura não tem fundo
é vulcão de desatino
nos joga a sós num trilho
no alto de um monte fino
revira e nos traz os medos
lá do tempo de menino
Mas há uma solução
para vencer o pavor
canalizar a loucura
para o túnel do amor
mergulhar no sentimento
viver a sublime cor
Viver não é dar vazão
a um pavilhão de loucura
mas sim estar vigilante
tratá-la de forma dura
observá-la de longe...
é a isso que chamo cura.
Adaécio Lopes
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
O medo e as invasões bárbaras
Pessoas, pedaços de medo a trafegar pela rua.
Tripulantes, navegadores de invasões bárbaras.
Com o óculos do bem vemos tudo cor-de-rosa.
Disso entendem os ocultos.
Controlando a força,
O sábio segue leve, como um samurai.
Adaécio Lopes
Tripulantes, navegadores de invasões bárbaras.
Com o óculos do bem vemos tudo cor-de-rosa.
Disso entendem os ocultos.
Controlando a força,
O sábio segue leve, como um samurai.
Adaécio Lopes
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O MEDO
O medo é como uma onda
que nos invade.
Transfigurando os rostos,
redirecionando a cena
atravez de pinceladas
macabras de maldade.
Adaécio Lopes
que nos invade.
Transfigurando os rostos,
redirecionando a cena
atravez de pinceladas
macabras de maldade.
Adaécio Lopes
terça-feira, 22 de novembro de 2011
HOMEM ... PEDAÇO DE TEMPO
O tempo que escraviza
Que nem sempre foi assim
Esse peso desmedido
Do mundo em cima de mim
Homem ... pedaço de tempo
Com medo sempre do fim
Se ocupando com coisas
Que nem sempre tá afim
Todos, todos, operários
Na construção desse troço
Sinceramente, te digo
Eu já não sei mais se posso
Adaécio Lopes
Que nem sempre foi assim
Esse peso desmedido
Do mundo em cima de mim
Homem ... pedaço de tempo
Com medo sempre do fim
Se ocupando com coisas
Que nem sempre tá afim
Todos, todos, operários
Na construção desse troço
Sinceramente, te digo
Eu já não sei mais se posso
Adaécio Lopes
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Ponto de passagem
Tem um lugar que às vezes
Parece algo encantado
Com seus paredões de pedra
Olhando-se lada a lado
Aquele fio de carros
Sob o risco de pedra por onde os viventes passam
O trafegar desses seres...
O que será que eles caçam?
Dias Lopes
15:56
Parece algo encantado
Com seus paredões de pedra
Olhando-se lada a lado
Aquele fio de carros
Sob o risco de pedra por onde os viventes passam
O trafegar desses seres...
O que será que eles caçam?
Dias Lopes
15:56
Viajando nos mundos da paisagem
Raios resequidos
Em busca do céu
Fractal secreto
Que serve ao instante
Broto selvagem
Do ceio da Terra
Cursos sinuosos
Riscos avante
Ao longo da estrada
Mágicas árvores
Tótens arbóreos
Túnel guiante
Dias Lopes
15:52
Em busca do céu
Fractal secreto
Que serve ao instante
Broto selvagem
Do ceio da Terra
Cursos sinuosos
Riscos avante
Ao longo da estrada
Mágicas árvores
Tótens arbóreos
Túnel guiante
Dias Lopes
15:52
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Encontro com Augusto dos Anjos em uma praça em João Pessoa
Tu Augusto, nessa praça
A contemplar o imundo
Escutando essas notícias
Do que ocorre no mundo
Tu, Augusto de pedra
De fronte a pedras com gente
Medita na água turva
Que há no mundo doente
Enclausurado em penumbra
Percebe os ecos de dor
Vendo a nudez da noite
Desperdiçar seu sabor
Está condenado a ver
Todo dia o movimento
Circulante e automático
Dos operários do tempo
Para o Anjo visionário
Todo esse sofrimento
Demonstra ser este mundo
Uma canção de lamento
Sofrer irremediável
Apodrecer aos segundos
Instantes de agonia
Que logo separam mundos
Num paralelo sombrio
De longos vales profundos
Adaécio Lopes
A contemplar o imundo
Escutando essas notícias
Do que ocorre no mundo
Tu, Augusto de pedra
De fronte a pedras com gente
Medita na água turva
Que há no mundo doente
Enclausurado em penumbra
Percebe os ecos de dor
Vendo a nudez da noite
Desperdiçar seu sabor
Está condenado a ver
Todo dia o movimento
Circulante e automático
Dos operários do tempo
Para o Anjo visionário
Todo esse sofrimento
Demonstra ser este mundo
Uma canção de lamento
Sofrer irremediável
Apodrecer aos segundos
Instantes de agonia
Que logo separam mundos
Num paralelo sombrio
De longos vales profundos
Adaécio Lopes
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
UM DOS CAPÍTULOS DO VELHO EMBATE DA REPRESSÃO CONTRA AS LIBERDADES INDIVIDUAIS: A CRIMINALIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS COMO FORMA DE DESQUALIFICAÇÃO DE PRÁTICAS E GRUPOS SOCIAIS
Mais uma vez se utiliza a questão do uso da maconha como forma de desqualificar a discussão de um importante tema. Inclusive, historicamente, esse foi o mecanismo que levou à criminalização desta erva (como buscaremos colocar no próximo texto): a segregação das minorias. Até porque a humanidade sempre usou e usará substâncias para alterar a consciência. Inclusive hoje o número de pessoas que usam psicotrópicos é alarmante, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a diferença é que estas pessoas os compram na farmácia.
Para posicionar-se contra o desmatamento do planeta obrigatoriamente se tem que ser uma árvore? Muitos dos estudantes envolvidos nas manifestações da USP não são usuários de maconha. A questão levantada pelos estudantes vai muito além do que defender que se possa fumar maconha no campus daquela universidade. Pensar desta forma só mostra o quão reacionária, tacanha e medíocre é a mídia brasileira, assim como o pensamento de grande parcela da dita intelectualidade deste país.
O que é mais importante, viver ou estar vivo? Esta é a principal temática que está sendo puxada pelos estudantes na USP nas entrelinhas deste embate que empreenderam, questionando dentre outras coisas, a sociedade do controle.
Os estudantes defendem, sim, que a universidade continue como um mínimo espaço de liberdade, criatividade e práticas genuínas, que embora sejam cada vez mais raras, ainda estão presentes nos espaços acadêmicos. Ou seja, são contra a permanência da polícia militar no campus por entenderem, assim como este que vos escreve, que polícia não combina com o ambiente educacional. Um ambiente que ainda possui as características elencadas acima não tem como conviver com uma instituição que entende a resolução de situações recorrendo ao uso da força. Isso é claro, ou pelo menos o deveria ser. Historicamente a polícia enquanto instituição é preconceituosa, caricaturizante, doutrinadora e reacionária. Alguns profissionais da polícia podem destoar um pouco deste comportamento, mas não conseguem se desvencilhar por completo disso, justamente porque tal acepção é da natureza do aparato policial, uma linha de conduta que permeia a prática.
A polícia como Aparelho de Estado está a serviço do controle, vendo em tudo que é mobilização que representa a diversidade sinais de subversão, inclusive em manifestações culturais e artísticas. Talvez por este motivo estudantes, jovens e artistas em geral não se relacionam muito bem com este seguimento.
A polícia, por mais que se fale da mudança que ocorreu durante os últimos anos, ainda trabalha com aquela velha concepção que permeava a ciência penal em tempos idos, lançada por Lombroso, segundo a qual, por exemplo, a aparência física e a anatomia eram indícios seguros acerca do comportamento dos indivíduos. Acho que todos nós conhecemos histórias ou temos conhecidos que foram espancadas, humilhados ou até mortos por policiais por se vestirem ou andarem de forma diferente, possuir uma determinada cor de pele ou manifestar uma atitude tida como suspeita.
Então como combater a violência, falando especificamente, por exemplo, do caso da USP e demais universidades espelhadas pelo país? É, realmente algo precisa ser feito, mas não no sentido do que se está dando como solução. E nesse sentido, diria que essa violência gratuita é reflexo desta sociedade que construímos para viver. Mas não sejamos também ingênuos e utópicos demais, a violência sempre existiu e existirá, ela faz parte do humano que nos constitui. Afinal não aprendemos desde cedo que um certo Caim matou seu próprio irmão Abel?
Uma questão crucial a ser colocada é que, inclusive do ponto de vista lógico, a violência não será exterminada do mundo – supondo que tivéssemos como fazê-lo – a golpes de violência. Praticamente todos os dias policiais e forças armadas matam pessoas no Brasil e no mundo em defesa de uma suposta segurança. É a velha história da guerra pela paz, que convenhamos não se sustenta mais.
E voltando à temática das substâncias, a questão não é defender o seu uso indiscriminado, mas colocar a coisa em pratos limpos.
O argumento de que a descriminalização da maconha causaria um colapso social pelo uso indiscriminado não se sustenta, como estudos recentes realizados em países que adotaram uma postura descriminalizante podem comprovar. Inclusive tais estudos mostram que a legalização da maconha em muitos casos reduziu o uso de substancias mais nocivas.
É fácil perceber – inclusive será colocado num texto posterior – que a problemática acerca da maconha está relacionada a questões econômicas e principalmente ideológicas, sociais e étnicas. A maconha foi sempre, historicamente, uma droga de minorias, o que contribuiu para sua criminalização. Diferentemente do álcool, do tabaco e outras drogas que sempre circularam nos ambientes da alta burguesia.
Como indício de que esta história da criminalização das drogas é guiada por um componente econômico, basta lembrar que, historicamente, as drogas, no Ocidente, oscilaram entre períodos de legalização e proibição devido a manobras mercantilistas e capitalistas. E nesse exato momento estamos vivendo algo semelhante aqui no Brasil. A FIFA, órgão que está à frente da organização da Copa do Mundo de Futebol, que em 2014 será no Brasil, quer mandar para as cucuias o fato de o álcool ser uma droga proibida em partidas de futebol no nosso país, em troca dos sacos de dinheiro que ganhará com os patrocínios das multinacionais do mundo do álcool. Está vendo como o bem, a saúde humana e a suposta violência ligada ao uso de substâncias rapidamente sai de cena quando entram os interesses econômicos, mostrando como na verdade estes nunca foram realmente importantes?
A criminalização da maconha mesmo se tendo muitos estudos científicos reveladores acerca dos danos e reais efeitos desta droga mostra que muitas vezes as verdades científicas só são pontos decisivos em um embate quando são favoráveis aqueles que estão com as rédeas da contenda. E isso vale para todos os temas e embates intelectuais e ideológicos de que se tem notícia – inclusive isso foi aprofundado pelo autor que assina este texto em um trabalho acadêmico recente. Quando as evidencias científicas não favorecem ao que se quer defender, elas muitas vezes são cuidadosamente esquecidas e jogadas para debaixo do tapete.
Encerro com parte de uma música que figurou na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano, composta por um pensador imortalizado, principalmente, pelas minorias de todo o mundo, chamado Robert Nesta Marley:
Until the philosophy / Até que a filosofia
which holds one race superior / que considera uma raça inferior
And another inferior / E outra inferior
Is finally and permanently / Esteja finalmente e permanentemente
discredited and abandoned / desacreditada e abandonada
Everywhere is war [...] / Por toda parte haverá guerra [...]
Adaécio Lopes
Para posicionar-se contra o desmatamento do planeta obrigatoriamente se tem que ser uma árvore? Muitos dos estudantes envolvidos nas manifestações da USP não são usuários de maconha. A questão levantada pelos estudantes vai muito além do que defender que se possa fumar maconha no campus daquela universidade. Pensar desta forma só mostra o quão reacionária, tacanha e medíocre é a mídia brasileira, assim como o pensamento de grande parcela da dita intelectualidade deste país.
O que é mais importante, viver ou estar vivo? Esta é a principal temática que está sendo puxada pelos estudantes na USP nas entrelinhas deste embate que empreenderam, questionando dentre outras coisas, a sociedade do controle.
Os estudantes defendem, sim, que a universidade continue como um mínimo espaço de liberdade, criatividade e práticas genuínas, que embora sejam cada vez mais raras, ainda estão presentes nos espaços acadêmicos. Ou seja, são contra a permanência da polícia militar no campus por entenderem, assim como este que vos escreve, que polícia não combina com o ambiente educacional. Um ambiente que ainda possui as características elencadas acima não tem como conviver com uma instituição que entende a resolução de situações recorrendo ao uso da força. Isso é claro, ou pelo menos o deveria ser. Historicamente a polícia enquanto instituição é preconceituosa, caricaturizante, doutrinadora e reacionária. Alguns profissionais da polícia podem destoar um pouco deste comportamento, mas não conseguem se desvencilhar por completo disso, justamente porque tal acepção é da natureza do aparato policial, uma linha de conduta que permeia a prática.
A polícia como Aparelho de Estado está a serviço do controle, vendo em tudo que é mobilização que representa a diversidade sinais de subversão, inclusive em manifestações culturais e artísticas. Talvez por este motivo estudantes, jovens e artistas em geral não se relacionam muito bem com este seguimento.
A polícia, por mais que se fale da mudança que ocorreu durante os últimos anos, ainda trabalha com aquela velha concepção que permeava a ciência penal em tempos idos, lançada por Lombroso, segundo a qual, por exemplo, a aparência física e a anatomia eram indícios seguros acerca do comportamento dos indivíduos. Acho que todos nós conhecemos histórias ou temos conhecidos que foram espancadas, humilhados ou até mortos por policiais por se vestirem ou andarem de forma diferente, possuir uma determinada cor de pele ou manifestar uma atitude tida como suspeita.
Então como combater a violência, falando especificamente, por exemplo, do caso da USP e demais universidades espelhadas pelo país? É, realmente algo precisa ser feito, mas não no sentido do que se está dando como solução. E nesse sentido, diria que essa violência gratuita é reflexo desta sociedade que construímos para viver. Mas não sejamos também ingênuos e utópicos demais, a violência sempre existiu e existirá, ela faz parte do humano que nos constitui. Afinal não aprendemos desde cedo que um certo Caim matou seu próprio irmão Abel?
Uma questão crucial a ser colocada é que, inclusive do ponto de vista lógico, a violência não será exterminada do mundo – supondo que tivéssemos como fazê-lo – a golpes de violência. Praticamente todos os dias policiais e forças armadas matam pessoas no Brasil e no mundo em defesa de uma suposta segurança. É a velha história da guerra pela paz, que convenhamos não se sustenta mais.
E voltando à temática das substâncias, a questão não é defender o seu uso indiscriminado, mas colocar a coisa em pratos limpos.
O argumento de que a descriminalização da maconha causaria um colapso social pelo uso indiscriminado não se sustenta, como estudos recentes realizados em países que adotaram uma postura descriminalizante podem comprovar. Inclusive tais estudos mostram que a legalização da maconha em muitos casos reduziu o uso de substancias mais nocivas.
É fácil perceber – inclusive será colocado num texto posterior – que a problemática acerca da maconha está relacionada a questões econômicas e principalmente ideológicas, sociais e étnicas. A maconha foi sempre, historicamente, uma droga de minorias, o que contribuiu para sua criminalização. Diferentemente do álcool, do tabaco e outras drogas que sempre circularam nos ambientes da alta burguesia.
Como indício de que esta história da criminalização das drogas é guiada por um componente econômico, basta lembrar que, historicamente, as drogas, no Ocidente, oscilaram entre períodos de legalização e proibição devido a manobras mercantilistas e capitalistas. E nesse exato momento estamos vivendo algo semelhante aqui no Brasil. A FIFA, órgão que está à frente da organização da Copa do Mundo de Futebol, que em 2014 será no Brasil, quer mandar para as cucuias o fato de o álcool ser uma droga proibida em partidas de futebol no nosso país, em troca dos sacos de dinheiro que ganhará com os patrocínios das multinacionais do mundo do álcool. Está vendo como o bem, a saúde humana e a suposta violência ligada ao uso de substâncias rapidamente sai de cena quando entram os interesses econômicos, mostrando como na verdade estes nunca foram realmente importantes?
A criminalização da maconha mesmo se tendo muitos estudos científicos reveladores acerca dos danos e reais efeitos desta droga mostra que muitas vezes as verdades científicas só são pontos decisivos em um embate quando são favoráveis aqueles que estão com as rédeas da contenda. E isso vale para todos os temas e embates intelectuais e ideológicos de que se tem notícia – inclusive isso foi aprofundado pelo autor que assina este texto em um trabalho acadêmico recente. Quando as evidencias científicas não favorecem ao que se quer defender, elas muitas vezes são cuidadosamente esquecidas e jogadas para debaixo do tapete.
Encerro com parte de uma música que figurou na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano, composta por um pensador imortalizado, principalmente, pelas minorias de todo o mundo, chamado Robert Nesta Marley:
Until the philosophy / Até que a filosofia
which holds one race superior / que considera uma raça inferior
And another inferior / E outra inferior
Is finally and permanently / Esteja finalmente e permanentemente
discredited and abandoned / desacreditada e abandonada
Everywhere is war [...] / Por toda parte haverá guerra [...]
Adaécio Lopes
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
EM FRENTE AO ESPELHO
Em frente ao espelho
Olha para o mundo
Vendo que perdeu
A imagem de si
Qual pião no vácuo
Procura o rosto
Pro lado e pro outro
E dentro também
Como uma lanterna
Corre atrás da luz
De uma palavra
Que – talvez – reluz
Vê os movimentos
Medita na dor
Fica retraído
Contempla o pavor
Não quer adentrar
Ao rol dos conceitos
Onde cada casa
Tem número certo
Pensa como pode
Pensar sobre si
Quem entortou o verbo
Para ir e vir?
Se isto quem fala
Não é esse aqui,
Pra onde vai
Quando se extinguir?
Um diz: são palavras
Se unindo a sós.
Mas qual palavra
Começou os nós?
Pensa agora ali
Um pensar profundo
Sobre a costura
De si com o mundo
Como eu consigo
Me enganar sozinho,
Achando que crio
Esse meu caminho?
- Isso não sou eu
- Esqueça-se disto
Joga no baú
O “penso, logo existo”
Adaécio Lopes
Olha para o mundo
Vendo que perdeu
A imagem de si
Qual pião no vácuo
Procura o rosto
Pro lado e pro outro
E dentro também
Como uma lanterna
Corre atrás da luz
De uma palavra
Que – talvez – reluz
Vê os movimentos
Medita na dor
Fica retraído
Contempla o pavor
Não quer adentrar
Ao rol dos conceitos
Onde cada casa
Tem número certo
Pensa como pode
Pensar sobre si
Quem entortou o verbo
Para ir e vir?
Se isto quem fala
Não é esse aqui,
Pra onde vai
Quando se extinguir?
Um diz: são palavras
Se unindo a sós.
Mas qual palavra
Começou os nós?
Pensa agora ali
Um pensar profundo
Sobre a costura
De si com o mundo
Como eu consigo
Me enganar sozinho,
Achando que crio
Esse meu caminho?
- Isso não sou eu
- Esqueça-se disto
Joga no baú
O “penso, logo existo”
Adaécio Lopes
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Canção contra a morte
Quando a gente é pequeno
Não vive tanto o morrer
Embora que algumas vezes
Estale para o sofrer
Quase sempre sente apenas
“Algo” desaparecer.
Mas quando a gente é grande
Aí a coisa piora,
Porque não somos só um
Somos todos toda hora,
E quando morre um de nós
Parte nossa vai embora.
A sociabilidade
Nos torna agora uma rede
Trocamos informações
Sempre que sentimos sede
E guardamos os segredos
Nos buracos da parede.
Tal parede é a memória
Que possui todo vivente
Lugar que o pombo correio
Pára sempre em voo urgente
Nos trazendo informações
De algum irmão da gente
Quem morre leva consigo
Toda essa informação
Desaparece no tempo
Mas nos deixa a sensação
Que a gente nunca morre
Pois a vida foi canção
Canção que penetra a alma
E traz vida a todo instante
Basta que alguém relembre
As proezas do cantante
Nessa hora a cavidade
Se torna tubo vibrante
Dias Lopes
Não vive tanto o morrer
Embora que algumas vezes
Estale para o sofrer
Quase sempre sente apenas
“Algo” desaparecer.
Mas quando a gente é grande
Aí a coisa piora,
Porque não somos só um
Somos todos toda hora,
E quando morre um de nós
Parte nossa vai embora.
A sociabilidade
Nos torna agora uma rede
Trocamos informações
Sempre que sentimos sede
E guardamos os segredos
Nos buracos da parede.
Tal parede é a memória
Que possui todo vivente
Lugar que o pombo correio
Pára sempre em voo urgente
Nos trazendo informações
De algum irmão da gente
Quem morre leva consigo
Toda essa informação
Desaparece no tempo
Mas nos deixa a sensação
Que a gente nunca morre
Pois a vida foi canção
Canção que penetra a alma
E traz vida a todo instante
Basta que alguém relembre
As proezas do cantante
Nessa hora a cavidade
Se torna tubo vibrante
Dias Lopes
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
É POSSÍVEL UMA ESCOLA PARA A VIDA?
Muitos pensadores ditos construtivistas tentam botar a vida dentro da escola. Isso é como tentar fazer brotar uma flor dentro de uma cela. É cansativo, é desgastante, e praticamente não tem efeito algum. O mais indicado em minha opinião, seria jogar a escola na vida.
Veja. Nada contra o construtivismo, em suas muitas acepções. Muito pelo contrário. Tal concepção de mundo acerca do conhecer e do aprender “não está por fora” como diriam alguns. O problema é a institucionalização. Algo que sinaliza para a liberdade, como essa postura, não pode sobreviver dentro de um mundo que já foi formatado de inicio. Nada que tenha esta característica libertária poderá ficar enclausurado em muros, cronometrado, regido a toques de sirene.
Não sei se a memória é algo como um palácio onde estariam guardadas nossas lembranças, como falava Santo Agostinho, mas que de vez em quando nos surge algo que não estava aqui e que por certo talvez estivesse em outro lugar, isso nos parece indiscutível. Lembro de um dia o professor Djanilson Ramalho ter me falado de um texto em que Philippe Perrenoud chama a atenção ou discute (acho que não chegamos a aprofundar o assunto: a sirene tocou no momento) o fato de as ideias de Gardner, acerca das Múltiplas Inteligências, não ter decolado na educação. Tenho minha opinião sobre isso (não sei se é a mesma de Perrenoud, afinal não li o texto): isso se deve ao fato de que Gardner sinaliza para a liberdade, ao defender que cada aluno tem uma habilidade que tende a desenvolver mais, e que isso deveria ser desenvolvido pela escola e não extirpado. Ou seja, àquele aluno que não sabe matemática, mas sabe desenhar devem-se dar condições para que desenvolva suas capacidades artísticas. Mas isso no fundo não interessa à instituição escola, embora muitos professores possuam essa postura e teimem nesse sentido. Ainda bem!
O que impede a escola de proceder desta forma é o fato de que logo vem à tona a seguinte idéia, talvez inconsciente (ou não): será que desenhando ele terá condições de ganhar dinheiro e comprar, se inserir no mercado? No fundo, a escola, nos moldes que a conhecemos, é uma fábrica de futuros adeptos do mercado, do mercantilismo, desse escambo moderno que não cansa de moer vidas ao pé do balcão. Pronto está dito!
No geral, as escolas aprisionam as consciências. Deveriam ser espaços de troca de experiências, mas acabam sendo ambientes doutrinadores. E uma vez estando dentro desse calabouço, é muito difícil não aderir à suas práticas, pois são muitas as pressões (exames dos mais diversos, Enem, Vestibular, Prova Brasil, SAEB e etc..). Se você quiser dar o salto em busca do que realmente vai importar para a maioria daqueles que ali estão (na sala de aula) tem que ir de encontro a tudo isso.
Mas alguém me diria: então você vai ensinar o quê? Pra quê? Vai formar alienados? A isto respondo serenamente: não. Apenas deve-se ser mais atento às reais necessidades existências daquele vivente que está ali na nossa frente. Isso não exclui o fato de que eu possa comentar com eles, por exemplo, as explicações que um certo inglês do século XVII deu para o fenômeno da queda dos corpos próximos à superfície da Terra - tendo o cuidado de mostrar que esta teoria não é a única explicação para este fato. Ou seja, viver e pensar a existência é muito mais importante do que apenas entender as leis de Newton.
Mas repito: fazer isso é muito difícil no castelo medieval que é a escola (com todo respeito ao medievo, que inclusive ainda conhecemos tão pouco, ou de forma tão distorcida). Porque para conversar, para trocar ideia, precisa-se de tempo, do tempo da escuta, do erro e do acerto. Do tempo que proporcionará a confiança e a segurança do jovem em seu mestre e vice-versa. Quase nada disso é valorizado hoje nessa escola ultra-super-mega-acelerada. E se você é um professor de Física então, seus problemas são ainda maiores. Vocês já viram o programa de Física que é exigido que os alunos saibam nesses exames que elenquei acima? Se não, comprove você mesmo. É como se a cada aula professores e alunos tivessem condições de dar conta de concepções epistemológicas e filosóficas complexas, que levaram séculos para ser construídas – e que inclusive ainda estão sendo aperfeiçoadas. Como já disse em outros textos, exige-se que se carregue o mundo - tal como foi explicado até hoje - nas costas. Acerca disso temos que afirmar: Não podemos!!!
Numa escola para a vida, os muros devem estar restritos à sua estrutura física, não circunscrevendo as mentalidades.
Não somos entidades cibernéticas como aquelas retratadas no filme Matrix (alto filme), nas quais se implantam cartuchos de informação de acordo com a necessidade. Temos sentimentos. Possuímos o livre arbítrio. Interessa-nos, além desse catatau de coisas que foram criadas por humanos que vieram antes de nós - motivados por suas necessidades -, as nossas próprias viagens astrais motivadas por nossas próprias necessidades.
Por isso entendo o que disse um certo mutilado de guerra que também era professor (que se deixe claro, ele não abandonou o barco, como de início o texto pode fazer entender, apenas mudou a direção), por nome Paul Feyerabend:
“Esses foram os pensamentos que passaram por minha cabeça enquanto eu olhava para meu público, e eles me fizeram recuar com repugnância e terror da tarefa que se presumia que eu executasse. Pois essa tarefa – isso agora se tornou claro para mim – era a de um feitor de escravos muito refinado, muito sofisticado. E um feitor de escravos eu não queria ser. [...] Experiências como essa me convenceram de que procedimentos intelectuais que abordam um problema por meio de conceitos estão no caminho errado e passei a interessar-me pelas razões do tremendo poder que esse erro agora tem sobre as mentes. [...] Queria saber o que faz com que pessoas que têm uma cultura rica e complexa deixem-se seduzir por abstrações secas e mutilem suas tradições, seu pensamento e sua língua a fim de que possam acomodar essas abstrações. [...] É sinal de presunção pressupor que se tenham soluções para pessoas de cuja vida não se compartilha e cujos problemas não se conhecem. É insensatez pressupor que tal exercício de humanitarismo distante terá efeitos que sejam agradáveis às pessoas envolvidas.”
É caro colega, como disse o velho Raul Seixas, alguns meses antes de partir:
“Se você correu, correu, correu tanto,
Não chegou a lugar nenhum,
Baby, oh baby...
Bem vindo ao século XXI...”
É preciso recolher os escombros e ir sempre adiante.
Dias Lopes
Veja. Nada contra o construtivismo, em suas muitas acepções. Muito pelo contrário. Tal concepção de mundo acerca do conhecer e do aprender “não está por fora” como diriam alguns. O problema é a institucionalização. Algo que sinaliza para a liberdade, como essa postura, não pode sobreviver dentro de um mundo que já foi formatado de inicio. Nada que tenha esta característica libertária poderá ficar enclausurado em muros, cronometrado, regido a toques de sirene.
Não sei se a memória é algo como um palácio onde estariam guardadas nossas lembranças, como falava Santo Agostinho, mas que de vez em quando nos surge algo que não estava aqui e que por certo talvez estivesse em outro lugar, isso nos parece indiscutível. Lembro de um dia o professor Djanilson Ramalho ter me falado de um texto em que Philippe Perrenoud chama a atenção ou discute (acho que não chegamos a aprofundar o assunto: a sirene tocou no momento) o fato de as ideias de Gardner, acerca das Múltiplas Inteligências, não ter decolado na educação. Tenho minha opinião sobre isso (não sei se é a mesma de Perrenoud, afinal não li o texto): isso se deve ao fato de que Gardner sinaliza para a liberdade, ao defender que cada aluno tem uma habilidade que tende a desenvolver mais, e que isso deveria ser desenvolvido pela escola e não extirpado. Ou seja, àquele aluno que não sabe matemática, mas sabe desenhar devem-se dar condições para que desenvolva suas capacidades artísticas. Mas isso no fundo não interessa à instituição escola, embora muitos professores possuam essa postura e teimem nesse sentido. Ainda bem!
O que impede a escola de proceder desta forma é o fato de que logo vem à tona a seguinte idéia, talvez inconsciente (ou não): será que desenhando ele terá condições de ganhar dinheiro e comprar, se inserir no mercado? No fundo, a escola, nos moldes que a conhecemos, é uma fábrica de futuros adeptos do mercado, do mercantilismo, desse escambo moderno que não cansa de moer vidas ao pé do balcão. Pronto está dito!
No geral, as escolas aprisionam as consciências. Deveriam ser espaços de troca de experiências, mas acabam sendo ambientes doutrinadores. E uma vez estando dentro desse calabouço, é muito difícil não aderir à suas práticas, pois são muitas as pressões (exames dos mais diversos, Enem, Vestibular, Prova Brasil, SAEB e etc..). Se você quiser dar o salto em busca do que realmente vai importar para a maioria daqueles que ali estão (na sala de aula) tem que ir de encontro a tudo isso.
Mas alguém me diria: então você vai ensinar o quê? Pra quê? Vai formar alienados? A isto respondo serenamente: não. Apenas deve-se ser mais atento às reais necessidades existências daquele vivente que está ali na nossa frente. Isso não exclui o fato de que eu possa comentar com eles, por exemplo, as explicações que um certo inglês do século XVII deu para o fenômeno da queda dos corpos próximos à superfície da Terra - tendo o cuidado de mostrar que esta teoria não é a única explicação para este fato. Ou seja, viver e pensar a existência é muito mais importante do que apenas entender as leis de Newton.
Mas repito: fazer isso é muito difícil no castelo medieval que é a escola (com todo respeito ao medievo, que inclusive ainda conhecemos tão pouco, ou de forma tão distorcida). Porque para conversar, para trocar ideia, precisa-se de tempo, do tempo da escuta, do erro e do acerto. Do tempo que proporcionará a confiança e a segurança do jovem em seu mestre e vice-versa. Quase nada disso é valorizado hoje nessa escola ultra-super-mega-acelerada. E se você é um professor de Física então, seus problemas são ainda maiores. Vocês já viram o programa de Física que é exigido que os alunos saibam nesses exames que elenquei acima? Se não, comprove você mesmo. É como se a cada aula professores e alunos tivessem condições de dar conta de concepções epistemológicas e filosóficas complexas, que levaram séculos para ser construídas – e que inclusive ainda estão sendo aperfeiçoadas. Como já disse em outros textos, exige-se que se carregue o mundo - tal como foi explicado até hoje - nas costas. Acerca disso temos que afirmar: Não podemos!!!
Numa escola para a vida, os muros devem estar restritos à sua estrutura física, não circunscrevendo as mentalidades.
Não somos entidades cibernéticas como aquelas retratadas no filme Matrix (alto filme), nas quais se implantam cartuchos de informação de acordo com a necessidade. Temos sentimentos. Possuímos o livre arbítrio. Interessa-nos, além desse catatau de coisas que foram criadas por humanos que vieram antes de nós - motivados por suas necessidades -, as nossas próprias viagens astrais motivadas por nossas próprias necessidades.
Por isso entendo o que disse um certo mutilado de guerra que também era professor (que se deixe claro, ele não abandonou o barco, como de início o texto pode fazer entender, apenas mudou a direção), por nome Paul Feyerabend:
“Esses foram os pensamentos que passaram por minha cabeça enquanto eu olhava para meu público, e eles me fizeram recuar com repugnância e terror da tarefa que se presumia que eu executasse. Pois essa tarefa – isso agora se tornou claro para mim – era a de um feitor de escravos muito refinado, muito sofisticado. E um feitor de escravos eu não queria ser. [...] Experiências como essa me convenceram de que procedimentos intelectuais que abordam um problema por meio de conceitos estão no caminho errado e passei a interessar-me pelas razões do tremendo poder que esse erro agora tem sobre as mentes. [...] Queria saber o que faz com que pessoas que têm uma cultura rica e complexa deixem-se seduzir por abstrações secas e mutilem suas tradições, seu pensamento e sua língua a fim de que possam acomodar essas abstrações. [...] É sinal de presunção pressupor que se tenham soluções para pessoas de cuja vida não se compartilha e cujos problemas não se conhecem. É insensatez pressupor que tal exercício de humanitarismo distante terá efeitos que sejam agradáveis às pessoas envolvidas.”
É caro colega, como disse o velho Raul Seixas, alguns meses antes de partir:
“Se você correu, correu, correu tanto,
Não chegou a lugar nenhum,
Baby, oh baby...
Bem vindo ao século XXI...”
É preciso recolher os escombros e ir sempre adiante.
Dias Lopes
sábado, 22 de outubro de 2011
AVALIAR
Avaliar é parar.
Com o tempo na cara.
É o papel e você
Sentado na sala.
Querendo fugir.
Do tudo e do nada.
Dias Lopes
Com o tempo na cara.
É o papel e você
Sentado na sala.
Querendo fugir.
Do tudo e do nada.
Dias Lopes
ABANDONANDO-SE
Naquele belo dia de segunda-feira,
Ele acordou.
Arrumou tudo como sempre.
Saiu no mesmo horário.
Pela mesma porta de sempre.
E abandonou-se...
Não queria mais ...
Não queria mais um papel apenas.
Decidiu mergulhar no medo do mundo.
Resolveu desamedrontar-se.
Dispersar-se.
Despedaçar-se.
Deixar de ser um pedaço e voltar ao todo.
O todo sem nome.
Sem linguagem de cena.
O todo sem gente-com-medo-do-medo.
Dias Lopes
Ele acordou.
Arrumou tudo como sempre.
Saiu no mesmo horário.
Pela mesma porta de sempre.
E abandonou-se...
Não queria mais ...
Não queria mais um papel apenas.
Decidiu mergulhar no medo do mundo.
Resolveu desamedrontar-se.
Dispersar-se.
Despedaçar-se.
Deixar de ser um pedaço e voltar ao todo.
O todo sem nome.
Sem linguagem de cena.
O todo sem gente-com-medo-do-medo.
Dias Lopes
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Viver para ele não é um estilo
Não entendem
Porque ele pede.
Não é porque não quer
Mas porque não pode.
Não pode, pois sua vida
Não é pra ser aquilo.
Viver para ele
Não é um estilo.
Vive apenas.
Como uma antena.
Não pensa em som.
E nem em imagem.
Não é ponto fixo
Mas uma passagem
Tempo precioso
Para o próprio ser
Recolhe-se em si
Assim é o viver
Não usa o tempo
Das roupas do mundo
Joga o relógio
Num lago profundo
Adaécio Lopes
Porque ele pede.
Não é porque não quer
Mas porque não pode.
Não pode, pois sua vida
Não é pra ser aquilo.
Viver para ele
Não é um estilo.
Vive apenas.
Como uma antena.
Não pensa em som.
E nem em imagem.
Não é ponto fixo
Mas uma passagem
Tempo precioso
Para o próprio ser
Recolhe-se em si
Assim é o viver
Não usa o tempo
Das roupas do mundo
Joga o relógio
Num lago profundo
Adaécio Lopes
O MASSACRE DO PROFESSOR NO JORNAL NACIONAL
Chego à moradia. Ligo a televisão e vejo notícias sobre o movimento grevista dos professores do estado do Ceará, no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. Entendi que os professores protestam contra uma lei que visa fixar o piso salarial em aproximadamente 1100 reais para Nível Médio, desconsiderando o escalonamento pecuniário àqueles que concluem especialização, mestrado ou doutorado. O que independente que qualquer coisa é um absurdo. Aqui no RN nem se fala. É como diz um amigo meu, quando me perguntarem qual a maior instância da Justiça do país, eu responderei: O Tribunal de Justiça do RN!
Mas vamos à matéria sobre o incidente com os professores do Ceará. Várias foram as questões que me despertaram a atenção quando daquela matéria.
Primeiro. Os professores queriam adentram no prédio da Assembléia Legislativa do Ceará. Afinal, esse pessoal de gravata e de terno não vive dizendo que lá é a casa do povo?! Pois bem, eles não estavam invadindo o prédio como diz o título da matéria do referido jornal, mas querendo assistir, acompanhar a votação da situação que, como bem frisou um dos manifestantes, iria decidir a vida dos que ali estavam e de outros milhares de professores. O argumento de que os educadores poderiam intervir de forma negativa nos trabalhos dos deputados devido ao estado emotivo em que se encontravam não se sustenta. Impedir o povo de entrar na sua casa por estarem em estado emotivo? Um contra senso. Quantas vezes os deputados foram impedidos de freqüentar estas casas por discutir, partir para a agressão e até se esbofetear? E por votarem contra os interesses do povo? Nenhuma! Essa desculpa não cola senhores. Para impedir a passagem dos educadores, o poder usou a força, como de costume. Educadores agredidos fisicamente por reivindicar um direito. A cara do Brasil...
Outro absurdo foi o fato de o presidente da assembléia declarar que foi obrigado a agir daquela forma contra os educadores. Obrigado por quem?! Isso é jogo de retórica, quem decidiu “correr o ramo” nos professores foi você! Represália! Arbitrariedade! Uso abusivo da força! Esses são as reais formas de caracterizar esta ação. Não distorça a situação, culpando quem na verdade é vítima.
E o maior de todos os absurdos. O apresentador Willian Bonner ao final da reportagem, completa: “os professores querem um valor acima do que foi votado pela assembléia legislativa”. Nós sabemos que os jornalistas possuem um poder de distorção descomunal, e fazem isso de forma consciente e intencional. Bonner, não é que os professores querem um valor acima daquele, é um direito deles! Há entre uma coisa e outra uma diferença intransponível. Não nos enganemos, não foi uma displicência do âncora global. A palavra “querem” foi pensada cuidadosamente para este texto. Isso porque “querer” remete ao entendimento de que os educadores, com esta postura, estão sendo “mais uma vez intransigentes, folgados, abusivos” como alguns desinformados dizem por aí. Ou seja, este termo lança a falsa ideia de que os professores estão querendo mais do que de fato têm direito. O que na verdade, é justamente o contrário. Essa expressão penaliza quem a décadas já é penalizado.
A palavra “querem” fomenta tal sentimento e pensamento a quem está assistindo ao jornal. Ela induz e distorce o entendimento, vicia a informação e alicia a compreensão. Uma total incongruência. Inclusive porque ele sabe que tal direito ao piso aliado à carreira é constitucional desde 2008, justamente porque informações relacionadas a isso são noticiadas por este apresentador desde então - mas a constituição deste país e o rascunho de um bêbado (com todo respeito ao bêbado) parece não guardar grande diferença. Mesmo que o apresentador não soubesse ou não saiba destas questões – devido a um estranho lapso de memória – isso não lhe dá o direito de ser leviano.
Uma das mais perigosas artimanhas do discurso é agir de uma forma e fazer ou tentar fazer transparecer que age de outra. Nesse sentido, diria que a revolução consiste em vermos essas incongruências diárias, essas raspas de poder que estão embutidas no discurso instantâneo de cada dia.
Estejamos vigilantes.
Abraços.
Adaécio Lopes
Mas vamos à matéria sobre o incidente com os professores do Ceará. Várias foram as questões que me despertaram a atenção quando daquela matéria.
Primeiro. Os professores queriam adentram no prédio da Assembléia Legislativa do Ceará. Afinal, esse pessoal de gravata e de terno não vive dizendo que lá é a casa do povo?! Pois bem, eles não estavam invadindo o prédio como diz o título da matéria do referido jornal, mas querendo assistir, acompanhar a votação da situação que, como bem frisou um dos manifestantes, iria decidir a vida dos que ali estavam e de outros milhares de professores. O argumento de que os educadores poderiam intervir de forma negativa nos trabalhos dos deputados devido ao estado emotivo em que se encontravam não se sustenta. Impedir o povo de entrar na sua casa por estarem em estado emotivo? Um contra senso. Quantas vezes os deputados foram impedidos de freqüentar estas casas por discutir, partir para a agressão e até se esbofetear? E por votarem contra os interesses do povo? Nenhuma! Essa desculpa não cola senhores. Para impedir a passagem dos educadores, o poder usou a força, como de costume. Educadores agredidos fisicamente por reivindicar um direito. A cara do Brasil...
Outro absurdo foi o fato de o presidente da assembléia declarar que foi obrigado a agir daquela forma contra os educadores. Obrigado por quem?! Isso é jogo de retórica, quem decidiu “correr o ramo” nos professores foi você! Represália! Arbitrariedade! Uso abusivo da força! Esses são as reais formas de caracterizar esta ação. Não distorça a situação, culpando quem na verdade é vítima.
E o maior de todos os absurdos. O apresentador Willian Bonner ao final da reportagem, completa: “os professores querem um valor acima do que foi votado pela assembléia legislativa”. Nós sabemos que os jornalistas possuem um poder de distorção descomunal, e fazem isso de forma consciente e intencional. Bonner, não é que os professores querem um valor acima daquele, é um direito deles! Há entre uma coisa e outra uma diferença intransponível. Não nos enganemos, não foi uma displicência do âncora global. A palavra “querem” foi pensada cuidadosamente para este texto. Isso porque “querer” remete ao entendimento de que os educadores, com esta postura, estão sendo “mais uma vez intransigentes, folgados, abusivos” como alguns desinformados dizem por aí. Ou seja, este termo lança a falsa ideia de que os professores estão querendo mais do que de fato têm direito. O que na verdade, é justamente o contrário. Essa expressão penaliza quem a décadas já é penalizado.
A palavra “querem” fomenta tal sentimento e pensamento a quem está assistindo ao jornal. Ela induz e distorce o entendimento, vicia a informação e alicia a compreensão. Uma total incongruência. Inclusive porque ele sabe que tal direito ao piso aliado à carreira é constitucional desde 2008, justamente porque informações relacionadas a isso são noticiadas por este apresentador desde então - mas a constituição deste país e o rascunho de um bêbado (com todo respeito ao bêbado) parece não guardar grande diferença. Mesmo que o apresentador não soubesse ou não saiba destas questões – devido a um estranho lapso de memória – isso não lhe dá o direito de ser leviano.
Uma das mais perigosas artimanhas do discurso é agir de uma forma e fazer ou tentar fazer transparecer que age de outra. Nesse sentido, diria que a revolução consiste em vermos essas incongruências diárias, essas raspas de poder que estão embutidas no discurso instantâneo de cada dia.
Estejamos vigilantes.
Abraços.
Adaécio Lopes
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Que título dar a um poema?
Vão por entre os rios
Dos vales das sombras
Lá onde as coisas
Ganham seus nomes
Alimentem outros córregos
De mentes ruidosas
De águas barrrentas
E pingos nervosos
A minha saudade,
A minha esperança?
Traquejo com elas
Em passos de dança...
Adaécio Lopes
29/09/11
16:07
Dos vales das sombras
Lá onde as coisas
Ganham seus nomes
Alimentem outros córregos
De mentes ruidosas
De águas barrrentas
E pingos nervosos
A minha saudade,
A minha esperança?
Traquejo com elas
Em passos de dança...
Adaécio Lopes
29/09/11
16:07
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Mãos à obra
Meus amigos viver neste mundo moderno não é fácil. Assumimos que somos responsáveis por nós mesmos e por tudo, mas essa equação nunca bate. Estamos sempre com uma sensação de vazio, de perda e de incompletude que de forma alguma é resolvida a golpes de crítica, e muito menos se desconsiderarmos a critica e nos fecharmos no nosso mundinho egóico. Mas então qual a solução? Esse é justamente o problema: acharmos que tem uma solução para as coisas. Então é deixar tudo como está e pronto, ser um ente passivo e não buscar nenhum aperfeiçoamento? Não se trata disso, a questão é que, como colocou o pensador Ludwig Wittgenstein - mas não apenas ele, muitos sábios chegaram a este entendimento por outras vias – se há uma pergunta, é porque haverá uma resposta. Ou seja, a resposta já nasce com a pergunta. O intento já mostra suas garras justamente ao se constituir como intento. Ou ainda, a vontade não se livrará da vontade com um golpe de vontade. Como dizia sabiamente Raul Seixas, o princípio e o fim estão eternamente unidos em um romance astral.
E nesse sentido, a política, pelo menos como é feita atualmente, nada tem a nos ajudar. Isso porque esta política, sendo tributária do pensamento moderno, acredita que nós existimos como algo isolado, como um ser em separado e temos autonomia sobre nós mesmos. Veja, não estou me referindo a esta noção habitual de autonomia (financeira, profissional, social etc.). O que estou querendo dizer é que, assim como todos os saberes antigos sinalizavam, nós e o mundo não somos entidades separadas, mas um uno indistinto. No mundo moderno, ao contrario, nós não vivemos o mundo, carregamo-lo nas costas. E essa tarefa está cada vez mais complicada de ser efetivada. O fato é que, meu amigo, eu sinto em informar, mas você não existe, não como sempre tem acreditado. Você, João, Severino, Paulo, Francisco, Antônio, não existe. Esse nome, essa identidade, essa noção de propriedade privada que todos nós temos, tudo isso é recente. É moderno. Como diz o pensador Michel Foucault, o homem como conhecemos é algo muito recente na história da humanidade. E segundo este pensador e outros, tal conceito já tem seus dias contados.
Um exemplo da personificação da existência humana é representada pelo seguinte: os nomes, pelo menos os tradicionais, se referem sempre a alguma situação, paisagem, sentimento, característica e etc.. Ou seja, o nome João não é João por causa de João, mas pelo que significa a palavra João, digamos. Embora hoje a gente tenha perdido esse significado. Pedro, por exemplo, quer dizer pedra, rocha, o que remete a uma idéia de força, resistência, potencia. Os nomes dos sítios ainda são exemplo do momento anterior, já que as cidades vão a cada dia ganhando nomes de pessoas, entrando no mundo do culto á personalidade, compactuando da idéia de que o homem existe como algo separado do todo. Imperatriz, Varzea da Caatinga, Junco, se transformaram em Matins, Rafael Godeiro, e Messias Targino, só para citar alguns exemplos da região circunvizinha a Olho D’água do Borges (que nome lindo e poético esse de nossa cidade).
Achar que nós existimos causa todo tipo de mazela para os humanos. Os animais, por exemplo, não possuem esse problema. Não se angustiam com a morte, não precisam justificar sua vida a todo instante, nem eleger outros animais para governá-los com medo de que não o consigam. Ainda achamos que somos muito melhores do que os animais! Esse humanos... Se tratando do mundo cristão – já que praticamente todas as culturas possuem exemplos semelhantes - Jesus nos falou justamente dessa problemática: aqueles que querem me seguir larguem tudo. Entendo que Jesus não queria ser seguido, como o termo faz entender, queria sim ser entendido, assimilado como mensageiro do além homem. Hoje se sabe que o Cristo era estudioso e praticante dos saberes dos Essênios, tribo nômade, que praticava a partilha, a comunidade e o desapego. Essas concepções permeiam a figura de Jesus, como sabemos. O que significa largar tudo e segui-lo? Significa ir além dessa carapaça que achamos ser o todo. Ir além do nome, da propriedade, da mente. Realmente ser! Lembra quando Jesus foi perguntado se era o Rei dos Judeus? Qual foi sua resposta? “Tú o dizes”. Algo semelhante ao que Buda respondeu quando perguntado se tinha atingido a iluminação.
Voltando à política, dá para perceber que não se trata de ser um ou outro candidato ou governante que resolverá essa situação. Ninguém a resolverá, e nesse sentido, muito menos a política. Isso porque, ela caminha no sentido de centralização no homem, no ego e no poder que isso enseja. Então como seria um governo dentro desse contexto de “negação” do homem? Veja, se a pessoa entende que ela não existe como um circulo autosuficiente, se entende, ainda como Raul Seixas, que somos uma metamorfose ambulante, que “hoje eu sou uma estrelaa,manhã se apagou”, que “se hoje eu te odeio e amanhã lhe tenho amor ... que eu sou um ator”, nada mais natural do que caminhar no sentido de uma descentralização. A única coisa que a centralização gera é poder, e o poder não tem outra ação que o caracteriza, o poder é feito para subjugar. Então o que fazer com esse poder que você centraliza em você mesmo, para que não colapse? Voltá-lo contra os demais. Quem acredita mais na política? Ela existe para seu interesse próprio. Todos nós sabemos disso é só olhar de lado e/ou pararmos para pensar um pouco.
Logo, a atitude realmente séria de quem quer se meter com política deve ser: estar nela o mínimo possível. Nesse sentido, descentralizando as ações, as decisões, os benefícios. É nesse sentido que criticamos a atual gestão em Olho D’água do Borges. Veja, isso não é eu que estou dizendo. As denuncias são praticamente diárias e de muitas pessoas, e sobre várias áreas e situações. Mas algo permeia e é comum a todas elas. A prepotência, a intransigência, a centralização e o falta de abertura que existe nesse governo. Como já foi colocado, por várias pessoas inclusive, como é que um governo pode dizer que há cidadania com uma postura dessas? É o que se costuma dizer: é dar um tiro no próprio pé. Todos percebem. Está em tudo o caráter centralizador desta administração, os próprios aliados confirmam, assumem. Talvez colapse internamente, como alguns indícios recentes demonstram, para os mais observadores.
Deixemos a poesia falar:
A OBRA
A obra é o rastro
A relva e o pasto
Pegadas vencidas
Êxtase gasto
Não tem serventia
Na hora do dia
Que nos incendeia
Aquela agonia
Em torno da gente
O que ela constrói
É apenas semente
De espinho que dói
Joga-nos no tempo
E nos apavora
Sendo assombração
Para toda hora
Lembra-nos da gente
Força-nos à guerra
Faz-nos indivíduos
Á face da Terra
Liberte-se disso
Fale de outro jeito
Rompa o universo
De causa e efeito
Você não existe
Já sabe que não
Portanto, não junte
Pegadas do chão
Será que há jeito?
Ser um ente contente?
Sem pensar direto,
Que está indo em frente?
Será o progresso,
Um irmão do medo?
Gritando pra gente,
Que já não é cedo?
Se não fosse assim,
Como é que seria?
E o resto de tempo,
Desse fim de dia?
Autor: Fragmentos de Sendo na Solidão da Tarde ou Aquele a Quem Chamam Francisco Adaécio Dias Lopes
E nesse sentido, a política, pelo menos como é feita atualmente, nada tem a nos ajudar. Isso porque esta política, sendo tributária do pensamento moderno, acredita que nós existimos como algo isolado, como um ser em separado e temos autonomia sobre nós mesmos. Veja, não estou me referindo a esta noção habitual de autonomia (financeira, profissional, social etc.). O que estou querendo dizer é que, assim como todos os saberes antigos sinalizavam, nós e o mundo não somos entidades separadas, mas um uno indistinto. No mundo moderno, ao contrario, nós não vivemos o mundo, carregamo-lo nas costas. E essa tarefa está cada vez mais complicada de ser efetivada. O fato é que, meu amigo, eu sinto em informar, mas você não existe, não como sempre tem acreditado. Você, João, Severino, Paulo, Francisco, Antônio, não existe. Esse nome, essa identidade, essa noção de propriedade privada que todos nós temos, tudo isso é recente. É moderno. Como diz o pensador Michel Foucault, o homem como conhecemos é algo muito recente na história da humanidade. E segundo este pensador e outros, tal conceito já tem seus dias contados.
Um exemplo da personificação da existência humana é representada pelo seguinte: os nomes, pelo menos os tradicionais, se referem sempre a alguma situação, paisagem, sentimento, característica e etc.. Ou seja, o nome João não é João por causa de João, mas pelo que significa a palavra João, digamos. Embora hoje a gente tenha perdido esse significado. Pedro, por exemplo, quer dizer pedra, rocha, o que remete a uma idéia de força, resistência, potencia. Os nomes dos sítios ainda são exemplo do momento anterior, já que as cidades vão a cada dia ganhando nomes de pessoas, entrando no mundo do culto á personalidade, compactuando da idéia de que o homem existe como algo separado do todo. Imperatriz, Varzea da Caatinga, Junco, se transformaram em Matins, Rafael Godeiro, e Messias Targino, só para citar alguns exemplos da região circunvizinha a Olho D’água do Borges (que nome lindo e poético esse de nossa cidade).
Achar que nós existimos causa todo tipo de mazela para os humanos. Os animais, por exemplo, não possuem esse problema. Não se angustiam com a morte, não precisam justificar sua vida a todo instante, nem eleger outros animais para governá-los com medo de que não o consigam. Ainda achamos que somos muito melhores do que os animais! Esse humanos... Se tratando do mundo cristão – já que praticamente todas as culturas possuem exemplos semelhantes - Jesus nos falou justamente dessa problemática: aqueles que querem me seguir larguem tudo. Entendo que Jesus não queria ser seguido, como o termo faz entender, queria sim ser entendido, assimilado como mensageiro do além homem. Hoje se sabe que o Cristo era estudioso e praticante dos saberes dos Essênios, tribo nômade, que praticava a partilha, a comunidade e o desapego. Essas concepções permeiam a figura de Jesus, como sabemos. O que significa largar tudo e segui-lo? Significa ir além dessa carapaça que achamos ser o todo. Ir além do nome, da propriedade, da mente. Realmente ser! Lembra quando Jesus foi perguntado se era o Rei dos Judeus? Qual foi sua resposta? “Tú o dizes”. Algo semelhante ao que Buda respondeu quando perguntado se tinha atingido a iluminação.
Voltando à política, dá para perceber que não se trata de ser um ou outro candidato ou governante que resolverá essa situação. Ninguém a resolverá, e nesse sentido, muito menos a política. Isso porque, ela caminha no sentido de centralização no homem, no ego e no poder que isso enseja. Então como seria um governo dentro desse contexto de “negação” do homem? Veja, se a pessoa entende que ela não existe como um circulo autosuficiente, se entende, ainda como Raul Seixas, que somos uma metamorfose ambulante, que “hoje eu sou uma estrelaa,manhã se apagou”, que “se hoje eu te odeio e amanhã lhe tenho amor ... que eu sou um ator”, nada mais natural do que caminhar no sentido de uma descentralização. A única coisa que a centralização gera é poder, e o poder não tem outra ação que o caracteriza, o poder é feito para subjugar. Então o que fazer com esse poder que você centraliza em você mesmo, para que não colapse? Voltá-lo contra os demais. Quem acredita mais na política? Ela existe para seu interesse próprio. Todos nós sabemos disso é só olhar de lado e/ou pararmos para pensar um pouco.
Logo, a atitude realmente séria de quem quer se meter com política deve ser: estar nela o mínimo possível. Nesse sentido, descentralizando as ações, as decisões, os benefícios. É nesse sentido que criticamos a atual gestão em Olho D’água do Borges. Veja, isso não é eu que estou dizendo. As denuncias são praticamente diárias e de muitas pessoas, e sobre várias áreas e situações. Mas algo permeia e é comum a todas elas. A prepotência, a intransigência, a centralização e o falta de abertura que existe nesse governo. Como já foi colocado, por várias pessoas inclusive, como é que um governo pode dizer que há cidadania com uma postura dessas? É o que se costuma dizer: é dar um tiro no próprio pé. Todos percebem. Está em tudo o caráter centralizador desta administração, os próprios aliados confirmam, assumem. Talvez colapse internamente, como alguns indícios recentes demonstram, para os mais observadores.
Deixemos a poesia falar:
A OBRA
A obra é o rastro
A relva e o pasto
Pegadas vencidas
Êxtase gasto
Não tem serventia
Na hora do dia
Que nos incendeia
Aquela agonia
Em torno da gente
O que ela constrói
É apenas semente
De espinho que dói
Joga-nos no tempo
E nos apavora
Sendo assombração
Para toda hora
Lembra-nos da gente
Força-nos à guerra
Faz-nos indivíduos
Á face da Terra
Liberte-se disso
Fale de outro jeito
Rompa o universo
De causa e efeito
Você não existe
Já sabe que não
Portanto, não junte
Pegadas do chão
Será que há jeito?
Ser um ente contente?
Sem pensar direto,
Que está indo em frente?
Será o progresso,
Um irmão do medo?
Gritando pra gente,
Que já não é cedo?
Se não fosse assim,
Como é que seria?
E o resto de tempo,
Desse fim de dia?
Autor: Fragmentos de Sendo na Solidão da Tarde ou Aquele a Quem Chamam Francisco Adaécio Dias Lopes
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Eu, meu pai e a estrada
Meu pai grande e eu pequeno
Na estrada do cacimbão
Alguém nos acompanhava
E fazia uma saudação
E entabulavam conversa
De alguma situação
Esse era meu cinema
Passadiço dos Joéis
Eu, papai e Lourival
Representando os papéis
Tinha Anísio e Chico Barros
E outros grandes menestréis
Papai sempre caminhando
Fazendo o sinal sagrado
Uma ferramenta na mão
E um cachorro de lado
Ouvindo o som da cigarra
Este ser vivo encantado
O vivente andando a pé
É que contempla o sertão
Esse era o conselho
Do ilustre Gonzagão
No devagar das passadas
E no ritmo do Cancão
À noitinha os vaga-lumes
Em sua dança altaneira
Junto da farra dos pássaros
E o baile da Rosa–cera
Mostravam ao sertanejo
A vida da Terra inteira
E na subida do alto
Avistava-se a cidade
Papai olhava pra traz
A contemplar a verdade
E aquela ação já era
O reflexo da saudade.
Adaécio Lopes
Na estrada do cacimbão
Alguém nos acompanhava
E fazia uma saudação
E entabulavam conversa
De alguma situação
Esse era meu cinema
Passadiço dos Joéis
Eu, papai e Lourival
Representando os papéis
Tinha Anísio e Chico Barros
E outros grandes menestréis
Papai sempre caminhando
Fazendo o sinal sagrado
Uma ferramenta na mão
E um cachorro de lado
Ouvindo o som da cigarra
Este ser vivo encantado
O vivente andando a pé
É que contempla o sertão
Esse era o conselho
Do ilustre Gonzagão
No devagar das passadas
E no ritmo do Cancão
À noitinha os vaga-lumes
Em sua dança altaneira
Junto da farra dos pássaros
E o baile da Rosa–cera
Mostravam ao sertanejo
A vida da Terra inteira
E na subida do alto
Avistava-se a cidade
Papai olhava pra traz
A contemplar a verdade
E aquela ação já era
O reflexo da saudade.
Adaécio Lopes
Olho d'Água do Borges - Alguns sítios da localidade
Olho D’água e as mangueiras
Inveja e seus campos vastos
Bela vista é a paisagem
De lindos, floridos pastos
A cacimba da fazenda
Com aqueles tijolos gastos
Bela-flor é alagado
O Alívio é a quietude
Sítio Brejo já nos lembra
Aquele grande açude
Nos Cardosos têm as festas
Que animam a juventude
Lembro da Várzea Comprida
Que até parece uma ilha
Da figura de Raimundo
E daquela sua filha
Do parente João de Lídia
E sua gorda matilha
Grotão de Euclides Sales
De conhecida fartura
Aqueles grandes currais
São exemplo da estrutura
Do maravilhoso mundo
Desta forte criatura
Lá no sítio Timbaúba
Impressiona-me aquilo
É um castelo, é um mundo
De exuberante estilo!
Paro e fico contemplando...
A casa de Petronilo.
Riacho do Cunha e Tanques
Torão, Serrote e Nevoeiro
Gitirana e Cajazeira
Caiçara e Tabuleiro
Borracha e São Geraldo
E Encantado verdadeiro
Lagoa Grande é um mundo
O sitio de outros viventes
Os arvoredos e os ninhos
Veem sempre com as enchentes
Pitando um quadro frondoso
No húmus de nossas mentes
Adaécio Lopes
Inveja e seus campos vastos
Bela vista é a paisagem
De lindos, floridos pastos
A cacimba da fazenda
Com aqueles tijolos gastos
Bela-flor é alagado
O Alívio é a quietude
Sítio Brejo já nos lembra
Aquele grande açude
Nos Cardosos têm as festas
Que animam a juventude
Lembro da Várzea Comprida
Que até parece uma ilha
Da figura de Raimundo
E daquela sua filha
Do parente João de Lídia
E sua gorda matilha
Grotão de Euclides Sales
De conhecida fartura
Aqueles grandes currais
São exemplo da estrutura
Do maravilhoso mundo
Desta forte criatura
Lá no sítio Timbaúba
Impressiona-me aquilo
É um castelo, é um mundo
De exuberante estilo!
Paro e fico contemplando...
A casa de Petronilo.
Riacho do Cunha e Tanques
Torão, Serrote e Nevoeiro
Gitirana e Cajazeira
Caiçara e Tabuleiro
Borracha e São Geraldo
E Encantado verdadeiro
Lagoa Grande é um mundo
O sitio de outros viventes
Os arvoredos e os ninhos
Veem sempre com as enchentes
Pitando um quadro frondoso
No húmus de nossas mentes
Adaécio Lopes
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Conhecimento
Atmosfera de conceitos.
Bases em erupção
Sopram vapores etéreos
Que se converte em ação
Todo dia e a cada instante
Uma nova invenção
Em cada vulcão um mundo
Em cada unidade um ser
A busca pela resposta,
Que servirá pra manter
O encadeamento de tudo
Que hoje se pode ver.
Que destino trágico esse!
De um ser ao alvorecer
Rebelar-se contra um plano
Que vive do seu viver,
Como sair desse impasse,
E atingir todo o Ser?
Adaécio Lopes
Bases em erupção
Sopram vapores etéreos
Que se converte em ação
Todo dia e a cada instante
Uma nova invenção
Em cada vulcão um mundo
Em cada unidade um ser
A busca pela resposta,
Que servirá pra manter
O encadeamento de tudo
Que hoje se pode ver.
Que destino trágico esse!
De um ser ao alvorecer
Rebelar-se contra um plano
Que vive do seu viver,
Como sair desse impasse,
E atingir todo o Ser?
Adaécio Lopes
A sociedade fantasiada de loucura
O amigo Hugo Freitas, futuro enfermeiro, após cursar a disciplina de Saúde Mental, produziu este texto que divulgo com vocês. Ele também está se aventurando na escrita, está aos poucos entrando na toca do coelho.
Durante muito tempo as pessoas que apresentavam algum transtorno mental eram consideradas como seres endiabrados, ou ainda malucos e ponto final. A terapia do choque elétrico era a maior tecnologia disponível por muito tempo, e acreditava-se que aquelas sessões serviam como estabilizadores das mentes, os chamados “choques dos milagres” mal sabiam eles que o que ocorriam eram uma decapitação maior do que se tinha anteriormente, os doentes mentais eram molestados e castrados mentalmente, era a época da “morte viva”, era um tempo em que as ciências médicas procuravam didáticas mais coerentes para o tratamento de tais pessoas, no entanto o que se via eram hospitais psiquiátricos cada dia mais cheios e com uma mística de que, o choque combinado com a hospitalização íntegra e forçada causava uma tranqüilidade maior ao paciente. Este arcabouço de agressões causou além de melancolias e destruição neural, uma série de internamentos errados (o filme bicho de sete cabeças mostra exatamente isso), drogados ou pessoas que usavam drogas eram confundidos com loucos e misturados e obrigados a compartilharem da terapia elétrica.
Contudo o que se viu foram pessoas que nem saiam de uma esfera de dependência química, e ainda por cima acrescentavam os números de uma estatística assombrosa de loucos e de pessoas rejeitadas pela classe social dita como normal.
O que discutimos hoje em dia quanto humanos é entre outras coisas a inteligência do homem e, seus grandes nomes. Sigmun Freud foi apontado por muitos estudiosos e historiadores de sua arte, como sendo apenas mais um a desfrutar do prazer que os entorpecentes causavam no seu paladar cerebral. Então baseado neste contexto percebemos que se ele não fosse o Freud certamente este seria um maluco que necessitava de hospitalização logo, pois o que se via era não uma pessoa que queria um baseado ou uma carreirinha de pó, más um cara que dependia e necessitava de atendimento psíquico disponível.
O estudo da Saúde Mental envolve o homem como um todo, considerando as esferas biológicas, psíquica, social e espiritual. Abrangendo assim, desde o contexto social em que está inserido, até a fase de desenvolvimento em que se encontra. E é nesse processo que a saúde mental tem a necessidade de ser entendida de modo a considerar os constantes acontecimentos e mudanças no modo de pensar e atender a pessoa portadora de transtorno mental. Avanços na neurociência e na medicina do comportamento mostraram que como muitas doenças físicas, os transtornos mentais e de comportamento resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Entretanto, essas três dimensões biopsicossociais mantiveram-se separadas por muito tempo, criando visões fragmentadas e gerando práticas e saberes desarticulados.
DEPOIS DESTE CONTEXTO HISTÓRICO QUESTIONAMOS;
O que se percebe hoje em dia é que os “doidos” de fato conseguiram um espaço considerável nas rodas sociais, porém ainda há um longo caminho a percorrer.
As novas campanhas em saúde mental apontam para uma tônica de que a reinserção social, com o auxílio de profissionais capacitados e o apoio da família podem proporcionar a estes uma vida bem próxima do normal. Neste momento surge mais um questionamento: e somos normais? Não somos loucos? O que de fato é ser normal? Será que o fato de não se deitar no chão (como Neizão faz), ou não dizer coisas sem nexo (como Geraldo doido faz), é nos auto classificar normais?
Quando chamamos uma pessoa de maluco nos transformamos em médicos psiquiatras, uma vez que fazemos verdadeiros diagnósticos, dizemos que ele tem psicoses, neuroses e comportamentos diferentes. De fato isso é um pensamento perigoso, pensar como os outros não nos faz bem, isso nos leva a um mundo lapidado por outras cabeças, e talvez isso seja o ponto forte dos doentes mentais, “ELES FAZEM O QUE LHES DÃO NA TELHA”.
Quem foi que disse que dançar discrepantemente, ou ainda gritar por uma grande emoção é comportamento de loucura? Acredito que uma das maiores fraquezas mentais desta sociedade é pensar que existe um caminho único para a vida de todos. Às vezes o que pensamos sobre um fato pode ser apenas um pensar, más a certeza é que as atitudes são acima de tudo a foice que abre o caminho para suas verdadeiras vidas. Quem não chamaria Zé Ramalho de louco quando este abandonou uma faculdade de medicina para ser cantor de botequim? E hoje em dia será que as mesmas pessoas o chamariam?
Portanto, acredito que as novas tendências impostas por esta sociedade e a maioria das pessoas, são sem sombra de dúvida um fator grave de riso para a verdadeira loucura da vida que é parar suas vontades e não acreditar naquilo que você quer e pode alcançar. Ser assim pode sucumbir suas expectativas de vida e transformá-lo para sempre, então desamarre-se, erga a cabeça, vista-se com aquela calça djeans rasgada que a sociedade descrimina más que você gosta tanto e, seja feliz enquanto você tem saúde.
Finalizo com a célebre mensagem: “O QUE MAIS ME SURPREENDE NA HUMANIDADE SÃO OS HOMENS QUE ACHAM QUE TEM SAÚDE. MAL SABEM ELES QUE TER SAÚDE, NÃO É APENAS APRESENTAR SINAIS E SINTOMAS. TER SAÚDE NÃO É SÓ AUSÊNCIA DE DOENÇAS. MÁS ACIMA DE TUDO PERCEBER UM COMPLETO BEM-ESTAR FÍSICO E MENTAL, ASSIM SENDO, É NECESSÁRIO QUE SAIBAMOS USAR A MELHOR COISA QUE TEMOS: NOSSAS VIDAS”.
Valeu irmãos!
Ritualizemos sempre.
HUGO FREITAS. 10/ 09/ 2011
Durante muito tempo as pessoas que apresentavam algum transtorno mental eram consideradas como seres endiabrados, ou ainda malucos e ponto final. A terapia do choque elétrico era a maior tecnologia disponível por muito tempo, e acreditava-se que aquelas sessões serviam como estabilizadores das mentes, os chamados “choques dos milagres” mal sabiam eles que o que ocorriam eram uma decapitação maior do que se tinha anteriormente, os doentes mentais eram molestados e castrados mentalmente, era a época da “morte viva”, era um tempo em que as ciências médicas procuravam didáticas mais coerentes para o tratamento de tais pessoas, no entanto o que se via eram hospitais psiquiátricos cada dia mais cheios e com uma mística de que, o choque combinado com a hospitalização íntegra e forçada causava uma tranqüilidade maior ao paciente. Este arcabouço de agressões causou além de melancolias e destruição neural, uma série de internamentos errados (o filme bicho de sete cabeças mostra exatamente isso), drogados ou pessoas que usavam drogas eram confundidos com loucos e misturados e obrigados a compartilharem da terapia elétrica.
Contudo o que se viu foram pessoas que nem saiam de uma esfera de dependência química, e ainda por cima acrescentavam os números de uma estatística assombrosa de loucos e de pessoas rejeitadas pela classe social dita como normal.
O que discutimos hoje em dia quanto humanos é entre outras coisas a inteligência do homem e, seus grandes nomes. Sigmun Freud foi apontado por muitos estudiosos e historiadores de sua arte, como sendo apenas mais um a desfrutar do prazer que os entorpecentes causavam no seu paladar cerebral. Então baseado neste contexto percebemos que se ele não fosse o Freud certamente este seria um maluco que necessitava de hospitalização logo, pois o que se via era não uma pessoa que queria um baseado ou uma carreirinha de pó, más um cara que dependia e necessitava de atendimento psíquico disponível.
O estudo da Saúde Mental envolve o homem como um todo, considerando as esferas biológicas, psíquica, social e espiritual. Abrangendo assim, desde o contexto social em que está inserido, até a fase de desenvolvimento em que se encontra. E é nesse processo que a saúde mental tem a necessidade de ser entendida de modo a considerar os constantes acontecimentos e mudanças no modo de pensar e atender a pessoa portadora de transtorno mental. Avanços na neurociência e na medicina do comportamento mostraram que como muitas doenças físicas, os transtornos mentais e de comportamento resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Entretanto, essas três dimensões biopsicossociais mantiveram-se separadas por muito tempo, criando visões fragmentadas e gerando práticas e saberes desarticulados.
DEPOIS DESTE CONTEXTO HISTÓRICO QUESTIONAMOS;
O que se percebe hoje em dia é que os “doidos” de fato conseguiram um espaço considerável nas rodas sociais, porém ainda há um longo caminho a percorrer.
As novas campanhas em saúde mental apontam para uma tônica de que a reinserção social, com o auxílio de profissionais capacitados e o apoio da família podem proporcionar a estes uma vida bem próxima do normal. Neste momento surge mais um questionamento: e somos normais? Não somos loucos? O que de fato é ser normal? Será que o fato de não se deitar no chão (como Neizão faz), ou não dizer coisas sem nexo (como Geraldo doido faz), é nos auto classificar normais?
Quando chamamos uma pessoa de maluco nos transformamos em médicos psiquiatras, uma vez que fazemos verdadeiros diagnósticos, dizemos que ele tem psicoses, neuroses e comportamentos diferentes. De fato isso é um pensamento perigoso, pensar como os outros não nos faz bem, isso nos leva a um mundo lapidado por outras cabeças, e talvez isso seja o ponto forte dos doentes mentais, “ELES FAZEM O QUE LHES DÃO NA TELHA”.
Quem foi que disse que dançar discrepantemente, ou ainda gritar por uma grande emoção é comportamento de loucura? Acredito que uma das maiores fraquezas mentais desta sociedade é pensar que existe um caminho único para a vida de todos. Às vezes o que pensamos sobre um fato pode ser apenas um pensar, más a certeza é que as atitudes são acima de tudo a foice que abre o caminho para suas verdadeiras vidas. Quem não chamaria Zé Ramalho de louco quando este abandonou uma faculdade de medicina para ser cantor de botequim? E hoje em dia será que as mesmas pessoas o chamariam?
Portanto, acredito que as novas tendências impostas por esta sociedade e a maioria das pessoas, são sem sombra de dúvida um fator grave de riso para a verdadeira loucura da vida que é parar suas vontades e não acreditar naquilo que você quer e pode alcançar. Ser assim pode sucumbir suas expectativas de vida e transformá-lo para sempre, então desamarre-se, erga a cabeça, vista-se com aquela calça djeans rasgada que a sociedade descrimina más que você gosta tanto e, seja feliz enquanto você tem saúde.
Finalizo com a célebre mensagem: “O QUE MAIS ME SURPREENDE NA HUMANIDADE SÃO OS HOMENS QUE ACHAM QUE TEM SAÚDE. MAL SABEM ELES QUE TER SAÚDE, NÃO É APENAS APRESENTAR SINAIS E SINTOMAS. TER SAÚDE NÃO É SÓ AUSÊNCIA DE DOENÇAS. MÁS ACIMA DE TUDO PERCEBER UM COMPLETO BEM-ESTAR FÍSICO E MENTAL, ASSIM SENDO, É NECESSÁRIO QUE SAIBAMOS USAR A MELHOR COISA QUE TEMOS: NOSSAS VIDAS”.
Valeu irmãos!
Ritualizemos sempre.
HUGO FREITAS. 10/ 09/ 2011
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Caminhando
Escrever é exorcizar fantasmas. Ou melhor, dialogar com eles. De repente, uma idéia, uma problemática se apossa da gente e a melhor forma de se libertar desse encosto é enfrentá-lo. O que me motivou a escrever estas linhas não foi algo muito novo, nem o que vou falar o é, inclusive. Talvez a novidade seja a descrição de algumas nuances acerca desta problemática.
A questão é antiga e batida: na nossa pratica pedagógica, devemos ser conservadores ou construtivistas? Treinar ou fazer desabrochar inquietações?
Várias são as nuances que comungam para que a educação aconteça como adestramento e treinamento. Vejamos algumas delas. Primeiro vem o fato de que é muito mais fácil fazer o que vem sendo feito desde sempre do que propor algo diferente. Associado a isso, ou como parte deste processo vem o fato de que o capitalismo e seu mercado encorajam a necessidade de se preparar os estudantes para este mundo que ai está, para o dito mercado, instituindo aquilo que Paulo Freire chamou de educação bancária, na qual os aprendizes vão à escola, enchem suas gavetas de palavreados, conceitos e expressões e vão trabalhar. Algo totalmente mecânico. Acima de tudo isso, está o fato de que o ser humano está sempre apegado a certa noção de segurança, tentando sempre encontrar o seu paraíso, o cessar dos conflitos, como se isso fosse alcançado tão facilmente, e por um ato de vontade.
Mas, bancando o advogado do diabo, diríamos: até que ponto se tem direito de propor algo diferente para nossos alunos? Que direito nós temos de jogá-los na correnteza (diriam os mais conservadores)? Vejamos, agindo desta forma conservadora estamos nos colocando como deuses, como entes que deteriam a capacidade e a prerrogativa de decidir pelos outros, nesse caso os alunos. E pior ainda, estamos pressupondo com isso que o aluno é em si refratário ao novo, onde na verdade me parece que essa resistência vem sim é de nós mesmos. No fundo, quase sempre, a batalha a travar é contra nós mesmos.
O fato é que somos ainda muito presos àquela concepção de aluno como tabula rasa, como folha em branco que devemos preencher. Inclusive, acerca disso, lembro-me do que me falou o amigo Newton Lucena outro dia, quando de andada pelas ruas de Natal, sobre o fato de a palavra aluno significar “aquele que não tem luz” (a – negação; luno - luminoso). As palavras realmente são nascentes por onde podemos apanhar os signos do mundo. Essa concepção acerca do aprendente, daquele que está em desenvolvimento, fez com que o professor – este termo inclusive remete àquele que professa, que repete, que doutrina, ao invés de educador, que seria algo mais completo - se transformasse em um profissional, apenas, um assimilador e repetidor de teorias, escravizando-nos nessa tarefa hercúlea de lotar a gaveta, o receptáculo, levar luz a um ser supostamente opaco.
Apesar do relativo pouco tempo que convivo como professor com colegas em escolas, pude perceber nos nossos semblantes a insatisfação com a situação em que estamos metidos, muitas vezes por não desenvolvermos completamente nossas reais questões. Não tenhamos medo meus amigos. Saltemos pra dentro de nós mesmos. O que importa não são os portos, mas a travessia. Devemos exercitar a sabedoria e nessa caminhada nada mais natural e generoso de nossa parte do que ajudar aqueles que estão iniciando a sua travessia, assim como outros nos ajudaram. Eis o que seria uma bela metáfora para a figura e a prática do professor, ou melhor, do educador.
Percebo na maioria dos professores, uma componente muito forte ligada à imaginação, ao sonho, à sensibilidade, sendo este o motivo que talvez os fizeram procurar aquela carreira. Mas acontece que as formatações do sistema educacional o levam a se tornar um treinador de jovens e um repetidor de teorias, e isso faz desaparecer o brilho de seus olhos. Não sei se já ouviram falar, mas os pássaros que não apreendem a voar acabam morrendo de tristeza, de melancolia, digamos. Algo semelhante acomete os professores, inclusive sendo talvez responsável por diversos problemas emocionais relacionados a esta classe.
E o econômico, o mercado, o poder de compra, e o dinheiro, estas neuroses modernas, são obstáculos a transcender – podemos até conviver com elas, mas não podemos deixar que sejam representantes absolutos de nossa natureza, de nossos anseios, pois nos impediriam de alcançar as nossas reais verdades. Lembro nesse instante de uma história transmitida a mim pelo amigo Pablo Capistrano. Por coincidência depois pude ter acesso a esta bela narrativa em livros. O que seria de nós sem os amigos? Sem eles como faríamos o ritual diário? Epicuro que estava certo, um homem precisa de poucos e bons amigos, e de uma vida analisada.
A estória se deu na Grécia Antiga, e se passou, salvo pequenas incongruências, como informo a seguir. Alguns estudantes de filosofia, de tanto ouvirem falar do sábio, do grande Heráclito de Éfeso, decidiram conhecê-lo – este pensador é muito conhecido pelo aforismo em que manifesta o caráter fluido e mutável do mundo, da existência, ao declarar que jamais um homem tomará banho num mesmo rio, pois ambos, passados um segundo que seja, seriam diferentes de outrora. Estes jovens cruzaram grandes distâncias e dificuldades até encontrar a casa daquele velho sábio. Encontrando uma humilde residência tiveram a informação de que ali habitava o eminente Heráclito. Ao observarem aquele senhor velho, tentando acender uma fogueira para se esquecer e talvez cozinhar alguma comida, não se contiveram e exclamaram: “este é o grande Heráclito de Éfeso, considerado o oráculo vivo da Grécia?”. Nesse instante ele olhou para os jovens e balbuciou, do alto de sua grande sabedoria: “Os deuses também habitam esta casa”.
Ritualizemos sempre.
Adaécio Lopes.
A questão é antiga e batida: na nossa pratica pedagógica, devemos ser conservadores ou construtivistas? Treinar ou fazer desabrochar inquietações?
Várias são as nuances que comungam para que a educação aconteça como adestramento e treinamento. Vejamos algumas delas. Primeiro vem o fato de que é muito mais fácil fazer o que vem sendo feito desde sempre do que propor algo diferente. Associado a isso, ou como parte deste processo vem o fato de que o capitalismo e seu mercado encorajam a necessidade de se preparar os estudantes para este mundo que ai está, para o dito mercado, instituindo aquilo que Paulo Freire chamou de educação bancária, na qual os aprendizes vão à escola, enchem suas gavetas de palavreados, conceitos e expressões e vão trabalhar. Algo totalmente mecânico. Acima de tudo isso, está o fato de que o ser humano está sempre apegado a certa noção de segurança, tentando sempre encontrar o seu paraíso, o cessar dos conflitos, como se isso fosse alcançado tão facilmente, e por um ato de vontade.
Mas, bancando o advogado do diabo, diríamos: até que ponto se tem direito de propor algo diferente para nossos alunos? Que direito nós temos de jogá-los na correnteza (diriam os mais conservadores)? Vejamos, agindo desta forma conservadora estamos nos colocando como deuses, como entes que deteriam a capacidade e a prerrogativa de decidir pelos outros, nesse caso os alunos. E pior ainda, estamos pressupondo com isso que o aluno é em si refratário ao novo, onde na verdade me parece que essa resistência vem sim é de nós mesmos. No fundo, quase sempre, a batalha a travar é contra nós mesmos.
O fato é que somos ainda muito presos àquela concepção de aluno como tabula rasa, como folha em branco que devemos preencher. Inclusive, acerca disso, lembro-me do que me falou o amigo Newton Lucena outro dia, quando de andada pelas ruas de Natal, sobre o fato de a palavra aluno significar “aquele que não tem luz” (a – negação; luno - luminoso). As palavras realmente são nascentes por onde podemos apanhar os signos do mundo. Essa concepção acerca do aprendente, daquele que está em desenvolvimento, fez com que o professor – este termo inclusive remete àquele que professa, que repete, que doutrina, ao invés de educador, que seria algo mais completo - se transformasse em um profissional, apenas, um assimilador e repetidor de teorias, escravizando-nos nessa tarefa hercúlea de lotar a gaveta, o receptáculo, levar luz a um ser supostamente opaco.
Apesar do relativo pouco tempo que convivo como professor com colegas em escolas, pude perceber nos nossos semblantes a insatisfação com a situação em que estamos metidos, muitas vezes por não desenvolvermos completamente nossas reais questões. Não tenhamos medo meus amigos. Saltemos pra dentro de nós mesmos. O que importa não são os portos, mas a travessia. Devemos exercitar a sabedoria e nessa caminhada nada mais natural e generoso de nossa parte do que ajudar aqueles que estão iniciando a sua travessia, assim como outros nos ajudaram. Eis o que seria uma bela metáfora para a figura e a prática do professor, ou melhor, do educador.
Percebo na maioria dos professores, uma componente muito forte ligada à imaginação, ao sonho, à sensibilidade, sendo este o motivo que talvez os fizeram procurar aquela carreira. Mas acontece que as formatações do sistema educacional o levam a se tornar um treinador de jovens e um repetidor de teorias, e isso faz desaparecer o brilho de seus olhos. Não sei se já ouviram falar, mas os pássaros que não apreendem a voar acabam morrendo de tristeza, de melancolia, digamos. Algo semelhante acomete os professores, inclusive sendo talvez responsável por diversos problemas emocionais relacionados a esta classe.
E o econômico, o mercado, o poder de compra, e o dinheiro, estas neuroses modernas, são obstáculos a transcender – podemos até conviver com elas, mas não podemos deixar que sejam representantes absolutos de nossa natureza, de nossos anseios, pois nos impediriam de alcançar as nossas reais verdades. Lembro nesse instante de uma história transmitida a mim pelo amigo Pablo Capistrano. Por coincidência depois pude ter acesso a esta bela narrativa em livros. O que seria de nós sem os amigos? Sem eles como faríamos o ritual diário? Epicuro que estava certo, um homem precisa de poucos e bons amigos, e de uma vida analisada.
A estória se deu na Grécia Antiga, e se passou, salvo pequenas incongruências, como informo a seguir. Alguns estudantes de filosofia, de tanto ouvirem falar do sábio, do grande Heráclito de Éfeso, decidiram conhecê-lo – este pensador é muito conhecido pelo aforismo em que manifesta o caráter fluido e mutável do mundo, da existência, ao declarar que jamais um homem tomará banho num mesmo rio, pois ambos, passados um segundo que seja, seriam diferentes de outrora. Estes jovens cruzaram grandes distâncias e dificuldades até encontrar a casa daquele velho sábio. Encontrando uma humilde residência tiveram a informação de que ali habitava o eminente Heráclito. Ao observarem aquele senhor velho, tentando acender uma fogueira para se esquecer e talvez cozinhar alguma comida, não se contiveram e exclamaram: “este é o grande Heráclito de Éfeso, considerado o oráculo vivo da Grécia?”. Nesse instante ele olhou para os jovens e balbuciou, do alto de sua grande sabedoria: “Os deuses também habitam esta casa”.
Ritualizemos sempre.
Adaécio Lopes.
E ESSE TAL DE CONSTRUTIVISMO, O QUE É? DE ONDE VEM?
Trataremos de algumas questões teóricas relacionadas ao construtivismo. A idéia de construtivismo é tributária, advém do intuitivismo, ou intuicionismo, concepção fruto das discussões mediadas por paradoxos acerca da lógica e da matemática. O principio do intuicionismo surgiu do fato de o matemático Frege tentar reduzir a Matemática à Lógica. Isso porque Frege abstrai como principio, ao declarar que “toda propriedade determina um conjunto”, que a propriedade precede, antecede o conjunto. Russell, outro matemático, com seu paradoxo dos conjuntos que não pertencem a si mesmo, quebra o principio da abstração de Frege. Para Russell, “não é possível construir um conjunto dos conjuntos que não pertencem a si mesmos” (paremos um pouco nesta poética viagem matemática), por exemplo. Trocando em miúdos ele está dizendo que a propriedade é algo que surge da interação com o real, enquanto Frege parece entender que a ideia, a abstração, a teoria é que determinaria o real.
O outro personagem desta história é Brouwer. Segundo ele, Frege estaria equivocado, pois a lógica não é mais fundamental que a matemática, e o paradoxo vem do fato que considerarmos finito por abstração o que é infinito por natureza. Para Brouwer a intuição “é uma faculdade da mente que conhece imediatamente”, logo, “o conteúdo do currículo matemático deveria ser organizado em torno dos elementos, sendo que cada aluno deveria construir, ativamente, a matemática para si mesmo”. Isso porque, ainda segundo ele, “os elementos da matemática emergem concomitantemente com as construções matemáticas e são produzidos pela mesma ação livre da mente humana que produz as próprias construções”.
O intuicionismo considera a matemática como absoluta, enquanto que para o construtivismo esta é falível. Esta é a principal diferença entre construtivismo e intuicionismo. No entanto se não nos prendermos a esse detalhe poderemos considerá-los como pertencentes a uma única problemática. Não discutirei o mérito da questão se a matemática manifesta ou não os vestígios de uma suposta verdade absoluta.
Em minha opinião a principal contribuição do intuicionismo ou do construtivismo, seu descendente, é o fato de considerar a existência como algo aberto a infinitas possibilidades, sinalizando para a liberdade que isso enseja. Nesse sentido, a nossa prática pedagógica deveria estar de acordo com aquela velha máxima socrática, que acredita que o mestre não deve ensinar questões e respostas aos alunos, mas sim ajudar os alunos a desenvolver as suas próprias.
Adaécio Lopes
O outro personagem desta história é Brouwer. Segundo ele, Frege estaria equivocado, pois a lógica não é mais fundamental que a matemática, e o paradoxo vem do fato que considerarmos finito por abstração o que é infinito por natureza. Para Brouwer a intuição “é uma faculdade da mente que conhece imediatamente”, logo, “o conteúdo do currículo matemático deveria ser organizado em torno dos elementos, sendo que cada aluno deveria construir, ativamente, a matemática para si mesmo”. Isso porque, ainda segundo ele, “os elementos da matemática emergem concomitantemente com as construções matemáticas e são produzidos pela mesma ação livre da mente humana que produz as próprias construções”.
O intuicionismo considera a matemática como absoluta, enquanto que para o construtivismo esta é falível. Esta é a principal diferença entre construtivismo e intuicionismo. No entanto se não nos prendermos a esse detalhe poderemos considerá-los como pertencentes a uma única problemática. Não discutirei o mérito da questão se a matemática manifesta ou não os vestígios de uma suposta verdade absoluta.
Em minha opinião a principal contribuição do intuicionismo ou do construtivismo, seu descendente, é o fato de considerar a existência como algo aberto a infinitas possibilidades, sinalizando para a liberdade que isso enseja. Nesse sentido, a nossa prática pedagógica deveria estar de acordo com aquela velha máxima socrática, que acredita que o mestre não deve ensinar questões e respostas aos alunos, mas sim ajudar os alunos a desenvolver as suas próprias.
Adaécio Lopes
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Contunuação do texto anterior: A verdade e a política
Inexplicavelmente não consigo responder seu comentário Hugo. Por isso postei aqui.
Muita boa esta frase entre aspas Hugo.
Coloquemos mais algumas coisas para que pensemos juntos, todos.
Estou a par destas definições acerca da política. Nossa noção de política no Ocidente, como muita coisa, vem da Grécia Antiga. A política naquele contexto era a arte de gerenciar e dirigir a Polis, a cidade. Destaque-se aí o fato de que tal concepção tem uma origem de cunho teórico, ideal. Veja, os gregos instituíram o que passou-se a chamar de Democracia Escravista, onde as questões políticas estavam restritas aos homens livres, àqueles que não guerreavam, maiores de 21 anos, homens, nascidos em território grego. Como se pode ver eram poucos os que participavam das decisões políticas da cidade. E estes eram justamente os sábios, os acadêmicos, os intelectuais. Eles não se preocupavam com a sobrevivência, pois tudo era suprido pelos escravos. Veja, eu não estou aqui querendo dizer que a solução da política atual é deixar que apenas uma pequena parcela da sociedade participe, e menos ainda, é obvio, que seria a segregação e a escravização tal atenuante. O que estou querendo dizer é que esse modelo que forçamos ainda hoje não tem como funcionar para este contexto atual.
Platão, um dos principais teóricos proponentes da idéia de que a gerencia da Polis seria feita pelo filósofo, pelo sábio, aquele a quem todos deveriam seguir, parte do principio que tal vivente teria acesso à verdade suprema. Até aí nenhum problema. O problema é entender que esta verdade alcançada pelo rei-filósofo seria seguida por todos os demais. Veja, Platão tentou fazer com que a dinâmica das sociedades secretas, das academias gregas, do qual Pitágoras é um dos maiores representantes, fosse aplicada à vida pública. Acontece que no espaço público a dinâmica é diferente daquelas instituições compostas por iniciados e mestres. O público é público, todos tem livre arbítrio, principalmente na época atual. Mesmo naquela época e contexto tal intento não frutificou, para decepção de Platão.
Esse modelo foi aperfeiçoado pelos romanos, grandes civilistas que eram criaram a figura do senado, da assembléia, como representantes do povo. Mas veja, ainda temos que entender que está se tratando de um império, e que o senado tinha bem menos representatividade do que tem hoje, a ponto de um cavalo ter sido instituído senador por um dos imperadores, Calígula. Mas deixemos essa história em paz, voltemos para nosso tempo.
O fato é que essa idéia que a gente tem de história prejudica muitas vezes a gente. Lembro de um dia ter visto uma palestra de um eminente professor de História que dizia “um fato histórico não se modifica, nunca se modificará”. É esse entendimento que faz com que pensemos que a Revolução Francesa instaurou de uma vez por todas a Democracia no mundo e que esta realmente existe como algo autônomo, absoluto e salvador. Rousseau, o filósofo maior daquele período assim como Platão usa uma figura estilística, teórica, para supostamente resolver o impasse – veja Rousseau era um romântico, para muitos o precursor do romantismo, e não desqualificamos sua brilhante construção poética, criticamos sim a transformação da sua figura poética em solução para a pragmática que se estabeleceu. Parece que pensar que há uma solução é justamente o problema (esclareceremos melhor adiante). Acerca desta questão da Democracia, me coaduno com as colocações feitas por Tage Lindbom no livro O mito da democracia. A concepção de vontade geral que Rousseau expõe no seu livro O contrato social é tão alegórica e abstrata quanto a do rei-filósofo lançada por Platão. Em ambos os casos a questão de onde tais entidades firmariam sua verdade nem sequer é tocada – questão que atormentou tanto o sábio Arquimedes (“Dei-me um ponto de apoio e eu erguerei o mundo”) – justamente porque ambas são construções discursivas que pretendem se autosustentar.
O fato é que desde a instauração da Revolução Francesa e do Capitalismo, a coisa nunca foi tão calma como se tenta transparecer – o que não quer dizer que antes o era, mas pelo menos não se negava isso. Tivemos diversos conflitos, inclusive duas guerras mundiais. Esse modelo político se mantém à custa de combates e sufocantes ações reacionárias. As retaliações às manifestações de Maio de 68 e seu legado são um exemplo disso, eclodindo regimes totalitários e ditaduras em várias partes do mundo. Para muitos integrantes da esquerda tais mobilizações da década de 60 foram apolíticas e, portanto, não foram significativas no sentido de combater o “sistema” e o capitalismo. Penso justamente o contrário, foi uma oportunidade de refletir sobre a convivência dos humanos e de se mostrar outros referenciais nesse sentido. Isso porque uma de suas características principais foi a sociabilidade genuína que foi ali demonstrada, o espírito de tribo, de bando, para usar uma terminologia de Michel Maffesoli.
Tal concepção é totalmente diferente da qual se baseia o sistema político atual, pois ela não está baseada na concepção de sujeito, o grande marco da modernidade, que como mostra Michel Foucault em toda a sua obra, mas principalmente nos livros Microfísica do poder, As palavras e as coisas, e A arqueologia do saber, é algo recente na história da humanidade. Ou seja, a idéia de indivíduo é algo bastante recente em termos históricos e tal concepção é justamente o que possibilitou a instauração deste sistema político e econômico que muitos teem com uma inevitabilidade. O principal “responsável” por esta questão foi Descartes ao decretar que se “penso, logo existo”.
O fato é que não podemos voltar no tempo, reescrever a história, isso seria tão difícil quanto encontrar o ponto de apoio do qual comentamos há pouco. No entanto, outro fato ainda mais claro é que o homem parece não estar mais muito a fim de levar esse peso de se auto organizar a todo instante. E ao jogar isso para o social, será que já entendeu a lição com o episódio da vontade geral de Rousseau? Eis a questão. O que estará por vir? Vários movimentos pelo mundo estão sinalizando algo que ainda não se dá para perceber em que desembocará. Mas vou falar de algo que tive a oportunidade de presenciar.
A tomada da Câmara de Vereadores da Cidade do Natal este ano mostrou algo sugeres. Nas manifestações não tinha um líder, alguém que falava que centralizava as atenções, o poder, digamos. Era algo realmente de cunho coletivo. Inclusive quando os líderes de sindicatos ou outras organizações políticas que apoiavam os estudantes usavam da palavra no modelo usual, personalista, de palanque, os próprios integrantes do movimento vaiavam ou faziam batucadas em reprovação. Não haviam discursos entre eles, no máximo cantigas de ciranda e gritos de guerra. Inclusive o amigo Pablo Capistrano me falou que em conversa com o advogado Daniel Pessoa, este relatou a dificuldade de intervenção jurídica do poder legislativo municipal em relação ao movimento justamente pelo fato de que quando interrogados sobre quem seria o líder, o responsável, os estudantes respondiam “somos todos nós, o acampamento primavera sem borboleta”. Como será esse próximo momento político da humanidade eu não sei, mas acho que é por aí.
Valeu Irmãos.
Ritualizemos sempre.
Muita boa esta frase entre aspas Hugo.
Coloquemos mais algumas coisas para que pensemos juntos, todos.
Estou a par destas definições acerca da política. Nossa noção de política no Ocidente, como muita coisa, vem da Grécia Antiga. A política naquele contexto era a arte de gerenciar e dirigir a Polis, a cidade. Destaque-se aí o fato de que tal concepção tem uma origem de cunho teórico, ideal. Veja, os gregos instituíram o que passou-se a chamar de Democracia Escravista, onde as questões políticas estavam restritas aos homens livres, àqueles que não guerreavam, maiores de 21 anos, homens, nascidos em território grego. Como se pode ver eram poucos os que participavam das decisões políticas da cidade. E estes eram justamente os sábios, os acadêmicos, os intelectuais. Eles não se preocupavam com a sobrevivência, pois tudo era suprido pelos escravos. Veja, eu não estou aqui querendo dizer que a solução da política atual é deixar que apenas uma pequena parcela da sociedade participe, e menos ainda, é obvio, que seria a segregação e a escravização tal atenuante. O que estou querendo dizer é que esse modelo que forçamos ainda hoje não tem como funcionar para este contexto atual.
Platão, um dos principais teóricos proponentes da idéia de que a gerencia da Polis seria feita pelo filósofo, pelo sábio, aquele a quem todos deveriam seguir, parte do principio que tal vivente teria acesso à verdade suprema. Até aí nenhum problema. O problema é entender que esta verdade alcançada pelo rei-filósofo seria seguida por todos os demais. Veja, Platão tentou fazer com que a dinâmica das sociedades secretas, das academias gregas, do qual Pitágoras é um dos maiores representantes, fosse aplicada à vida pública. Acontece que no espaço público a dinâmica é diferente daquelas instituições compostas por iniciados e mestres. O público é público, todos tem livre arbítrio, principalmente na época atual. Mesmo naquela época e contexto tal intento não frutificou, para decepção de Platão.
Esse modelo foi aperfeiçoado pelos romanos, grandes civilistas que eram criaram a figura do senado, da assembléia, como representantes do povo. Mas veja, ainda temos que entender que está se tratando de um império, e que o senado tinha bem menos representatividade do que tem hoje, a ponto de um cavalo ter sido instituído senador por um dos imperadores, Calígula. Mas deixemos essa história em paz, voltemos para nosso tempo.
O fato é que essa idéia que a gente tem de história prejudica muitas vezes a gente. Lembro de um dia ter visto uma palestra de um eminente professor de História que dizia “um fato histórico não se modifica, nunca se modificará”. É esse entendimento que faz com que pensemos que a Revolução Francesa instaurou de uma vez por todas a Democracia no mundo e que esta realmente existe como algo autônomo, absoluto e salvador. Rousseau, o filósofo maior daquele período assim como Platão usa uma figura estilística, teórica, para supostamente resolver o impasse – veja Rousseau era um romântico, para muitos o precursor do romantismo, e não desqualificamos sua brilhante construção poética, criticamos sim a transformação da sua figura poética em solução para a pragmática que se estabeleceu. Parece que pensar que há uma solução é justamente o problema (esclareceremos melhor adiante). Acerca desta questão da Democracia, me coaduno com as colocações feitas por Tage Lindbom no livro O mito da democracia. A concepção de vontade geral que Rousseau expõe no seu livro O contrato social é tão alegórica e abstrata quanto a do rei-filósofo lançada por Platão. Em ambos os casos a questão de onde tais entidades firmariam sua verdade nem sequer é tocada – questão que atormentou tanto o sábio Arquimedes (“Dei-me um ponto de apoio e eu erguerei o mundo”) – justamente porque ambas são construções discursivas que pretendem se autosustentar.
O fato é que desde a instauração da Revolução Francesa e do Capitalismo, a coisa nunca foi tão calma como se tenta transparecer – o que não quer dizer que antes o era, mas pelo menos não se negava isso. Tivemos diversos conflitos, inclusive duas guerras mundiais. Esse modelo político se mantém à custa de combates e sufocantes ações reacionárias. As retaliações às manifestações de Maio de 68 e seu legado são um exemplo disso, eclodindo regimes totalitários e ditaduras em várias partes do mundo. Para muitos integrantes da esquerda tais mobilizações da década de 60 foram apolíticas e, portanto, não foram significativas no sentido de combater o “sistema” e o capitalismo. Penso justamente o contrário, foi uma oportunidade de refletir sobre a convivência dos humanos e de se mostrar outros referenciais nesse sentido. Isso porque uma de suas características principais foi a sociabilidade genuína que foi ali demonstrada, o espírito de tribo, de bando, para usar uma terminologia de Michel Maffesoli.
Tal concepção é totalmente diferente da qual se baseia o sistema político atual, pois ela não está baseada na concepção de sujeito, o grande marco da modernidade, que como mostra Michel Foucault em toda a sua obra, mas principalmente nos livros Microfísica do poder, As palavras e as coisas, e A arqueologia do saber, é algo recente na história da humanidade. Ou seja, a idéia de indivíduo é algo bastante recente em termos históricos e tal concepção é justamente o que possibilitou a instauração deste sistema político e econômico que muitos teem com uma inevitabilidade. O principal “responsável” por esta questão foi Descartes ao decretar que se “penso, logo existo”.
O fato é que não podemos voltar no tempo, reescrever a história, isso seria tão difícil quanto encontrar o ponto de apoio do qual comentamos há pouco. No entanto, outro fato ainda mais claro é que o homem parece não estar mais muito a fim de levar esse peso de se auto organizar a todo instante. E ao jogar isso para o social, será que já entendeu a lição com o episódio da vontade geral de Rousseau? Eis a questão. O que estará por vir? Vários movimentos pelo mundo estão sinalizando algo que ainda não se dá para perceber em que desembocará. Mas vou falar de algo que tive a oportunidade de presenciar.
A tomada da Câmara de Vereadores da Cidade do Natal este ano mostrou algo sugeres. Nas manifestações não tinha um líder, alguém que falava que centralizava as atenções, o poder, digamos. Era algo realmente de cunho coletivo. Inclusive quando os líderes de sindicatos ou outras organizações políticas que apoiavam os estudantes usavam da palavra no modelo usual, personalista, de palanque, os próprios integrantes do movimento vaiavam ou faziam batucadas em reprovação. Não haviam discursos entre eles, no máximo cantigas de ciranda e gritos de guerra. Inclusive o amigo Pablo Capistrano me falou que em conversa com o advogado Daniel Pessoa, este relatou a dificuldade de intervenção jurídica do poder legislativo municipal em relação ao movimento justamente pelo fato de que quando interrogados sobre quem seria o líder, o responsável, os estudantes respondiam “somos todos nós, o acampamento primavera sem borboleta”. Como será esse próximo momento político da humanidade eu não sei, mas acho que é por aí.
Valeu Irmãos.
Ritualizemos sempre.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
A verdade e a política
A VERDADE E A POLÍTICA
Muitas vezes não somos compreendidos quando das nossas colocações. Principalmente ao propor questões essenciais ou existenciais. Um exemplo disso é quando estamos às voltas com os problemas relacionados ao advento da representação política e as pessoas pensam que você está falando dos políticos, sendo, portanto, um crítico chato que em todos vê defeito, e que bom mesmo só você que critica. Com certeza é devido a isto que os iniciados nas ciências ocultas não falam por aí as suas questões, já que no máximo seriam distorcidas e mal entendidas. Vejam, não sou um ocultista, foi apenas um recurso didático.
Lembro nesse instante de um grande ocultista da história da humanidade: Jesus. Quando ele dizia que seu reino não era deste mundo e que aqueles que o subjugavam não sabiam o que estavam fazendo, ele estava justamente chamando a atenção para o fato de que as coisas que realmente importam não estão no plano da representação, nesse jogo de personas, de personagens que nós inventamos para nós mesmos, na guerra que isso enseja. E nesse sentido, a política é o combate por excelência. Ela nunca nos fará caminhar sobre as águas (contemplemos esta bela metáfora), como fez o Cristo e outros iluminados, justamente porque ela é egóica, sendo a ciência por excelência para o cultivo do ego, a egoística. A política trata de seus interesses, está a favor do poder, anseia por poder. E foi justamente acerca do poder que Jesus se expressou e ritualizou, sendo morto por isso. Veja, ele não queria conquistar o poder, ele não estava criticando algo por não o ter, simplesmente porque percebeu que a verdade não estava neste processo, e principalmente, entendeu que somente a verdade nos libertará. E a verdade, ela não está no externo, ela está dentro de nós mesmos, e só vasculhar, descascar esta carcaça que achamos ser tudo que nos forma. Veja, mas o que isto tem a ver com política? Tudo. Vamos adiante.
Isso parece papo cabeça, coisa de bêbado ou algo parecido, mas é compreensível, porque só quem de alguma forma foi tocado pode perceber a profundidade que esta questão da verdade suscita. Veja, Cristo é para ser entendido, assimilado, não cultuado. Foi justamente este mecanismo do culto que fez com que colocássemo-lo como nosso salvador, nos livrando do fazer existencial de cada dia. Mas você repetiria: e o que isso tem a ver com política? Respondo novamente: tudo. Mas tudo mesmo. A nossa posição deve ser colocada a cada instante. É justamente o fato de colocarmos nas mãos de alguém o direito e o dever de comandar que gera o poder. Ninguém é bom ou mau. Todo mundo está-sendo, e devemos assumir isso a cada instante, do contrário seríamos covardes com nós mesmos. E não se enganem nobres colegas, ninguém conseguirá fugir de si mesmo nem das agruras da vida. Mas é justamente isto que tentamos fazer quando nos projetamos em alguém.
Nesse sentido, diria que o pensador francês Michel Foucault deu a última pedrada na vidraça da política quando disse que o discurso – a mola mestra da política – não nos reconciliará com nós mesmos, não resolverá nossos problemas. Isso porque é justamente o discurso que nos afasta do verdadeiro deus e de nós mesmos. Segundo a concepção contrária a esta, que está em toda a sabedoria antiga, deus nos fala justamente no silencio, ou seja, quando menos procuramos nos encontramos. Disto nos falou muito bem Mestre Eckhart, São Francisco de Assis e todos os verdadeiros santos do mundo.
Ocorre com Foucault atualmente o que já aconteceu com muitos desses sábios – veja, guardemos as devidas proporções, afinal este francês era um acadêmico e aqueles eram figuras iluminadas, que se deixe claro isto desde já. Quando Foucault diz que todo saber engendra poder, e que a psicologia jamais terá a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia, ele está justamente virando o jogo contra o discurso, ele está assumindo o caráter incerto e mágico do mundo, ele está nos dizendo em outras palavras e em outro contexto, o que aquele nazareno nos falou: levanta-te e anda homem.
Portanto meus amigos, para a pergunta “será que não há um político que não pense apenas no interesse próprio?”, a resposta é “Parece que não”, justamente porque a política comporta esta nefasta prática da briga pelo poder. Fiz este questionamento como forma de problematizar. Lembro de um habitante da cidade de Olho D’água do Borges que um dia me disse “Eu ainda não sou um político, e não sei se um dia o serei”. Talvez seja chegada a hora de se descobrir meu caro amigo. Meditemos nas duas citações a seguir, de Friedrich Nietzsche, no livro Gaia Ciência:
"Vivo em minha própria casa,
Jamais imitei algo de alguém
E sempre ri de todo mestre
Que nunca riu de si também.
(Citação do início do livro)"
################################
"Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tampouco – governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto e cismar,
E enfim me chamar pela distância,
Seduzindo-me para – voltar a mim"
Muitas vezes não somos compreendidos quando das nossas colocações. Principalmente ao propor questões essenciais ou existenciais. Um exemplo disso é quando estamos às voltas com os problemas relacionados ao advento da representação política e as pessoas pensam que você está falando dos políticos, sendo, portanto, um crítico chato que em todos vê defeito, e que bom mesmo só você que critica. Com certeza é devido a isto que os iniciados nas ciências ocultas não falam por aí as suas questões, já que no máximo seriam distorcidas e mal entendidas. Vejam, não sou um ocultista, foi apenas um recurso didático.
Lembro nesse instante de um grande ocultista da história da humanidade: Jesus. Quando ele dizia que seu reino não era deste mundo e que aqueles que o subjugavam não sabiam o que estavam fazendo, ele estava justamente chamando a atenção para o fato de que as coisas que realmente importam não estão no plano da representação, nesse jogo de personas, de personagens que nós inventamos para nós mesmos, na guerra que isso enseja. E nesse sentido, a política é o combate por excelência. Ela nunca nos fará caminhar sobre as águas (contemplemos esta bela metáfora), como fez o Cristo e outros iluminados, justamente porque ela é egóica, sendo a ciência por excelência para o cultivo do ego, a egoística. A política trata de seus interesses, está a favor do poder, anseia por poder. E foi justamente acerca do poder que Jesus se expressou e ritualizou, sendo morto por isso. Veja, ele não queria conquistar o poder, ele não estava criticando algo por não o ter, simplesmente porque percebeu que a verdade não estava neste processo, e principalmente, entendeu que somente a verdade nos libertará. E a verdade, ela não está no externo, ela está dentro de nós mesmos, e só vasculhar, descascar esta carcaça que achamos ser tudo que nos forma. Veja, mas o que isto tem a ver com política? Tudo. Vamos adiante.
Isso parece papo cabeça, coisa de bêbado ou algo parecido, mas é compreensível, porque só quem de alguma forma foi tocado pode perceber a profundidade que esta questão da verdade suscita. Veja, Cristo é para ser entendido, assimilado, não cultuado. Foi justamente este mecanismo do culto que fez com que colocássemo-lo como nosso salvador, nos livrando do fazer existencial de cada dia. Mas você repetiria: e o que isso tem a ver com política? Respondo novamente: tudo. Mas tudo mesmo. A nossa posição deve ser colocada a cada instante. É justamente o fato de colocarmos nas mãos de alguém o direito e o dever de comandar que gera o poder. Ninguém é bom ou mau. Todo mundo está-sendo, e devemos assumir isso a cada instante, do contrário seríamos covardes com nós mesmos. E não se enganem nobres colegas, ninguém conseguirá fugir de si mesmo nem das agruras da vida. Mas é justamente isto que tentamos fazer quando nos projetamos em alguém.
Nesse sentido, diria que o pensador francês Michel Foucault deu a última pedrada na vidraça da política quando disse que o discurso – a mola mestra da política – não nos reconciliará com nós mesmos, não resolverá nossos problemas. Isso porque é justamente o discurso que nos afasta do verdadeiro deus e de nós mesmos. Segundo a concepção contrária a esta, que está em toda a sabedoria antiga, deus nos fala justamente no silencio, ou seja, quando menos procuramos nos encontramos. Disto nos falou muito bem Mestre Eckhart, São Francisco de Assis e todos os verdadeiros santos do mundo.
Ocorre com Foucault atualmente o que já aconteceu com muitos desses sábios – veja, guardemos as devidas proporções, afinal este francês era um acadêmico e aqueles eram figuras iluminadas, que se deixe claro isto desde já. Quando Foucault diz que todo saber engendra poder, e que a psicologia jamais terá a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia, ele está justamente virando o jogo contra o discurso, ele está assumindo o caráter incerto e mágico do mundo, ele está nos dizendo em outras palavras e em outro contexto, o que aquele nazareno nos falou: levanta-te e anda homem.
Portanto meus amigos, para a pergunta “será que não há um político que não pense apenas no interesse próprio?”, a resposta é “Parece que não”, justamente porque a política comporta esta nefasta prática da briga pelo poder. Fiz este questionamento como forma de problematizar. Lembro de um habitante da cidade de Olho D’água do Borges que um dia me disse “Eu ainda não sou um político, e não sei se um dia o serei”. Talvez seja chegada a hora de se descobrir meu caro amigo. Meditemos nas duas citações a seguir, de Friedrich Nietzsche, no livro Gaia Ciência:
"Vivo em minha própria casa,
Jamais imitei algo de alguém
E sempre ri de todo mestre
Que nunca riu de si também.
(Citação do início do livro)"
################################
"Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tampouco – governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto e cismar,
E enfim me chamar pela distância,
Seduzindo-me para – voltar a mim"
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
O LEVANTE DO PROFESSOR
É verdade meu amigo
Mas não pode enfraquecer
Se você não faz a luta
Quem a vai empreender?
Estamos sempre lutando
No oficio de viver
Como disse Patativa,
De certa forma alertando,
Uma criança pequena
Já vem ao mundo chorando,
Como quem está sentindo
“Espinho lhe cutucando”.
A luta te abrirá
Um clarão na existência
Estando nela você
Alivia a consciência
E entende que lutar
É incorporar vivência
Lute sem esmorecer
Mas não espere demais
Pois viver é um processo
Que não acaba jamais
E que a vitória é sim
A luta que a gente faz
Estou querendo dizer
Que viver é caminhar
É contornar os problemas
Que porventura encontrar
Seguindo sempre em frente
Sem pensar em fraquejar
O professor se tornou
Um duto canalizado
Pra repetir teorias
Sem pensar nenhum bocado
O que fez com que ficasse
Um vivente acomodado
Levantemos companheiros
Sejamos como outrora
Quando os professores eram
O brilho forte da aurora
Sábios refletindo o tempo
E a vida de mundo a fora
Prof. Adaécio Lopes
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
O PROFESSOR MASSACRADO
Meu amigo diga logo
A mim em qual profissão
O soldado e o servente
Ganham mais que o capitão
Eu lhe digo prontamente
Somente na Educação
Na educação do RN
Tem um fato interessante
O professor que estuda
Faz curso e vai adiante
Acaba penalizado
Pois ganha o mesmo montante
Tem lei do piso e do plano
Mas tudo é uma piada
Continua o professor
Sofrendo sem ganhar nada
Humilhado em todo canto
Com sala superlotada
Um criador de galinha
Me disse “véi saia dessa
Pois eu trabalho bem menos
Tô vivendo bem a bessa
Minha rotina diária
Não me cansa nem me estressa”
Quem ta levando papel
De um lado para outro
Mangando do professor
Diz assim eu acho é pouco
Quem mandou estudar tanto
Pra viver ganhando troco?
E isso causa no mestre
Um desalento danado
De tanto levar pancada
Fica meio acabrunhado
E não há educação
Que melhore nesse (E/e)stado
Adaécio Lopes
PRA QUE SERVE A ARTE (REFLEXÕES ACERCA DE COMENTÁRIOS SOBRE EDSON DE PIPIU E SUA BATALHA: A QUADRILHA JUNINA JUVENTUDE NORDESTINA)?
Tempos estranhos esses. Tanto nas festividades do São João como agora recentemente, quando estive em Olho D’água, ouvi de várias pessoas algumas frases que me chamaram a atenção. Em resumo, diziam: “O que Edson de Pipiu ganha com essa trabalheira, com essa quadrilha?” Parece que tudo nessa vida atualmente tem que ter significado no sentido da quantificação ou do lucro. As festas e as manifestações artísticas genuínas existem para reverenciar o divino que está em cada um de nós. Inconscientemente, era para isso que personalidades já falecidas como Antônio Ferreira, meu Avô Sebastião de Lídia e muitos outros que não tenho conhecimento ou não lembro agora, faziam bailes em suas residências. Para que se dançasse, conversasse, tomasse alguns aperitivos e liberasse aquele nosso instinto de tribo, dançando samba, chote, baião, rancheira, valsa e xaxado a noite inteira. O ganho que recebiam não pode e não deve ser quantificado em moeda ou lucro de outra natureza.
Nesses instantes em que estamos acometidos pela arte e pela diversão, se abre a clareira que nos conecta ao eterno, lembrando o que me falou um dia o caro amigo Pablo Capistrano. Naquele instante não há o inicio nem o fim, apenas aquela vibração que nos toma por completo, um certo estado de transe, em um grau muito menor, mas semelhante ao que experimentam os místicos e os santos. A realidade nos aparece de forma límpida, se cristalizando em verdade. É de uma noção de verdade semelhante a essa que Cristo estava falando quando dizia: “A verdade vos libertará”.
Quando vi Edson entrar em cena empunhando aquele estandarte da Quadrilha Juventude Nordestina, na festa de São João deste ano em Olho D’água, a emoção me invadiu, me tomou de assalto, não esperava algo tão forte. Vi ali naquela apresentação os sinais dos grandes menestréis, dos mestres de reisado, dos maracatus e dos papangus (manifestação ritualística e teatral muito comum no século passado no sertão nordestino, inclusive nas localidades de Olho D’água – que, diga-se de passagem é lembrada com extremo saudosismo e saudade por muitos daqueles que vivenciaram esta manifestação).
Edson faz parte do clã dos Glória (acho que deve ser este o nome, pois sou mais acostumado a ouvir “Gulora”), família com forte tendência para as artes, principalmente a música, família de sanfoneiros, sendo Pipiu um dos últimos representantes. Querendo ou não, ou melhor, tendo ou não consciência, este filho de Pipiu vem se descobrindo atualmente como mensageiro e fruto desta árvore genealógica, assim como eu recentemente me descobri poeta e perpetuador dos Lopes (que inclusive são abundantes aqui no Seridó, e com as mesmas características dos daí: poetas, cantadores e visionários de alta sensibilidade).
O poeta, sendo um representante da catarse humana que é a arte, é justamente aquele ser que se comunica com as questões mais recônditas e importantes do nosso arcabouço existencial. Seu papel não é administrar a realidade, mas edificar a ponte entre o ente (a nossa carapaça externa) e o ser (aquilo que temos de mais essencial). Sua tarefa é estimular a centelha de nossa chama interior, fazer iniciar o trote das carruagens abandonadas que é o nosso mesmo de cada dia. Estes dias, na vaquejada do Parque Júlia de Freitas, conversa com o poeta e amigo Elói sobre isso, inclusive.
Enfim, acho que Edson desenvolve um trabalho de extrema importância em Olho D’água a frente da quadrilha Juventude Nordestina, fazendo com que os jovens que se reúnem para aquela manifestação desenvolvam suas potencialidades artísticas e corporais. E nesse sentido, acho que os seus integrantes devem fazer valer a sua autonomia, não caindo em cantos de sereia, que querem sim é usar o potencial artístico da quadrilha para seus interesses pessoais. Parabéns Edson e parabéns a todos que fazem a quadrilha!!!
E tratando de forma mais direta a questão que dá título a esses balbucios de um poeta no Domingo à tarde - embora cada linha seja uma tentativa de lançar luz sobre tal questão -, diria como o poeta maranhense Ferreira Gullar, que a vida nem sempre tem muito sentido. Por isso existe a arte. Encerro com uma poesia de minha autoria:
Textos dentro de garrafas
A trafegar em água calma
No curso da correnteza
Por entre os becos da alma
Assim é a poesia
E seu oficio profundo
Fazer a gente sentir
O vivo pulsar do mundo
O ofício do poeta
É ver em tudo magia
Diluindo assim a morte
Em pingos de poesia.
Ritualizemos sempre.
Prof. Adaécio Lopes
quinta-feira, 21 de julho de 2011
A GREVE ACABOU, MAS A LUTA APENAS COMEÇOU
"Ei escute, você que está ai sentado, há um líder dentro de você. Governe-o, faça-o falar, faça-o falar!!!"
Chico Science, cantando “Todos estão surdos” de Roberto Carlos
Essa greve foi importante por muitos aspectos. Ficou entendido que os professores têm sim capacidade de fazer um movimento político, embora ainda tenha-se muito o que fazer nesse sentido, já que a participação poderia ser muito maior do que aquela que presenciamos.
Espero que tenha ficado claro para todos os professores, que nem o poder legislativo, nem o poder executivo e muito menos os nossos representantes sindicais atuais, que estão à frente da direção estadual, serão responsáveis por melhorias, mas que a luta efetiva e constante desta categoria será o único caminho para uma melhoria efetiva da educação e da qualificação profissional dos educadores.
Desde o início a direção estadual do Sinte/RN foi contra este movimento. Estive presente, de uma forma ou de outra, em todo o movimento grevista e posso afirmar a forma enviesada com que este sindicato defendeu e encaminhou suas teses. É vergonhoso para todos nós ver os dirigentes de uma instituição representativa de professores e funcionários da educação fazer o jogo do governo e amedrontar a categoria e com isso conduzir para o fim da greve. A partir deste momento todos os nossos esforços devem ser concentrados para extirpar do movimento sindical essas pessoas que não estão á altura de representar e de liderar o nosso movimento.
Parabéns a todos e todas que abraçaram esta causa e que como eu estão agora indignados com a forma como o sindicato conduziu o fim deste movimento. Espero que assim como eu, todos também tenham sentido o sangue correr mais depressa nas suas veias, a emoção de fazer parte de uma coletividade, como se por um instante não fossemos Adaécio, Joaquim, Maria ou Benedito, mas parte de algo maior que nos perpassa. E eu lhes garanto que isso tudo não foi em vão, nem aconteceu por acaso, as pessoas voltaram a ir às ruas, a questionar a forma como as coisas estão sendo encaminhadas nos quatro cantos do mundo.
Esse movimento nos permite perceber que as coisas já não estão assim tão bem nesse mundo que há muito tempo está entregue à sua própria sorte. Como passageiro de um móvel relativístico fui percebendo mediante esta greve, as alterações e as distorções ocorridas na sociabilidade dos humanos e muitas outras questões que me foram surgindo – coisas que se estando no sedentarismo político diário não se dá conta.
Abraços a todos.
Profo Adaécio Lopes
Chico Science, cantando “Todos estão surdos” de Roberto Carlos
Essa greve foi importante por muitos aspectos. Ficou entendido que os professores têm sim capacidade de fazer um movimento político, embora ainda tenha-se muito o que fazer nesse sentido, já que a participação poderia ser muito maior do que aquela que presenciamos.
Espero que tenha ficado claro para todos os professores, que nem o poder legislativo, nem o poder executivo e muito menos os nossos representantes sindicais atuais, que estão à frente da direção estadual, serão responsáveis por melhorias, mas que a luta efetiva e constante desta categoria será o único caminho para uma melhoria efetiva da educação e da qualificação profissional dos educadores.
Desde o início a direção estadual do Sinte/RN foi contra este movimento. Estive presente, de uma forma ou de outra, em todo o movimento grevista e posso afirmar a forma enviesada com que este sindicato defendeu e encaminhou suas teses. É vergonhoso para todos nós ver os dirigentes de uma instituição representativa de professores e funcionários da educação fazer o jogo do governo e amedrontar a categoria e com isso conduzir para o fim da greve. A partir deste momento todos os nossos esforços devem ser concentrados para extirpar do movimento sindical essas pessoas que não estão á altura de representar e de liderar o nosso movimento.
Parabéns a todos e todas que abraçaram esta causa e que como eu estão agora indignados com a forma como o sindicato conduziu o fim deste movimento. Espero que assim como eu, todos também tenham sentido o sangue correr mais depressa nas suas veias, a emoção de fazer parte de uma coletividade, como se por um instante não fossemos Adaécio, Joaquim, Maria ou Benedito, mas parte de algo maior que nos perpassa. E eu lhes garanto que isso tudo não foi em vão, nem aconteceu por acaso, as pessoas voltaram a ir às ruas, a questionar a forma como as coisas estão sendo encaminhadas nos quatro cantos do mundo.
Esse movimento nos permite perceber que as coisas já não estão assim tão bem nesse mundo que há muito tempo está entregue à sua própria sorte. Como passageiro de um móvel relativístico fui percebendo mediante esta greve, as alterações e as distorções ocorridas na sociabilidade dos humanos e muitas outras questões que me foram surgindo – coisas que se estando no sedentarismo político diário não se dá conta.
Abraços a todos.
Profo Adaécio Lopes
terça-feira, 19 de julho de 2011
SOBRE A GREVE E AS AMEAÇAS DO GOVERNO AOS FUNCIONÁRIOS DA EDUCAÇÃO
Saudações a todos.
Ontem estive presente em mais uma das assembléias do movimento grevista dos professores do estado do RN. Confesso que foi uma das situações que me fizeram confiar mais ainda no poder popular e na capacidade da coletividade, quando unida, em lutar e questionar. Como diria um amigo meu sociólogo, ninguém é tão bom como todos nós juntos.
Os representantes da categoria ali presente decidiram “só deixar o movimento no último pau-de-arara”, deixando bem claro que o “risco que corre o pau corre o machado” – estou transcrevendo fala dos colegas. Isso tudo que estou falando pode ser verificado por todos, afinal as assembléias vêm sendo transmitidas em tempo real pela internet. Para todos os presentes ficou claro que as ameaças do governo são infundadas, sendo uma tentativa de amedrontar a categoria. Todos nós sabemos que o governo estadual nunca teve muito interesse em dar aquilo que nos é devido em termos de direitos – não falo nem de melhorias no plano geral, falo de direitos nossos assegurados por leis estaduais que versam sobre o plano de carreira do funcionalismo estadual, que determinam as promoções e mudanças de nível e que há muito tempo processos nesse sentido estão parados.
Agora, sabemos também que o estado não tem, nem querendo, como da noite para o dia conseguir mobilizar seus funcionários, acostumados ao marasmo da burocracia pública para agora fazer todo o apanhado necessário a essa represália de corte de pontos e etc.. Até porque, a maioria dos diretores não está se curvando aos ditames do governo, não estão mandando os nomes. E sobre o fato de uma possível demissão em massa o advogado do Sinte/RN foi muito claro: “vocês gozam do direito de estabilidade, um direito constitucional, e ainda mais, vocês têm o direito de estar em greve, pois esta foi decretada abusiva, e não ilegal, como estão falando por ai. Portanto, sobre essa questão de demissão não se deveria nem sequer estar discutindo aqui”. Informou também que o Sinte recorreu na justiça da decisão do governo e deixou claro que vai a todas as instancias, inclusive ao Supremo Tribunal Federal.
Pois é meus amigos, quando eu dizia que os professores não estavam brincando o pessoal não acreditava. O governo na verdade está com medo das sanções com relação a ele sobre os prejuízos do ano letivo e por isso está atirando para todos os lados para ver se assusta os professores, mas o tiro está sim saindo pela culatra e a vitória é aquele lugar que nos espera depois do horizonte. E o movimento dos professores hoje é inclusive ponto gerador de discussão com relação ao judiciário e o executivo deste estado.
Coloquemos também que os estudantes estão do nosso lado. Mais de uma centena de estudantes da Escola Estadual Floriano Cavalcante, de Natal, estão acampados na governadoria em apoio aos professores e ao Movimento Levante do Elefante, em protesto ao governo Rosalba, como também alunos de outras escolas e alguns professores.
Portanto, meus camaradas, nós não temos de que ter medo, até porque sem salário nós já vivemos há muito tempo. E sobre o medo, esse nosso companheiro inseparável, devemos vencê-lo, pois nada adianta na vida ter vivido sem sentido, sem ter feito aquilo nós achamos correto e acreditamos. “Antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer; (...) antes que rompa o cordão de prata, e se despedace o corpo de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte” (ECLESIASTES, 12), nos sintamos vivos para lutar e resistir.
Um abraço a todos.
Adaécio Lopes
Ontem estive presente em mais uma das assembléias do movimento grevista dos professores do estado do RN. Confesso que foi uma das situações que me fizeram confiar mais ainda no poder popular e na capacidade da coletividade, quando unida, em lutar e questionar. Como diria um amigo meu sociólogo, ninguém é tão bom como todos nós juntos.
Os representantes da categoria ali presente decidiram “só deixar o movimento no último pau-de-arara”, deixando bem claro que o “risco que corre o pau corre o machado” – estou transcrevendo fala dos colegas. Isso tudo que estou falando pode ser verificado por todos, afinal as assembléias vêm sendo transmitidas em tempo real pela internet. Para todos os presentes ficou claro que as ameaças do governo são infundadas, sendo uma tentativa de amedrontar a categoria. Todos nós sabemos que o governo estadual nunca teve muito interesse em dar aquilo que nos é devido em termos de direitos – não falo nem de melhorias no plano geral, falo de direitos nossos assegurados por leis estaduais que versam sobre o plano de carreira do funcionalismo estadual, que determinam as promoções e mudanças de nível e que há muito tempo processos nesse sentido estão parados.
Agora, sabemos também que o estado não tem, nem querendo, como da noite para o dia conseguir mobilizar seus funcionários, acostumados ao marasmo da burocracia pública para agora fazer todo o apanhado necessário a essa represália de corte de pontos e etc.. Até porque, a maioria dos diretores não está se curvando aos ditames do governo, não estão mandando os nomes. E sobre o fato de uma possível demissão em massa o advogado do Sinte/RN foi muito claro: “vocês gozam do direito de estabilidade, um direito constitucional, e ainda mais, vocês têm o direito de estar em greve, pois esta foi decretada abusiva, e não ilegal, como estão falando por ai. Portanto, sobre essa questão de demissão não se deveria nem sequer estar discutindo aqui”. Informou também que o Sinte recorreu na justiça da decisão do governo e deixou claro que vai a todas as instancias, inclusive ao Supremo Tribunal Federal.
Pois é meus amigos, quando eu dizia que os professores não estavam brincando o pessoal não acreditava. O governo na verdade está com medo das sanções com relação a ele sobre os prejuízos do ano letivo e por isso está atirando para todos os lados para ver se assusta os professores, mas o tiro está sim saindo pela culatra e a vitória é aquele lugar que nos espera depois do horizonte. E o movimento dos professores hoje é inclusive ponto gerador de discussão com relação ao judiciário e o executivo deste estado.
Coloquemos também que os estudantes estão do nosso lado. Mais de uma centena de estudantes da Escola Estadual Floriano Cavalcante, de Natal, estão acampados na governadoria em apoio aos professores e ao Movimento Levante do Elefante, em protesto ao governo Rosalba, como também alunos de outras escolas e alguns professores.
Portanto, meus camaradas, nós não temos de que ter medo, até porque sem salário nós já vivemos há muito tempo. E sobre o medo, esse nosso companheiro inseparável, devemos vencê-lo, pois nada adianta na vida ter vivido sem sentido, sem ter feito aquilo nós achamos correto e acreditamos. “Antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer; (...) antes que rompa o cordão de prata, e se despedace o corpo de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte” (ECLESIASTES, 12), nos sintamos vivos para lutar e resistir.
Um abraço a todos.
Adaécio Lopes
domingo, 17 de julho de 2011
Deixe sua estrada em paz
DEIXE SUA ESTRADA EM PAZ
Deixe sua estrada em paz.
Deixe que cada instante se vá num ondular infinito.
Não tente resolver suas questões recorrendo ao arquivo,
Ele te sugará para sempre.
Pinte a aquarela de sua vida
Deixando em alto relevo os seus traços pessoais.
Não tenha medo da transfiguração que te libertará de si mesmo.
Nem da transfixação que te fará ver o outro lado da lua.
A partir do momento que se fixa num canto, numa persona
Inevitavelmente terás que empreender uma guerra
Terá que marcar seu território.
E essa é a maior de todas as escravizações.
Que havia antes do econômico?
A resposta para essa pergunta será uma resposta.
Tão prisioneira quanto a pergunta.
Será mais uma armadilha.
Vasculhará a história humana em busca de uma resposta.
E ela virá, mais o mistério, esse continuará lá, intocado.
Porque as coisas são.
Pois o mundo é, e nenhuma explicação o fará seu ser.
Só a poesia fará a conexão da vida com a morte.
Só ela lhe fará parte do todo.
Isso porque é a narrativa do instante.
Não lhe obriga ao futuro.
Resistir ao tempo sem ser tempo
Esse é o ponto daquele que é vivo na ilha da ilusão
Daquele que entende que o pássaro e seu ninho
Não é apenas uma demonstração do comportamento animal
Para alguns é possível viver na simulação como arte
Para outros é preciso ação.
Para alguns é possível viver duas vidas
Para outros nada substitui o salto na imensidão.
Adaécio Lopes
12/07/2011
Deixe sua estrada em paz.
Deixe que cada instante se vá num ondular infinito.
Não tente resolver suas questões recorrendo ao arquivo,
Ele te sugará para sempre.
Pinte a aquarela de sua vida
Deixando em alto relevo os seus traços pessoais.
Não tenha medo da transfiguração que te libertará de si mesmo.
Nem da transfixação que te fará ver o outro lado da lua.
A partir do momento que se fixa num canto, numa persona
Inevitavelmente terás que empreender uma guerra
Terá que marcar seu território.
E essa é a maior de todas as escravizações.
Que havia antes do econômico?
A resposta para essa pergunta será uma resposta.
Tão prisioneira quanto a pergunta.
Será mais uma armadilha.
Vasculhará a história humana em busca de uma resposta.
E ela virá, mais o mistério, esse continuará lá, intocado.
Porque as coisas são.
Pois o mundo é, e nenhuma explicação o fará seu ser.
Só a poesia fará a conexão da vida com a morte.
Só ela lhe fará parte do todo.
Isso porque é a narrativa do instante.
Não lhe obriga ao futuro.
Resistir ao tempo sem ser tempo
Esse é o ponto daquele que é vivo na ilha da ilusão
Daquele que entende que o pássaro e seu ninho
Não é apenas uma demonstração do comportamento animal
Para alguns é possível viver na simulação como arte
Para outros é preciso ação.
Para alguns é possível viver duas vidas
Para outros nada substitui o salto na imensidão.
Adaécio Lopes
12/07/2011
sábado, 9 de julho de 2011
Materialismo e culto à personalidade: questões a discutir
Mas aquela profecia, irritante como um mosquito, ficava ecoando na sua mente, até que Saturno, por fim, reconheceu-se também meio soturno:
- Será que uma vitória, nesse mundo, não pode ser nunca completa?
As 100 melhores histórias da mitologia
Aqui estou eu com meu banzo de fim de tarde e sem ninguém para conversar. Resolvo por isso me conectar a rede mundial de computadores, “entrar na internet”. Passando pelos blogs da nossa cidade Olho D’água (que nome lindo este da nossa cidade, pura poesia, realmente somos privilegiados) tomo contato com as discussões acerca das obras em curso no município, informações postadas inicialmente pelo meu amigo Hugo Freitas.
Eu pessoalmente acho que esta administração tem realizado muitas obras no nosso município. Isto é fato. E não posso negar também que serão úteis para a população. O ponto no qual quero me reportar não é este. Nem tampouco as questões que colocarei se dirigem a pessoas em específico, mas discorrem sobre mentalidades que permeiam a convivência social e humana neste início de século e desde muito tempo. Que se tenha isto muito claro. Se me reportar a alguém e até citar nomes será porque estes desenvolvem suas atividades sendo tributários destas mentalidades, não porque são os únicos ou os piores, como se fossem os demônios a ser excomungados, extirpados por nós os santinhos. Esse tipo de mentalidade é tão perigosa quanto a qual tecerei algumas críticas a seguir.
Por que somos tão fascinados por prédios, concreto, objetos e cacarecos os mais diversos, a ponto dessas coisas muitas vezes nem mesmo servirem para uso, ou significar mais pelo fetiche que desempenham do que pela suas reais utilidades a nossas necessidades? Isso se deve, pelo que podemos entender mediante os mais diversos estudos feitos por muitos outros humanos, ao nosso apego a tudo aquilo que é material. O materialismo, e principalmente a posse e a sociedade privada foram os grandes nortes do empreendimento da secularização moderna da qual somos produto. O simbólico, o poético, passou a ser coisa de quem não tem o que fazer ou é meio “ruim das ideias”.
Para os defensores do materialismo, mesmo que o faça de forma quase inconsciente, o que importa é ter cada vez mais, é construir cada vez mais, pois a única coisa que vale e que é importante é aquilo que eu posso pegar e possuir, dizer que é meu e de mais ninguém. Instaura-se assim uma mentalidade tacanha que quer sempre mais e mais, é o endeusamento da matéria, tido como resolução para as nossas agonias mais recônditas - deixadas de lado, colocadas debaixo do tapete, e que a toda hora mostram sua face mais macabra e devastadora, pois nós não conseguimos nos livrar de nós mesmos, por mais que tentemos. Temos que enfrentar os nossos demônios a cada instante é isso que o texto bíblico nos mostra, muitas vezes, de forma alegórica.
Logo, meus amigos, a questão não é se se construiu pouco ou se se construiu muito e etc.. O fato é que isto não é o mais importante, justamente no momento atual que vive o mundo. O que as pessoas estão necessitando é de sentido para suas vidas, desse componente simbólico, mítico, poético, ligado ao sonho, tribal, de união, que deixamos lá atrás. Precisamos investir no humano que nos constitui e não na matéria.
Nesse instante estou assistindo a homenagem que a Assembléia Legislativa do RN está prestando aos 50 anos da campanha “De pé no chão também se aprende a ler” idealizada aqui no estado e que contou com a participação decisiva do educador brasileiro Paulo Freire. Imagine se Djalma Maranhão o gestor na época tivesse preferido construir prédios bonitos e modernos para poder pensar no projeto? Tinha saído? Jamais. O sucesso do movimento se deu justamente à iniciativa popular. Humildemente os coordenadores do movimento foram aprender com os descendentes de indígenas e com pescadores como fariam para construir de forma barata galpões grandes e seguros para se ministrar as aulas. E esses povos ensinaram a eles como fazer as palhoças, como dobrar a palha para cobrir e etc.. Isso sim é cidadania, pois o cidadão é parte do processo. Essas práticas comunitárias são criadoras de pluralismo e não de egoísmo, este nefasto sentimento que se manifesta inevitavelmente quando está presente a posse e o materialismo. Precisamos de educação e de práticas que contemplem a pluralidade.
Um exemplo de egoísmo nós presenciamos no São João deste ano em Olho D’água, situação protagonizada pelo músico e compositor Dorgival Dantas. Para a grande maioria dos que estavam lá, a conclusão foi uma só (pelo menos para aqueles com os quais conversei, e que não foram poucos) sobre a fala do artista (parecia querer dizer): não importa o que tenha acontecido, não importa o que eu faça, vocês têm que me reverenciar, pois eu sou Dorgival, eu estou acima do bem e do mal. Eu sou um astro, e vocês o que são?
Diga-se de passagem, não é a primeira vez que este sanfoneiro que tem origens em Olho D’água demonstra sua faceta prepotente e arrogante: lembram de quando ele pediu uma reunião na Câmara Municipal para dizer que ele era a única solução para a cidade? Pois é. Ninguém questiona que ele galgou os degraus do sucesso. Mas meu caro Dorgival, nós não precisamos de herói, nós não acreditamos mais em herói. A cada instante está mais claro para as comunidades humanas – e daí as revoltas no mundo todo, contra os sistemas políticos e etc. – que o bem e o justo não são as únicas coisas de que os humanos são parte. Esse entendimento parece brotar do inconsciente coletivo das massas, contra governantes e demais representações, segundo alguns estudiosos.
Como também não agrada mais tanto essa noção de amor da qual você julga ser um representante e que declara tanto por nossa cidade – que, aliás, não tem a credibilidade que eu acho que pensa, basta perguntar aos habitantes. A noção de amor para muitos mudou. Se amo uma pessoa, por exemplo, não é porque acredite que ela me tem como seu motivo incondicional para existir, mas porque vejo que tem condições de enfrentar comigo as batalhas – sem perder a ternura jamais, é claro - tanto externas como internas, porque entendo neste instante, que é a pessoa certa para enfrentar ao meu lado, e vice-versa, a fatalidade que é a vida. O amor hoje é entendido mais como um processo, como vivência, do que como uma quimera, uma peça retórica de discurso.
Portanto meus amigos, o que precisamos de fato não é de materialismo e de culto à personalidade, mas de atenção. Tenhamos atenção, sejamos vigilantes, pois a humanidade parece sofrer de uma carência de atenção. As manifestações estão por toda parte justamente porque os representantes da sociedade seja no plano político, social, artístico e etc., não estão conectados, em ressonância, com o apelo das massas, e em contrapartida o povo passa a desconsiderar, com razão, tais representações. É nesse sentido que, à pergunta da epígrafe do inicio deste texto, feita pela figura mitológica Saturno, diria: não, felizmente a vitória nunca é completa! Sempre haverá algo a ser dito. Por isso gosto muito da colocação do pensador francês Michel Foucault:
"O discurso não é a vida: seu tempo não é o de vocês; nele, vocês não se reconciliarão com a morte; é possível que vocês tenham matado Deus sob o peso de tudo que disseram; mas não pensem que farão, com tudo o que vocês dizem, um homem que viverá mais que ele."
Sintam-se abraçados.
Adaécio Lopes
- Será que uma vitória, nesse mundo, não pode ser nunca completa?
As 100 melhores histórias da mitologia
Aqui estou eu com meu banzo de fim de tarde e sem ninguém para conversar. Resolvo por isso me conectar a rede mundial de computadores, “entrar na internet”. Passando pelos blogs da nossa cidade Olho D’água (que nome lindo este da nossa cidade, pura poesia, realmente somos privilegiados) tomo contato com as discussões acerca das obras em curso no município, informações postadas inicialmente pelo meu amigo Hugo Freitas.
Eu pessoalmente acho que esta administração tem realizado muitas obras no nosso município. Isto é fato. E não posso negar também que serão úteis para a população. O ponto no qual quero me reportar não é este. Nem tampouco as questões que colocarei se dirigem a pessoas em específico, mas discorrem sobre mentalidades que permeiam a convivência social e humana neste início de século e desde muito tempo. Que se tenha isto muito claro. Se me reportar a alguém e até citar nomes será porque estes desenvolvem suas atividades sendo tributários destas mentalidades, não porque são os únicos ou os piores, como se fossem os demônios a ser excomungados, extirpados por nós os santinhos. Esse tipo de mentalidade é tão perigosa quanto a qual tecerei algumas críticas a seguir.
Por que somos tão fascinados por prédios, concreto, objetos e cacarecos os mais diversos, a ponto dessas coisas muitas vezes nem mesmo servirem para uso, ou significar mais pelo fetiche que desempenham do que pela suas reais utilidades a nossas necessidades? Isso se deve, pelo que podemos entender mediante os mais diversos estudos feitos por muitos outros humanos, ao nosso apego a tudo aquilo que é material. O materialismo, e principalmente a posse e a sociedade privada foram os grandes nortes do empreendimento da secularização moderna da qual somos produto. O simbólico, o poético, passou a ser coisa de quem não tem o que fazer ou é meio “ruim das ideias”.
Para os defensores do materialismo, mesmo que o faça de forma quase inconsciente, o que importa é ter cada vez mais, é construir cada vez mais, pois a única coisa que vale e que é importante é aquilo que eu posso pegar e possuir, dizer que é meu e de mais ninguém. Instaura-se assim uma mentalidade tacanha que quer sempre mais e mais, é o endeusamento da matéria, tido como resolução para as nossas agonias mais recônditas - deixadas de lado, colocadas debaixo do tapete, e que a toda hora mostram sua face mais macabra e devastadora, pois nós não conseguimos nos livrar de nós mesmos, por mais que tentemos. Temos que enfrentar os nossos demônios a cada instante é isso que o texto bíblico nos mostra, muitas vezes, de forma alegórica.
Logo, meus amigos, a questão não é se se construiu pouco ou se se construiu muito e etc.. O fato é que isto não é o mais importante, justamente no momento atual que vive o mundo. O que as pessoas estão necessitando é de sentido para suas vidas, desse componente simbólico, mítico, poético, ligado ao sonho, tribal, de união, que deixamos lá atrás. Precisamos investir no humano que nos constitui e não na matéria.
Nesse instante estou assistindo a homenagem que a Assembléia Legislativa do RN está prestando aos 50 anos da campanha “De pé no chão também se aprende a ler” idealizada aqui no estado e que contou com a participação decisiva do educador brasileiro Paulo Freire. Imagine se Djalma Maranhão o gestor na época tivesse preferido construir prédios bonitos e modernos para poder pensar no projeto? Tinha saído? Jamais. O sucesso do movimento se deu justamente à iniciativa popular. Humildemente os coordenadores do movimento foram aprender com os descendentes de indígenas e com pescadores como fariam para construir de forma barata galpões grandes e seguros para se ministrar as aulas. E esses povos ensinaram a eles como fazer as palhoças, como dobrar a palha para cobrir e etc.. Isso sim é cidadania, pois o cidadão é parte do processo. Essas práticas comunitárias são criadoras de pluralismo e não de egoísmo, este nefasto sentimento que se manifesta inevitavelmente quando está presente a posse e o materialismo. Precisamos de educação e de práticas que contemplem a pluralidade.
Um exemplo de egoísmo nós presenciamos no São João deste ano em Olho D’água, situação protagonizada pelo músico e compositor Dorgival Dantas. Para a grande maioria dos que estavam lá, a conclusão foi uma só (pelo menos para aqueles com os quais conversei, e que não foram poucos) sobre a fala do artista (parecia querer dizer): não importa o que tenha acontecido, não importa o que eu faça, vocês têm que me reverenciar, pois eu sou Dorgival, eu estou acima do bem e do mal. Eu sou um astro, e vocês o que são?
Diga-se de passagem, não é a primeira vez que este sanfoneiro que tem origens em Olho D’água demonstra sua faceta prepotente e arrogante: lembram de quando ele pediu uma reunião na Câmara Municipal para dizer que ele era a única solução para a cidade? Pois é. Ninguém questiona que ele galgou os degraus do sucesso. Mas meu caro Dorgival, nós não precisamos de herói, nós não acreditamos mais em herói. A cada instante está mais claro para as comunidades humanas – e daí as revoltas no mundo todo, contra os sistemas políticos e etc. – que o bem e o justo não são as únicas coisas de que os humanos são parte. Esse entendimento parece brotar do inconsciente coletivo das massas, contra governantes e demais representações, segundo alguns estudiosos.
Como também não agrada mais tanto essa noção de amor da qual você julga ser um representante e que declara tanto por nossa cidade – que, aliás, não tem a credibilidade que eu acho que pensa, basta perguntar aos habitantes. A noção de amor para muitos mudou. Se amo uma pessoa, por exemplo, não é porque acredite que ela me tem como seu motivo incondicional para existir, mas porque vejo que tem condições de enfrentar comigo as batalhas – sem perder a ternura jamais, é claro - tanto externas como internas, porque entendo neste instante, que é a pessoa certa para enfrentar ao meu lado, e vice-versa, a fatalidade que é a vida. O amor hoje é entendido mais como um processo, como vivência, do que como uma quimera, uma peça retórica de discurso.
Portanto meus amigos, o que precisamos de fato não é de materialismo e de culto à personalidade, mas de atenção. Tenhamos atenção, sejamos vigilantes, pois a humanidade parece sofrer de uma carência de atenção. As manifestações estão por toda parte justamente porque os representantes da sociedade seja no plano político, social, artístico e etc., não estão conectados, em ressonância, com o apelo das massas, e em contrapartida o povo passa a desconsiderar, com razão, tais representações. É nesse sentido que, à pergunta da epígrafe do inicio deste texto, feita pela figura mitológica Saturno, diria: não, felizmente a vitória nunca é completa! Sempre haverá algo a ser dito. Por isso gosto muito da colocação do pensador francês Michel Foucault:
"O discurso não é a vida: seu tempo não é o de vocês; nele, vocês não se reconciliarão com a morte; é possível que vocês tenham matado Deus sob o peso de tudo que disseram; mas não pensem que farão, com tudo o que vocês dizem, um homem que viverá mais que ele."
Sintam-se abraçados.
Adaécio Lopes
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